O Bom Pastor:

Formação do Clero da Arquidiocese de Braga

31.7.06

Às segundas, um livro: exercícios espirituais


Começa-se com uma consideração fundamental (S. Inácio chama de "Princípio e fundamento"): para que finalidade Deus nos criou? A razão, iluminada pela fé, dá a resposta: o homem foi criado por Deus e para Deus. Todo o bem foi colocado à disposição do homem para que o auxilie a conseguir esta finalidade. Por isso, precisa o homem fazer disso um uso razoável. Precisamos assim adquirir liberdade de espírito e um perfeito controlo dos nossos instintos, por meio daquela que Inácio chama de "indiferença", que não é apatia, mas autocontrole e equilíbrio espiritual.

Feito isto, Inácio passa aos Exercícios verdadeiros, que ele divide em quatro semanas, entendidos come assuntos a tratar e não segundo o número dos dias.

São assim 4 etapas, que podemos lembrar com quatro tradicionais palavras latinas, cada qual expressa a finalidade.

Iª Semana (etapa): "Deformata reformare", eliminar da alma as deformações causadas pelo pecado. E’ um modo de se conhecer a si mesmo e a grave desordem criada pelo pecado na nossa vida, além do perigo de danação a que fomos expostos! Para não cair na desconfiança, Inácio faz-nos contemplar a imagem do Salvador Crucificado, morto para nos salvar da morte eterna.

IIª Semana (etapa): "Reformata conformare". Somos convidados a nos revestir do Cristo e de sua armadura. O homem "reformado" deve "se conformar" ao Cristo: pobre como ele; ardente de amor para o Pai e os irmãos. É o tempo da "reforma" ou da opção do estado de vida: como é que eu, na prática, preciso seguir Cristo?

IIIª Semana (etapa): "Conformata confirmare". Isto é, fortalecer os propósitos de adesão a Cristo,por meio da contemplação d' Aquele que foi obediente até a morte na cruz. O grito do Filho: "Pai, se for possível, afasta de mim este cálice", precisa continuamente de nos relembrar a segunda parte desta súplica: "Mas não a minha, mas a tua vontade seja feita". Nesta etapa nos confirmamos nas decisões tomadas.

IVª Semana (etapa): "Confirmata transformare". "Eu não morro: entro na vida", escreveu S. Teresa de Lisieux. E, de fato, a Igreja canta: "Vita mutatir, non tollitur", isto é, "a vida não é tirada com a morte, e sim transformada". A morte de Jesus na cruz coincidiu com o começo do Cristianismo. "Quem perde a sua vida por causa de mim, encontra-la-á", diz Jesus no Evangelho. E a vida do Ressuscitado é a esperança de quem faz os Exercícios nesta etapa final.

No fim dos Exercícios, S. Inácio propõe uma maravilhosa contemplação para alcançar o Amor puro de Deus (chamada "contemplatio ad amorem"). Com o pensamento volta-se à Criação e à Redenção, para descobrir como e quanto Deus nos ama! E a alma fica com um único desejo que se expressa na oração: "Oh Senhor, dá-me teu amor e a tua graça: e isso me basta!

Ad maiorem Dei gloriam



Biografia
Nascido possivelmente a 24 de Dezembro de 1491, recebeu o nome de Íñigo López e nasceu na localidade de Loiola (em castelhano Loyola, no atual município de Azpeitia (a cerca de vinte quilómetros a sudoeste de São Sebastião no País Basco.
Inácio foi o mais novo de treze irmãos e irmãs. O seu pai morreu quando Inácio tinha sete anos de idade. Em 1506, tornou-se pagem ao serviço de um familiar, Juan Velázquez de Cuellar, tesoureiro (contador mayor) do reinado de Castela. Como cortesão, levou uma vida leviana.
Em 1517, Inácio tornou-se guerreiro. Severamente ferido na batalha de Pamplona (20 de Maio de 1521), passou meses como inválido, no castelo de seu pai.

Fundação da Companhia de Jesus
A 15 de Agosto de 1534, ele e outros seis, fundaram a Companhia de Jesus na Igreja de Santa Maria, em Montmartre, "para efectuar trabalho missionário e de apoio hospitalar em Jerusalém, ou para ir aonde o papa quiser, sem questionar". Em 1537 viajaram até Itália para procurar a aprovação papal da sua ordem. O papa Paulo III concedeu-lhes uma recomendação e permitiu que fossem ordenados padres. Foram ordenado em Veneza pelo bispo de Arbe (24 de Junho).
Devotaram-se inicialmente a pregar e a obras de caridade em Itália. A guerra reatada entre o imperador, Veneza, o papa e os turcos seljúcidas, tornava qualquer viagem até Jerusalém pouco aconselhável.
Na companhia de Faber e Lainez, Inácio viajou até Roma em Outubro de 1538, para pedir ao papa a aprovação da nova ordem. A congregação de cardeais, deu parecer positivo à constituição apresentada, e em 27 de Setembro de 1540, o Papa Paulo III confirmou a ordem através da Bula "Regimini militantis Ecclesiae", que integra a "Fórmula do Instituto" onde está contida a legislação substancial da nova Ordem. O número dos seus membros foi no entanto limitado a 60. Esta limitação foi porém posteriormente abolida pela bula Injunctum nobis de 14 de Março de 1543.

30.7.06

Simpósio do Clero em Fátima: A união e cooperação fraterna entre os presbíteros como meio de edificação do Corpo de Cristo

“Os presbíteros elevados ao presbiterado pela ordenação, estão unidos, entre si numa fraternidade sacramental.”
Esta afirmação do n.º 8 da Presbyterorum Ordinis exprime não somente um dado comprovado pela experiência, mas uma exigência que encontra os seus motivos mais profundos e específicos na própria natureza do presbítero e do seu ministério. Esta verdade tão arraigada na Igreja actual e tão repetida em todas as instâncias (magisteriais, teológicas e pastorais) pode chegar a converter-se em mais um tópico, diante do qual nem se raciocina: dá-se por suposto, mas sem as maiores consequências operativas. Este artigo pretende ser apenas um alerta para que esta importante verdade generalizada não se fique em meras palavras, pois é preciso traduzi-la em atitudes concretas que, ao mesmo tempo que lhe dão realismo, servem de meio para a edificação do Corpo de Cristo neste dealbar do novo milénio.
A unidade e fraternidade, que os presbíteros são chamados a testemunhar, não serão compreendidas correctamente se as separarmos da missão a que são interpelados a viver. R. Blázquez diz que a comunhão sacerdotal “não é um conceito vago e impreciso ou uma espécie de sentimento de solidariedade sem concretização histórica; a comunhão é essencialmente uma realidade orgânica”. Daqui se depreende que não se trata de uma comunhão simplesmente psicológica ou jurídica, mas de comunhão sacramental que tem a sua origem no sacramento da Ordem, recebido pelo ministério do Bispo.
Fomos ordenados no seio de um presbitério. Na hora da nossa ordenação, depois do bispo, os padres presentes impuseram-nos as mãos. O nosso ministério é colegial, não sendo por isso possível responder às exigências da nossa missão sem uma actuação eclesial no seio do presbitério diocesano e em comunhão com a igreja diocesana. “Embora ocupados em diferentes obras, exercem o mesmo ministério sacerdotal em favor dos homens. Todos são enviados para cooperarem na obra comum, quer exerçam o ministério paroquial ou supra-paroquial, quer se dediquem à investigação científica ou ao ensino, quer se ocupem em trabalhos manuais compartilhando a sorte dos operários, onde isso pareça conveniente, quer realize qualquer outra obra apostólica orientada ao apostolado. Todos têm uma só finalidade, isto é, a edificação do corpo de Cristo que, especialmente em nossos dias requer múltiplas actividades e novas adaptações (…). Cada padre está unido aos outros por laços especiais de caridade apostólica, de ministério e fraternidade”.
A nossa unidade é de ordem sacramental, de ordem mística. Escolhidos por Cristo, somos um dom de Deus à sua Igreja e aos nossos irmãos padres. E isto tem consequências na compreensão do ministério sacerdotal: ele é dom de Deus à Igreja, não somos donos dele.
O facto de não nos sentirmos proprietários do ministério deve fomentar em cada sacerdote a vontade de viver com mais intensidade a comunhão, que também se realiza quando o padre vive a unidade e fraternidade com os outros presbíteros. Esta comunhão é um contributo e um auxílio para a nova evangelização em duas direcções diversas e complementares: a testemunhal (“para que o mundo acredite” Jo 17, 21) e a de eficácia (“todo o reino dividido será devastado e cairá casa sobre casa…” Lc 11, 17-18). É verdade, no dizer de João Paulo II, que a nova evangelização está destinada à formação de comunidades eclesiais maduras, isto é, comunidades capazes de dar um testemunho válido de Jesus Cristo salvador de todos os homens e do homem todo, e de ser fermento eficaz na criação de um mundo destinado a converter-se numa única e grande família; é óbvio que os ministros ordenados devem ser os principais impulsionadores desta comunhão eclesial. Manter hoje uma concepção de compartimentos estanques, isolados e indiferentes na Igreja é ir contra a história e fomentar o fracasso do sério compromisso da nova evangelização. Cabe aos sacerdotes, obreiros indispensáveis desta missão da Igreja, dar o exemplo na vivência da unidade e fraternidade com os irmãos.
Neste processo evangelizador a Eucaristia surge como alicerce estruturante da vivência correcta e sã da fraternidade sacerdotal. De facto, ao ser o centro da vida do sacerdote, ela deve ser também muito especialmente expressão e compromisso para o presbítero construir incansavelmente a comunhão, também com os outros padres, respeitando as suas diferenças. Ou seja, a Eucaristia promove a unidade na diversidade. Deste modo, pode-se afirmar que o padre é antes de mais e principalmente «o homem da comunhão». Este é o objectivo central e primeiro do seu ministério: a partir dela se entende, se justifica e se orienta o tríplice múnus que Jesus lhe confiou: ensinar, santificar e reger pastoralmente a Igreja. A celebração diária da eucaristia é escola de unidade e fraternidade porque interpela plenamente cada ministro na construção da verdadeira Igreja de Jesus Cristo.
É nesta escola que os presbíteros podem aprender a viver a comunhão em profundidade e autenticidade. Esta compreensão da comunhão permite-nos concluir mais claramente que a relação entre os presbíteros dentro do presbitério nunca deveria deixar de sublinhar o aspecto sacramental, só posteriormente é que é referida a sua concretização em formas de amizade, de colaboração, de solidariedade, de partilha e responsabilidade comum. Este carácter sacramental confere à unidade e cooperação uma dimensão também sobrenatural, de forma que a fraternidade sacerdotal aconteça pelo simples facto do outro ser membro do presbitério. O presbitério não é um clube de amigos, mas um grupo de discípulos empenhados na construção do Reino, sob o impulso do Espírito. O discipulado e a missão são os alicerces da nossa vida fraterna, da nossa família espiritual. A falta desta fraternidade pode levar alguns a não se sentirem inseridos e encantados nesta construção do reino de Cristo, inclusive pode algum desertar ou isolar-se. E se “um cristão isolado é um cristão em perigo”, um padre demasiadamente só, que não seja apoiado pelos seus colegas sacerdotes, é também um padre em perigo. Não podemos ficar indiferentes aos que se isolam. Urge ir ao encontro daqueles que “não se sentam à mesa das nossas actividades e vida e parecem não querer ‘levantar a taça’ da alegria do dom sacerdotal”.
A vida é tudo menos facilidade, e um grande desafio que se coloca à Igreja é encontrar formas ajustadas para uma melhor vivência em presbitério. Urge que a Igreja enfrente este desafio com esperança. Esta é crucial para que nasçam novos modos e formas de estar em presbitério. Aqui, não pode haver lugar para pessimismos, que vêem uma dificuldade em cada oportunidade; temos que ser optimistas, vendo uma oportunidade em cada dificuldade. Hoje a concretização da vivência em presbitério pode assumir formas novas de vida, principalmente as experiências da vida comunitária. A situação de isolamento, de desmotivação, de desencorajamento, de enclausuramento no ministério presbíteral é denunciada um pouco por todos. Ora, antes da solidão atingir e afectar profundamente a vida de um sacerdote a ponto de o impedir de agir na caridade, devem procurar-se caminhos alternativos para que tal não suceda. Assim, são necessárias quer a criação de formas de fraternidade entre padres, quer uma reforma das estruturas. É desta forma que se abrirão condições objectivas para que o padre possa sustentar as crescentes dificuldades, que não deve ser imposta, mas favorecida com decisão. “É um banco de prova: ou os padres estão em grau de viver o valor evangélico da fraternidade ou os seus discursos sobre espiritualidade cristã são parciais e aleatórios.”
É obvio que o presbitério não é nem uma comunidade cristã, nem uma congregação religiosa. No entanto, o sacramento recebido cria uma fraternidade evangélica de grande profundidade espiritual. Para se conseguir alcançar essa fraternidade entre os sacerdotes é fundamental nunca esquecer o seguinte: o seminário ser escola de comunhão; a pastoral procurar fomentar essa unidade; e cada sacerdote comprometer-se nessa causa. A fraternidade e cooperação presbiteral inicia-se no seminário mas tem de continuar ao longo de toda a vida.
O seminário há-de ser essa escola que educa para o respeito pelas diferenças e para a unidade plural e nunca para a uniformidade. Trata-se de uma fraternidade que respeita profundamente a liberdade de cada um, bem como as suas diferenças. Mas como lugar de aprendizagem não pode deixar de ser “presbitério em gestação”.
Uma nova cultura de unidade presbiteral há-de ser alimentada e concretizada pelas novas gerações de sacerdotes. Eles serão os primeiros e principais beneficiários dessa cultura, como forma de reestruturar o paradigma da vivência presbiteral. Face às novas exigências pastorais, a abertura à fraternidade entre pares é realidade a fomentar e potenciar.
A proposta do seminário para a formação de um presbitério coeso e fraterno necessita de ser continuada. No Seminário não se esgota toda a formação acerca da edificação do Corpo de Cristo. Por isso, ao longo de toda a vida sacerdotal é necessário fomentar uma grande união entre os padres diocesanos, através de encontros regulares onde possam estar juntos: rezar, conviver e partilhar as suas inquietações. Talvez as nossas reuniões diocesanas e arciprestais sejam muitas vezes absorvidas pela organização de actividades pastorais e não dão o tempo suficiente a esta experiência humana original que é a participação no presbitério.
No presbitério que formamos todos somos chamados a testemunhar cada vez com mais vigor a unidade e cooperação fraterna. Por isso, todos nos temos de comprometer em construir comunidade presbiteral. Nunca encontraremos o presbitério ideal. Muitas vezes o nosso ideal, impede-nos de aceitar a realidade. O Espírito de Deus não sopra no solo, mas no coração da realidade das pessoas. Deus colocou-nos juntos para nos ajudarmos a crescer no seu conhecimento, no seu amor e no seu serviço aos irmãos. Como escreveu o padre Chevrier: “A verdadeira unidade nasce da comunhão com um mesmo espírito, um mesmo pensamento, um mesmo amor, cujo centro é Jesus Cristo, pelo Espírito Santo. Permaneçam em mim e Eu em vocês, que estejamos uns nos outros e que olhando para uns se veja os outros: assim está formada a verdadeira família, a verdadeira comunidade, a verdadeira união; os mesmos pensamentos, os mesmos pontos de vista, as mesmas inspirações em Jesus Cristo.”
Ciente que poderíamos ter enveredado a nossa breve reflexão por outros caminhos, limitei-me, a partir de uma compreensão correcta de comunhão, a alertar para a importância da unidade e fraternidade dos padres entre si. Este é um caminho visível da edificação do Corpo de Cristo. Às vezes no nosso ministério de sacerdotes limitamo-nos a fazer o que é urgente e esquecemos o que é importante: a unidade e fraternidade dos padres. Eis porque devemos discernir constantemente entre o urgente e o importante, para que o nosso ministério não se reduza ao cumprimento habitual de tarefas urgentes; mas tenha a densidade e a simplicidade do amor, que vê o essencial.
Termino com um decálogo sobre a forma da vida sacerdotal. Nele, os autores Breuning e Hemnerle, querem sublinhar que a unidade e fraternidade sacerdotal são provocação para aquilo que é importante na vida dos sacerdotes.



1. É mais importante o modo como vivo, enquanto padre, do que aquilo que faço como padre;
2. É mais importante o que Cristo faz em mim, do que aquilo que eu próprio faço;
3. É mais importante viver a unidade no presbitério do que entregar-me sozinho a uma tarefa;
4. É mais importante o serviço da Oração e da Palavra, que o serviço das mesas;
5. É mais importante acompanhar espiritualmente os colaboradores do que fazer, por si só, todo o trabalho possível;
6. É mais importante estar sem reservas nalguns pontos do que estar à pressa e a meias em todos;
7. É mais importante actuar em unidade, que actuar na perfeição, mas isoladamente. Portanto, é mais importante a colaboração do que o trabalho, a comunhão do que a acção;
8. É mais importe, porque mais fecunda, a cruz do que a eficácia;
9. É mais importante a abertura à totalidade (comunidade, diocese Igreja Universal) do que o interesse particular, por muito importante que ele seja;
10. É mais importante dar testemunho de fé a todos do que satisfazer todos os compromissos habituais.

P. Vitor Novais
(Responsável pelo acompanhamento dos Padres mais novos
e pároco de St. Adrião e Brufe)

29.7.06

A propósito do Evangelho de Domingo, um livro...









SEIS MIL ANOS DE PÃO
Heinrich Eduard Jacob











Tradução: José M. Justo
587 páginas, Ano da Edição: 2003











O pão está ligado à civilização ocidental há seis mil anos – desde os Egípcios, que o inventaram –, embora a epopeia dos cereais busque alimento na humanidade há quase quinze mil anos.
A história do pão assenta fundamentalmente no trigo e no centeio. O pão, no sentido técnico da palavra, é uma descoberta química – uma prodigiosa e extraordinária descoberta química do homem. Porque o pão, que faz viver o homem, só pode sobreviver pela mão do homem.
Este livro compõe um impressionante retrato das mutações tecnológicas e culturais, políticas, sociais, económicas e psicológicas, onde o pão entrou enquanto personagem e autor vivo da história.

Seis Mil Anos de Pão publicou-se pela primeira vez nos Estados Unidos da América, em 1944. Heinrich Eduard Jacob começou a reunir materiais para este trabalho em 1920, mas a investigação só foi completada no exílio americano, depois de 1939. A versão alemã que serviu de base à presente edição viria a ser publicada apenas em 1954, com algumas alterações substanciais introduzidas pelo autor.


Correcção fraterna



A correcção fraterna parece cada vez mais arredada da nossa cultura. «Se o teu irmão te ofender, vai ter com ele e repreende-o a sós. Se te escutar, terás ganho o teu irmão». Nada mais distante dos nossos humilhantes e desapiedados juízos de valor. A correcção fraterna é a maturidade do amor. Aquilo que os padres da Igreja diziam: antes de corrigires o teu irmão carrega, antes de mais, e durante uma semana, os seus sapatos.

27.7.06

Um arquitecto, uma Igreja: Renzo Piano


Igreja do Santo Padre Pio, em San Giovanni Rotondo, Itália

A Igreja dos peregrinos do Padre Pio foi encomendada a Renzo Piano (arquitecto italiano de Génova nascido em 1937 com inúmeras e maravilhosas obras espalhadas pelos quatro cantos da terra) pela Província dos Frades Menores de Foggia. Foi construída em honra de São Padre Pio de Pietralcina e pode acomodar 6.500 pessoas sentadas e com espaço para mais de 30.000 pessoas fora. Está situada perto do Hospital fundado pelo padre Pio.

PRAZO DE INSCRIÇÕES PARA O SIMPÓSIO DO CLERO

SIMPÓSIO DO CLERO EM FÁTIMA
5 A 8 DE SETEMBRO

INCREVA-SE NA CÚRIA ARQUIDIOCESANA DE BRAGA
ATÉ 10 DE AGOSTO
PARTICIPE! NÃO FALTE!

26.7.06

Reflexão de Bento XVI sobre a paz, no domingo de oração pelo Médio oriente


Eu gostaria somente de oferecer umas breves palavras de meditação sobre a leitura que acabamos de escutar. Com o fundo da dramática situação do Oriente Médio, impressiona-nos a beleza da visão ilustrada pelo apóstolo Paulo (cf. Efésios 2, 13-18): Cristo é a nossa paz. Ele reconciliou uns e outros, judeus e pagãos, unindo-os em seu Corpo. Ele superou a inimizade com o seu Corpo, na Cruz. Com sua morte, superou a inimizade e uniu todos em sua paz.

No entanto, mais que a beleza dessa visão, o que nos impressiona é o contraste com a realidade que vivemos e vemos. E, em um primeiro momento, não podemos fazer outra coisa senão perguntar ao Senhor: «Mas, Senhor, o que é que teu apóstolo está nos dizendo: “Foram reconciliados”?» Na verdade, nós vemos que não estão reconciliados... Ainda há guerras entre cristãos, muçulmanos, judeus; e outros fomentam a guerra, e tudo continua repleto de inimizade, de violência. Onde está a eficácia do teu sacrifício? Onde está, na história, esta paz da qual o teu apóstolo nos fala?

Nós, os homens, não podemos resolver o mistério da história, o mistério da liberdade humana que diz «não» à paz de Deus. Não podemos resolver todo o mistério da relação entre Deus e o homem, de sua ação e de nossa resposta. Temos de aceitar o mistério. No entanto, há elementos de resposta que o Senhor nos oferece.

Um primeiro elemento é que essa reconciliação do Senhor, esse sacrifício seu, não foi ineficaz. Existe a grande realidade da comunhão da Igreja universal, de todos os povos, da rede da Comunhão eucarística, que transcende as fronteiras de culturas, de civilizações, de povos, de tempos. Existe essa comunhão, existem essas «ilhas de paz» no Corpo de Cristo. Existem. E existem forças de paz no mundo. Se contemplarmos a história, podemos ver os grandes santos da caridade que criaram «oásis» dessa paz de Deus no mundo, que acenderam novamente sua luz, e foram capazes de reconciliar e de criar de novo a paz. Existem os mártires que sofreram com Cristo, que deram esse testemunho da paz, do amor, que coloca um limite à violência.

E vendo que a realidade da paz existe, ainda que a outra realidade tenha permanecido, podemos aprofundar ainda mais na mensagem desta carta de São Paulo aos Efésios. O Senhor venceu na cruz. Ele não venceu com um novo império, com uma força mais poderosa que as outras, capaz de destruí-las; não venceu de uma maneira humana, como imaginamos, com um império mais forte que o outro. Ele venceu com um amor capaz de chegar até a morte. Esta é a nova maneira de vencer de Deus: à violência não opõe uma violência mais forte. À violência opõe precisamente o contrário: o amor até o final, sua Cruz. Esta é a maneira humilde de vencer de Deus: com seu amor -- e só assim é possível -- põe um limite à violência. Esta é uma maneira de vencer que nos parece muito lenta, mas é a verdadeira forma de vencer o mal, de vencer a violência, e temos que confiar nesta forma divina de vencer.

Confiar quer dizer entrar ativamente nesse amor divino, participar desse trabalho de pacificação, para estar em linha com o que o Senhor diz: «Bem-aventurados os pacificadores, os agentes de paz, porque eles são os filhos de Deus». Temos de levar, na medida das nossas possibilidades, nosso amor a todos os que sofrem, sabendo que o Juiz do Juízo Final se identifica com os que sofrem. Portanto, o que fazemos aos que sofrem, estamos fazendo ao Juiz Último da nossa vida. Isso é importante: neste momento, podemos levar sua vitória ao mundo, participando ativamente de sua caridade. Hoje, em um mundo multicultural e multirreligioso, muitos têm a tentação de dizer: «É melhor para a paz do mundo, entre as religiões, entre as culturas, não falar demais do específico do cristianismo, isto é, de Jesus, da Igreja, dos Sacramentos. Contentemo-nos com o que pode ser mais ou menos comum...». Mas não é verdade. Precisamente neste momento, momento de um grande abuso em nome de Deus, temos necessidade do Deus que vence na cruz, que não vence com a violência, senão com seu amor. Precisamente neste momento, temos necessidade do Rosto de Cristo para conhecer o verdadeiro rosto de Deus e para poder levar assim a reconciliação e a luz a este mundo. Por este motivo, junto com o amor, temos que levar também o testemunho desse Deus, da vitória de Deus, precisamente mediante a não-violência de sua Cruz.

Desta forma, voltamos ao ponto de partida. O que podemos fazer é dar testemunho do amor, testemunho da fé; e, sobretudo, elevar um grito a Deus: podemos rezar! Estamos certos de que nosso Pai escuta o grito de seus filhos. Na missa, ao preparar-nos para a santa Comunhão, para receber o Corpo de Cristo que nos une, pedimos com a Igreja: «Livrai-nos, Senhor, de todos os males, e concedei a paz em nossos dias». Que esta seja a nossa oração neste momento: «Livrai-nos de todos os males e dai-nos a paz». Não amanhã, ou depois de amanhã: dai-nos, Senhor, a paz hoje! Amém.

25.7.06

25 Julho: festa de S. Tiago, apóstolo

(Santiago de Compostela)
O nome do apóstolo Santiago
O nome Tiago deriva do latim Iacobus, por sua vez uma latinização do nome hebraico Jacob (aportuguesado em Jacó).
Com o decorrer do tempo, o nome evoluiu em diversas direcções consoante as línguas: manteve-se Jakob em alemão e noutras línguas nórdicas, James em inglês, Jacques em francês.
Na própria Espanha há diferenças substanciais: a oriente, tornou-se Jácome, Jaume ou Jaime (todas formas correntes no catalão), mas na faixa ocidental da Ibéria tornou-se simplesmente Iaco ou Iago, por queda da terminação -bus (entendida como uma desinência de dativo/ablativo plural em latim, quando na verdade não o era), e assim passou ao português, galego, leonês e castelhano.
Santo Iago, na pronúncia corrente, tornou-se Sant’Iago, originando-se a partir daí São Tiago, e o moderno antropónimo em português e castelhano. Para além disso, em castelhano, por uma falsa etimologia, Santiago derivou também para San Diego, originando assim também o nome Diogo.


Santiago na Bíblia
Segundo o Novo Testamento, Tiago era filho de Zebedeu e Salomé, e irmão do apóstolo São João Evangelista.
Tal como o seu pai e o irmão, era pescador no Mar da Galileia, onde trabalhava com André e Simão Pedro (Mateus, 4, 21-22, e Lucas, 5, 10). Tiago, Pedro e João seriam, de resto, os primeiros a abandonar tudo para seguirem Jesus como seus discípulos (Mateus, 17, 1 e 26, 37; Lucas, 8, 51), tendo sido dos seus mais próximos colaboradores, ao participarem na Transfiguração, na agonia de Cristo no Monte das Oliveiras.
Por fim, segundo Marcos (3, 17), Tiago e João são chamados por Jesus como «Boanerges», isto é, Filhos da Tempestade.
Tiago é depois citado por entre os testemunhos relativos à terceira aparição de Cristo após a sua morte e ressurreição, nas margens do lago de Tiberíades.
Pouco mais se sabe acerca sua vida, excepto que teria sido mandado decapitar por ordem de Herodes Agripa I, rei da Judeia, cerca do ano 44, em Jerusalém. É, aliás, o único apóstolo cuja morte vem narrada na Bíblia, nos Actos dos Apóstolos, 12, 1-2 («Ele (Herodes) fez perecer pelo fio da espada Tiago, irmão de João»).

24.7.06

Às segundas, um livro: «Le catholicisme au défi des cultures»


Uma volumosa obra do cardeal Paul Poupard, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura e do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-Religioso, recolhe o pensamento da Igreja sobre o diálogo com as culturas.

Editado na França por «Éditions de Paris», o livro «O Catolicismo frente ao desafio das culturas» («Le catholicisme au défi des cultures») é uma compilação de artigos e partes de livros do cardeal francês.

A Inspectora geral honorária de Educação Nacional na França, Isabelle Mourral, decidiu compilar os ensaios e dividi-los em sessões doutrinais e históricas.

São cinco partes, sendo a primeira sobre doutrina, seguida da história, os desafios atuais, textos sobre a Igreja de Roma reunidos sob o título «Sobre esta pedra construirei a minha Igreja», e um último bloco de perspectivas sobre o cristianismo na atualidade.

A primeira parte aborda a fé católica e o Concílio Vaticano II.

A segunda explica a história da França e sua relação com a Igreja, e se detém nos exemplos de santidade.

A fé cristã e o desafio da indiferença religiosa dão início à terceira parte, que estuda a inculturação da fé.

A quarta parte se refere ao Papa, ao Vaticano e a Roma.

A última reflecte sobre o cristianismo e o Terceiro Milénio.

Mourral, que é presidente de honra da Associação de Escritores Católicos na França, quis que esta antologia de 428 páginas (29 euros) apresentasse o pensamento do cardeal que começou o seu serviço à Santa Sé na Secretaria de Estado, para depois passar ao Instituto Católico de Paris e voltar a Roma, para converter-se em estreito colaborador de João Paulo II e de Bento XVI.

23.7.06

23 de Julho: A paz sem vencedor nem vencidos

(Ícone da Comunidade de Santo Egídio)

A paz sem vencedor e sem vencidos

Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
Que o tempo que nos deste seja um novo
Recomeço de esperança e de justiça.
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

Erguei o nosso ser à transparência
Para podermos ler melhor a vida
Para entendermos vosso mandamento
Para que venha a nós o vosso reino
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

Fazei Senhor que a paz seja de todos
Dai-nos a paz que nasce da verdade
Dai-nos a paz que nasce da justiça
Dai-nos a paz chamada liberdade
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

(Sophia de Mello Breyner Andresen, «Dual», 1972)

Simpósio do Clero em Fátima:Os vários tipos de associações ou movimentos como meios de realizar a comunhão, a fraternidade e a santidade sacerdotal

(Antoine Chevrier)

1. Associações e Movimentos…
A base legal ou jurídica sobre a qual assenta o direito de os sacerdotes criarem associações entre, por e para eles, encontra-se no cân. 278 Do Código de Direito Canónico. Reza assim:

§1 – “É direito dos clérigos seculares associar-se para finalidades conformes ao estado clerical”. §2 – “…dêem importância principalmente às associações que, tendo estatutos aprovados pela autoridade competente, por uma organização de vida adequada e convenientemente aprovada e pela ajuda fraterna, são de estímulo à santidade no exercício do ministério e favorecem a união dos clérigos entre si e com o Bispo”. §3 – “…abstenham-se de organizar ou participar de associações, cujo fim ou actividade não são compatíveis com as obrigações próprias do estado clerical, ou, que podem impedir o diligente desempenho do ofício a eles confiado…”.
Depois de várias considerações, o comentador diz: “Este direito de associação encontra-se limitado pelo que diz o cân. 287 §2”. (Da tradução oficial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – 1983).

É no Decreto sobre o ministério e a vida dos sacerdotes – Presbyterorum Ordinis, P.O., n.º 8, que se encontram resumidas as orientações sobre a matéria em causa. Sem ter a preocupação de citar o nome de qualquer associação ou movimento, por ali perpassa um determinado tipo de afirmações, através das quais, podemos identificar facilmente algumas delas… Assim:

— O que sobressai em primeiro lugar é o presbitério diocesano, uma espécie de grande associação a que se dá o nome de “fraternidade sacramental”. “Por isso – diz-se aí – é da máxima importância que todos os presbíteros, diocesanos ou religiosos, se ajudem mutuamente, para que sejam cooperadores da verdade. Cada membro do colégio presbiteral está unido aos outros por laços especiais de caridade apostólica, de ministério e de fraternidade. Embora ocupados em diferentes obras (…), formam um só presbitério, exercem o mesmo ministério sacerdotal a favor dos homens, são enviados para cooperarem na obra comum, têm todos uma só finalidade, isto é, a edificação do corpo de Cristo” (n.º cit.). E mais abaixo: “Cada presbítero se une, pois, com seus irmãos por vínculo de caridade, oração e o mínimo de cooperação, e assim, se manifesta aquela unidade na qual Cristo quis que os seus fossem consumados...” (ibidem).

— Quando se diz que “os mais idosos devem receber os mais novos como irmãos, ajudá-los nos seus primeiros empreendimentos e encargos do ministério, esforçar-se por compreender a sua mentalidade, embora diferente…”, pedindo também aos jovens que reverenciem a idade e a experiência dos mais velhos, se aconselhem com eles nas questões referentes à cura das almas, e colaborem de bom grado…”, podemos adivinhar aqui o espírito que deve reinar entre sacerdotes do mesmo arciprestado, da mesma zona pastoral, etc (ibidem).

— Do mesmo modo, fala-se de “espírito fraterno, de não se esquecer a hospitalidade, de cultivar a beneficência e a comunhão de bens com particular solicitude com os doentes, os atribulados, os que estão sobrecarregados de trabalho, os que vivem sós… Que se promova algum modo de vida comum, ou alguma convivência, que podem revestir determinadas formas (…)”. Isto, “sobretudo para que os presbíteros encontrem auxílio mútuo na vida espiritual e intelectual, para que mais facilmente possam cooperar no ministério e para se defenderem dos perigos da solidão que possa surgir” (ibidem). – Não se vislumbra nisto o espírito – e até a letra – dos objectivos que se propõem atingir a Fraternidade Sacerdotal e o IDAC com as suas várias vertentes?...

— Por fim, dois outros pontos são referenciados no texto, aparentemente simples mas importante:
. Um, a aconselhar que “se reúnam também espontaneamente e com alegria para descanso do espírito…”. – Supõe, creio eu, um tipo de grupos, pequenos mas unidos: pela proximidade, por idades, talvez pelo mesmo curso, por mentalidades semelhantes, amizade, etc. Faz-me lembrar o que ouvi – ou li – de D. António Marcelino, Bispo de Aveiro, quando, um dia, resolveu visitar um sacerdote. Ao chegar à residência paroquial, deu com a porta fechada e um pequeno aviso: “Saiu para descansar e rezar”.
. Outro, a lembrar a responsabilidade perante um problema delicado: a especial atenção que se deve ter “para com os que vivem em dificuldades, ou mesmo, pedindo para eles “auxílio oportuno, caridade fraterna, advertência discreta, preces a Deus…”, tratando-os sempre “como verdadeiros irmãos e amigos” (ibidem). – Aqui está um aspecto das relações no interior do presbitério em que, possivelmente, todos tenhamos falhado um pouco.

2. Uma experiência concreta – Padres do Prado

“A Associação dos Padres do Prado é um Instituto Secular Sacerdotal de direito pontifício, constituído por padres enraizados nas Igrejas particulares, como padres seculares, que aí partilham e estimulam o dinamismo missionário” (do Decreto da Aprovação). “É o fruto de uma graça concedida pelo Espírito Santo à Igreja na pessoa de Antoine Chevrier, padre da diocese de Lyon (França), para a evangelização dos pobres” (n.º 1 das Constituições).
Nascido a 16 de Abril de 1826 e ordenado em 1850, foi logo nomeado coadjutor da paróquia de Sto. André de la Guillotière, bairro industrial e operário da cidade. Três coisas aí o marcaram e fizeram sofrer muito: - a “miséria e ignorância” das pessoas, agravada pelas “inundações catastróficas” do Ródano em fins de Maio de 1856; - o “distanciamento do clero em relação às mesmas; - a sensação nítida de que a pastoral utilizada pela Igreja local não servia; - “Um pouco menos de devoção e um pouco mais de fé”, dizia.
Alguns meses depois, deu-se um acontecimento, que ele apelida de místico-apostólico. Conta ele: “foi em Santo André que o Prado nasceu. Foi meditando durante a noite de Natal de 1856 sobre a pobreza de Nosso Senhor e sobre a Sua descida para o meio dos Homens que resolvi deixar tudo e viver o mais pobremente possível… Foi o mistério da Incarnação que me converteu!... Então decidi-me a seguir Nosso Senhor Jesus Cristo de mais perto. E o meu desejo é que vós próprios sigais de perto Nosso Senhor”.
A. Chevrier estava convicto de que a “formação de sacerdotes e catequistas, consagrados à evangelização dos pobres, era a grande necessidade da sua época e da Igreja”. E para isso, só sacerdotes pobres estariam em condições de o fazer: “Sacerdotes despojados (Presépio), crucificados (Calvário) e comidos (Eucaristia)”.
Um Princípio Fundamental: conhecer Jesus Cristo é tudo!
Como meios para conhecer, seguir de perto e anunciar Jesus Cristo, essencialmente quatro:
a) Estudo do Evangelho: “Nenhum outro estudo deve ser preferido àquele, porque só este conhecimento nos pode fazer padres”. Daí, os pradosianos comprometem-se a consagrar muito tempo a estudar Jesus Cristo tal como se nos revela nas Sagradas Escrituras.
b) Releitura de vida - nossa e dos pobres – à luz do Evangelho: Somente um “olhar contemplativo” sobre a vida nos permite descobrir os “sinais” da presença e acção de Deus nela, a fim de nos deixarmos guiar pelo Espírito.
c) Vida de Equipa – Vida fraterna - : Como se disse atrás (P.O. n.º 8), esta vida de equipa pode revestir “diversas formas” como; “habitar juntos, onde isso seja possível, tomar as refeições em comum, ter reuniões frequentes e periódicas”, sair em conjunto, auxiliar-se mutuamente, etc. Esta “vida em equipa” não tira nada à nossa “pertença ao presbitério da diocese, nosso primeiro espaço de fraternidade”.
d) Seguir o Padre Chevrier como guia…: Aqui, vem a propósito falar dos seus escritos: o Verdadeiro Discípulo, livro essencial para conhecer o seu pensamento sobre o que deve ser um “padre segundo o Evangelho”; depois, as suas cartas, os Escritos Espirituais, etc.

Nota: António Chevrier foi beatificado em Lyon, no dia 4 de Outubro de 1986, tendo as Constituições Renovadas sido aprovadas por Roma um ano depois, em 7 de Junho de 1987.
Aquando da beatificação, João Paulo II deixou aos pradosianos quatro grandes orientações: “Ide ao encontro dos pobres para fazer deles verdadeiros discípulos de Jesus Cristo”; “Que o vosso sinal distintivo seja sempre a simplicidade e a pobreza”; “Falai de Jesus Cristo com a mesma intensidade de fé como o Padre Chevrier”; “Apoiai-vos sempre em Jesus Cristo e na Igreja”.

Avelino Cardoso (Padre pradosiano)

22.7.06

Maria Madalena: porque muito amou



(George De La Tour)

... muito lhe foi perdoado

21.7.06

23 de Julho: Dia de oração e penitência pela paz no Oriente Médio


(Rene Magritte)

O Santo Padre acompanha com grande preocupação o destino de todas as populações interessadas e convoca para o próximo domingo, 23 de julho, um dia especial de oração e penitência, convidando os pastores e os fiéis de todas as igrejas locais, assim como todos os crentes do mundo, a implorar de Deus o dom precioso da paz.

Em particular, o Sumo Pontífice deseja que se eleve a oração ao Senhor para que cessem imediatamente os ataques entre as partes, para que se instaurem imediatamente corredores humanitários para poder levar ajuda às populações que sofrem, e para que dêem início depois a negociações razoáveis e responsáveis, para pôr fim a situações objectivas de injustiça existentes naquela região, como já indicou o Papa Bento XVI no Ângelus do domingo passado, 16 de julho.

Na verdade, os libaneses têm o direito de que se respeite a integridade e a soberania do seu país, os israelitas têm o direito de viver em paz em seu Estado, e os palestinianos têm direito a uma pátria livre e soberana.

Neste momento doloroso, Sua Santidade dirige também um apelo às organizações caritativas, para que ajudem todas as populações afectadas por este desapiedado conflito.

Revista «Communio» na internet


A revista internacional católica de pensamento e cultura «Communio», cujos iniciais promotores foram os teólogos Joseph Ratzinger, Hans Urs von Balthasar e Henri de Lubac, desembarcou em sua edição espanhola na Internet no endereço http://www.communio.es.

O lançamento na Internet coincide com uma nova etapa na qual a publicação recupera a intenção de seus fundadores de ser instrumento para o diálogo entre fé e cultura.

Com periodicidade trimestral, esta publicação de alta divulgação se ocupa de teologia, humanismo e questões da atualidade.

A nova etapa da Revista é fruto da colaboração de duas instituições: de um lado, «Procommuinnio», que é uma associação civil sem fins lucrativos, encarregada da direção, redação e promoção da publicação; e, por outro lado, a editora «Encuentro», que tem a tarefa de edição, impressão, distribuição e venda de cada número.

O primeiro número de sua reaparição se abre com um adeus ao pensador Julián Marías, e entre seus colaboradores figuram Joseph Ratzinger, Maria Rosa de la Cierva e Ignacio Sánchez Cámara, entre outros.

Maiores informações em procommunio@communio.es

18.7.06

«A Um Pai espiritual», um poema em homenagem ao Senhor Arcebispo Primaz

Completam-se hoje 7 anos da tomada de posse do Senhor Arcebispo Primaz de Braga, Senhor Dom Jorge Ferreira da Costa Ortiga.



A um Pai espiritual

Ó forte lutador das armas brancas
que é do poder p'ra conquistar as almas
com essas armas feitas de orações?

Donde te veio —ó meu obreiro estranho?—
o excelso dom de penetrar nas almas
terra escolhida p'ra mansão divina?...

Ó delicado jardineiro d'almas:
— estas plantas mimosas que seriam,
se não fora o carinho maternal
do delicado jardineiro d'almas
que morre dia a dia p'ra que vivam?

Tu sabes respeitar em cada flor
as formas e os espinhos que elas têm...
A unção das tuas mãos faz rescender
esse perfume que elas dão tão doce
e é presença de Deus em nossas almas...

Ó gerador da nossa vida mística!
Que mais carinhos tinham nossas mães?!
Fez Deus Nosso Senhor do Sacerdote
um não sei quê que o torna mãe das almas
para que as dê, em Deus, de novo à Luz...

A vida interior! que delicado drama!
Sobre abismos de dor e de miséria
um abismo d'Amor, excelso, infindo...
maré alta de trevas e secura,
maré baixa de calma interior...

Criatura que busca o Criador,
criança ao irmão mais velho e filho ao Pai;
alma-noiva que busca seu Esposo,
cego que busca a Luz, a tatear...
—Saudade de Deus,— que é Deus oculto...

A vida interior! que delicado drama!...

...À luz da nossa fé, a Cruz é um berço
que nos embala em doces amarguras...
E o homem liberto de si mesmo
abandona-se a Deus, cego d'amor,
tal como outrora ao seio maternal...

Ó gerador da nossa vida mística!
Donde te veio o dom estranho e excelso,
de dar almas à luz imarcescível?...

[Frei Bernardo de Vasconcelos, «Cântico de Amor», ed. Ora et Labora, 1982]

17.7.06

Às segundas, um livro: «Os Imperdoáveis»



«Cristina Campo acostava-se à linguagem como o crente ao texto sagrado» (Georgio Manganelli)

O seu nome era Vittoria Guerrini, mas escolheu um outro: Cristina Campo. Cristina de «portadora de Cristo». E Campo, numa referência aos campos de concentração («campos de dor», como ela, a dada altura, escreve). Nasceu em Bolonha, em 1923, e está lá sepultada (a sua morte ocorreu em 1977). Traduziu e comentou textos da Bíblia e T.E. Lawrence, Holderlin, Santo Efrém e Homero, T.S. Eliot, velhos missais orientais e contos maravilhosos, Emily Dickinson, Djuna Barnes, Simone Weil, os Padres do Deserto, Marcel Proust e São João da Cruz, entre outros.

"[...] Talvez alguns se perguntem como é que este livro, difícil de catalogar, mas que a ser alguma coisa é no campo da literatura, surge a encabeçar uma colecção de escritos teológicos. Uma resposta elíptica é que a experiência poética e a religiosa se inscrevem no território comum da linguagem, e que tanto numa como noutra se busca aquilo que Campo chamava "o sabor máximo de cada palavra". Uma resposta detalhada seria confrontar o percurso de Cristina Campo com aqueles que dão o catolicismo como esgotado em termos da sua inscrição na cultura, e que já nem lhe reconhecem a possibilidade criativa de gerador de sentidos."

[José Tolentino de Mendonça - Quando a alma se move no seu sangue : Simone Weil e Cristina Campo [prefácio do livro de Cristina Campo Os Imperdoáveis. Lisboa : Assírio & Alvim, 2005]

16.7.06

Simpósio do Clero em Fátima: Ordenações — Festa



O tema da “Composição” tinha a idade dos dinossauros: “O que queres ser quando fores grande?!”. Por entre futuríveis médicos, enfermeiras, cabeleireiras, engenheiros, bombeiros, aviadores, destoou o Manuel, que timidamente expressou o desejo de ser padre. Os colegas riram-se. A professora, devota, aplacou as ironias e encontrou tema de confidência com o Senhor Abade.
Este também já tinha pensado no assunto, dada a assiduidade do rapaz à missa, sempre colaborante, hábil no manejo das galhetas, apesar de, por vezes, em plena celebração, o ver aos “penicões” e “peguilhado” com o filho do Custódio.
“Então, Manel, ouvi dizer que queres ir para o Seminário?” – inquiriu o pároco no domingo seguinte à conversa com a mestra. O rapaz corou, acabou por anuir, sentiu-se abalroado pelo entusiasmo do reverendo e aceitou a oferta: o próprio Senhor Abade iria conversar com os pais dele.
Bem, a ideia não lhes desagradava de todo. Mas ver o filho partir… E será que vai dar um bom padre?! E como suportar as despesas?! E que dirão os da terra se ele não chegar ao fim?! - Mas se é desejo do rapaz, deixá-lo lá ir. E pelo bem de um filho, os esforços são como as rosas: picam os dedos, mas exalam uma bela fragrância.
No Anuário do Seminário, em foto bem fresca, muito bem apessoado, com a gravatinha alinhada, lá aparece, por entre os alunos do 7º ano, o Manuel. E nele se cravam os esperançosos olhares dos pais e restante família, da paróquia (há quanto tempo não dava um padre à Igreja…), da Equipa Formadora (quem dera que o rapaz se não perca… temos que o motivar… há que cuidar do espírito… o empenho no estudo é essencial… as boas maneiras impõem correcções no falar, no vestir, no modo de estar à mesa…), do Bispo (na última visita ao Seminário quis saber quem ele era, donde vinha, em que ano andava…), da Igreja (então, entraram muitos este ano para o Seminário Menor?! E que tal, são bons moços?! O futuro será risonho?!...). Os anos foram passando. Com êxitos e fracassos. Com momentos de pulmões cheios, e outros de coração mirrado. Com tempos de certeza quase absoluta, e outros polvilhados de interrogações. Com etapas norteadas por um forte ideal, e outras perdidas num labirinto de solicitações e hipóteses. Com dias de levar o mundo à frente, e outros de nem sequer querer ver o mundo pela frente.
Só que por entre as turbulências e as certezas, por entre as inconstâncias e os ideais, O Manuel foi cumprindo, no Seminário, na paróquia, nos estudos, em casa, no convívio com os colegas – estes sempre solícitos a questioná-lo, eternamente preocupados com a questão do celibato…
Entretanto, o Manuel foi percebendo que barco que não tem rumo nunca tem ventos favoráveis. Que Deus não nos quis (nem quer) terráqueos de asas partidas. Que só vale a pena viver quando fazemos com que a vida valha a pena. Que só um ideal, nobre, abraçado a sério, nos arrebata à rotina e à mesquinhez.
E mesmo nos momentos de tanto ruído, de tantos ruídos, ele nunca deixou de ouvir uma voz suave, interior e inquietante: “Vem, e segue-Me”; “A Messe é grande, mas os trabalhadores são poucos”; “O maior amigo é aquele que dá a vida…”; “Deus precisa de ti…”.
Decidiu-se!
E o Abade não cabe em si de contente, agora a mobilizar a paróquia para o grande acontecimento da Ordenação.
Curioso: desta vez parece que até não precisa de se esforçar muito. O povo está todo orgulhoso por ver um dos seus, o filho da Ti Joaquina e do Aníbal, a atingir a meta. Alguns até já vêem mais longe e começam a estar preocupados com o tapete de flores, com os arcos a colocar na Avenida da Igreja, com as mesas, os talheres e, claro, com tudo aquilo que impede que o estômago se aproxime perigosamente das costas.
E o terceiro Domingo de Julho acaba por chegar. Os carros, muitos, desafiam a montanha do Sameiro. Eis a hora: de os responsáveis da Igreja Diocesana abraçarem um novo filho no sacerdócio e um colaborar na construção do Reino; de os familiares sentirem a recompensa de tanto investimento, tanto carinho, tanta expectativa suada; de o pároco ajudar o “ex-seminarista” a paramentar-se, num gesto cúmplice que se legenda com afecto e continuidade; de os colegas no sacerdócio sussurrarem um sentido “parabéns” e “bem-vindo ao clube”; de o povo dizer: apreciamos a tua coragem, o teu altruísmo, o teu amor a Cristo e a esta Igreja que somos; de o ordinando de sentir amado, por Deus e pelo Seu povo, e de se sentir responsável “pelas rosas que cativou”.
Recebendo as felicitações do povo de Deus, o novo sacerdote percebe: está aqui o sentido de toda a minha vida. E o sentido é este: amar o povo de Deus, porque amo a Deus; testemunhar o amor que tenho a Deus, amando o Seu povo. A partir de agora, mãos à obra. Fazendo da Eucaristia o centro da minha vida. E percebendo a eterna lição da Quinta-feira santa: a verdadeira grandeza passeia-se sempre… de toalha à cintura!


Paulo Abreu
Reitor do Seminário Conciliar de Braga

15.7.06

Aos Sábados, um filme: Andre Rublev



Título Original: Andrei Rublev - Rússia 1966

Atores: Anatoli Solonitsyn, Ivan Lapikov, Nikolai Grinko, Nikolai Sergeev, Irma Rauch, Nikolai Burlyaev.

Diretor: Andrei Tarkovski

Sinopse: Andrei Rublev foi um pintor de ícones da Rússia do início do século XV. Encarregado de pintar as paredes da Catedral da Anunciação, no Kremlin. Ele trabalha sob a direção do mestre grego Teófanes. Este, é atormentado pela crueldade da época, que atribui a ira do Céu, enquanto que Rublev acredita no livre arbítrio. Esta obra-prima desigual do cinema russo, com uma elevação espiritual e sentido plástico deslumbrante, mostrou ao mundo, um jovem e promissor cineasta, Andrei Tarkovsky. ANDREI RUBLEV ficou censurado pelas autoridades da ex-União Soviética durante anos por questionar o enfoque dado por Tarkovski.

A propósito de Rembrandt, um livro de Nouwen



A famosa parábola do filho pródigo, devido à sua riqueza simbólica, pode ser instrumento de expressão da nossa condição humana. Na verdade, o pai ao receber misericordiosamente o filho perdido, que tinha gasto levianamente a sua parte da herança, ensombrando, deste modo, a alma do filho mais velho, é referência clara para que reflictamos sobre o que, na realidade, somos e deveremos ser.
Um primeiro olhar para o famoso quadro de Rembrandt foi o ponto de partida para uma aventura espiritual e para a verdadeira descoberta do sentido do eu. O conhecido sacerdote e escritor de espiritualidade Henri Nouwen abre-nos a porta do seu coração, numa meditação apoiada neste quadro e no seu conteúdo. O livro aborda as três fases por que passou o autor: primeiro, como filho mais novo, depois, como filho mais velho, e, por último, como pai.
Esta obra é uma óptima ajuda para percebermos, através da parábola e do respectivo quadro, que, o ser filho, nas suas duas formas, não é a nossa vocação como cristãos nem deverá ser o nosso objectivo, mas antes o sermos pais, compassivos, misericordiosos, fortes e sempre prontos a recebermos os outros de braços abertos. Leiam o livro, pois é verdadeiramente bom, com recheio rico e forma simples.

in Blogue Lazer Cristão (http://lazer-cristao.blogspot.com/2006/03/leitura-o-regresso-do-filho-prdigo.html)

400 anos do nascimento de Rembrandt



Rembrandt, «Self Portrait» 1629

Rembrandt Hermans van Rijn (15 de julho de 1606, Leiden — 4 de outubro de 1669, Amsterdam) foi um pintor e gravador holandês inserido no contexto do Barroco.

Rembrandt Hermans van Rijn poderia ter sido um personagem de uma peça trágica, tamanha foi a distância entre o auge de seu sucesso e o mais fundo de seu declínio. Talvez justamente por essa variação tão violenta ele tenha sido a própria personificação do espírito do Barroco. Mas Rembrandt foi um grande pintor.

Não são raros, na História da Arte, os artistas que passam a vida incompreendidos por seus contemporâneos e morrem no esquecimento e pobreza, mas cuja obra será reconhecida e valorizada séculos mais tarde. Rembrandt não foi um deles. Nasceu de uma humilde família de um moleiro, alcançou fama e fortuna e acabou por perdê-las, em parte devido à sua própria inaptidão para os negócios, em outra parte devido à sua rebeldia e má relação para com os clientes que lhe encomendavam quadros.

A família de Rembrandt só possuía um moinho, à beira do rio Reno (em neerlandês Rijn). Seus quatro irmãos mais velhos trabalhavam na moenda dos grãos, e foi com muito custo que o pai do menino pôde aceitar a vocação artística do filho e, juntando economias com muito sacrifício, pagar-lhe uma escola de artes em Leiden, Holanda do Sul – por apenas nove meses.

Mas ele tem a sorte de conhecer Jakob van Swanenburch, que não permite que ele largue os estudos e a prática da pintura. É esse o primeiro mestre que Rembrandt tem e que lhe passa os primeiros ensinamentos: traços de desenho, como misturar tintas, montar as telas etc. É ele também quem o encoraja a ir a Amsterdam.

14.7.06

Um arquitecto, uma Igreja



Richard Meier
Igreja «Dives in Misericordia», Roma, Tor Tre Vergate, 2003

Richard Meier (12 de Outubro de 1934; Newark, New Jersey) é um arquitecto dos Estados Unidos da América. Em 1984 recebeu o prémio Pritzker, é o prémio mais conceituado de Arquitectura.

12.7.06

A decepção como forma de elegância


«A decepção também é uma maneira de reflectir sobre o objecto que se observa. A decepção não é uma novidade, sempre existiu. Por exemplo na época de Cervantes, o 'Dom Quixote'... Ou se pegar na maior decepção que é a história do príncipe da Dinamarca, o sr Hamlet... 'Othello' também é a decepção permanente. As obras de Proust são de uma tristeza irredimível. Já para não falar da literatura russa...
A decepção é uma chave que abre perspectiva sobre as coisas, e se as conseguirmos comunicar, se conseguirmos reflectir com o espectador imaginado para quem fazemos o filme, nem tudo está perdido. Mesmo Fritz Lang, quando foi para a América e deixou para trás a Alemanha e aquele regime abominável, continuou a filmar com a esperança de que um dia as coisas renascessem. Os seres humanos são como a Fénix, renascem das cinzas. Isso que diz da decepção é verdade, mas ao mesmo tempo há um sentimento de partilha, a noção de que há alguém do outro lado. As obras de Gogol são um pesadelo, como as 'Almas Mortas'; mas são dirigidas a alguém que ainda não é um monstro. Esta partilha introduz o optimismo em qualquer obra. O que detesto é que a decepção deixe de ser uma forma de elegância, como em certos filmes que se limitam a ser desagradáveis. E aí é que já não há esperança, nem ninguém com quem falar».

in Y, Suplemento do Publico, entrevista ao cineasta georgiano Otar Iosseliani (n. 1934) que esteve presente em Lisboa, na Cinemateca, na abertura da retrospectiva da sua obra. Filmou na Geórgia, durante a vigência da URSS, até aos anos 70. Depois foi para França, na década de 80.

Uma grande luz que nunca se apaga



(Agnes Martin)

Num pequeno livro de «ditos e factos» dos monges do deserto lia a saudação de dois amigos. «Sê bem vindo, Estrela mensageira do dia que nasce», diz um. «Paz a ti, Coluna de luz que sustém o universo», responde o outro. Uma saudação que revela a santidade de dois corações. Um dos maiores sinais da presença do Espírito na vida humana é a atenção, a delicadeza em reconhecer que dentro de nós existe uma grande luz capaz de sustentar todo o Universo.

11.7.06

Congresso Internacional sobre a Familia



«A família está submetida a uma crise sem precedentes», afirmam as conclusões do Congresso Teológico-Pastoral sobre a transmissão da fé em família, no contexto do V Encontro Mundial das Famílias.

Com a leitura de um documento de oito páginas de conclusões, o cardeal Alfonso López Trujillo, presidente do Pontifício Conselho para a Família, encerrou sexta-feira passada este encontro que convocou em Valência cerca de dez mil pessoas.

«O Congresso manifestou a existência na cultura contemporânea de uma situação paradoxal a respeito da família. Adverte-se sua importância, mas as grandes mudanças sociais, os avanços tecnológicos, os movimentos migratórios e as profundas mudanças culturais levam a uma mudança de civilização, o que requer homens formados para enfrentar estas mudanças», afirmam as conclusões provisórias deste Congresso.

«Observa-se por sua vez que a família está submetida a uma crise sem precedentes na história. As razões encontram-se sobretudo nos fatores culturais e ideológicos. A mentalidade corrente tende a eliminar os valores. A ação persistente de um laicismo de raiz niilista e relativista leva a um modo de viver individualista», acrescenta o documento conclusivo.

O Congresso denunciou com vigor «essa pressão ideológica convidando a tomar consciência da importância da família e contribuir a seu desenvolvimento».

Os assistentes expressaram também sua «profunda alegria» porque este Congresso foi uma manifestação de riqueza, espiritualidade e vida».

O Congresso reconhecer que «alguns dos valores que imperam em diversos países, sobretudo nos mais desenvolvidos, estão em contradição com os que facilitam a compreensão cristã da família».

«Impõe-se --acrescenta o documento-- o princípio de autonomia que leva ao consumismo, relativismo e subjetivismo, ignorando princípios transcendentais. Nessa mentalidade se apóia a crítica ao matrimônio que tenta substituí-lo com uniões livres».

O Congresso chamou «as famílias cristãs a serem conscientes da importante missão que lhes cabe em serviço da Igreja e de toda a humanidade».

Uma parte das conclusões foi dedicada aos problemas atuais e desafios à família nos campos da legislação civil, justiça social, economia, bioética e demografia.

Quanto à transmissão da fé, o Congresso afirmou que «a família tem sido sempre lugar privilegiado, a unidade básica para a transmissão da fé».

O Congresso assinalou a aparição de numerosas novas iniciativas para a difusão da fé: centros especiais de formação familiar, cursos de preparação ao matrimônio, centros de espiritualidade matrimonial, retiros especializados, cursos para pais, e outros.

Também as dioceses criaram comissões para a família. Adverte-se a presença de uma preocupação constante por melhorar os conteúdos catequéticos relativos à família.

Por último, o Congresso reconheceu o papel fundamental da educação e da disciplina de Religião, assim como a importância das associações de pais.

Dia litúrgico de São Bento, Abade, Padroeiro da Europa


(Fra Angelico, detalhe de um fresco de S. Bento, Florença)

A Regra de São Bento (em latim, Regula Benedicti ou RB), escrita por Bento de Núrsia no século VI, é um conjunto de preceitos destinados a regular a vivência de uma comunidade monástica cristã, regida por um abade. Escrita numa altura em que pululavam, por toda a Cristandade, inúmeras regras, começou a ter sucesso sobretudo a partir do século VIII, quando os Carolíngios ordenaram que fosse a única regra monástica autorizada nos seus territórios - e a partir daí, esse preceito estendeu-se ao resto da Europa, sobretudo com o advento da reforma gregoriana. Foi também adoptada, com igual sucesso, pelas comunidades regrantes femininas.
Pode-se dizer que a regra tem sido um guia, ao longo da sua existência, para todas as comunidades cristãs da Cristandade Católica e, desde a Reforma Protestante, também aplicável às tradições Anglicana e Protestante.
O espírito da Regra de São Bento resume-se em dois pontos: o lema da Ordem de São Bento (pax - «paz»), que nasceria séculos mais tarde, como resultado da agremiação de vários mosteiros que partilhavam a mesma regra; e ainda o tradicional ora et labora («reza e trabalha»), súmula da vida que cada monge deve levar.


CAPÍTULO 73 - De que nem toda a observância da justiça se acha estabelecida nesta Regra (último capítulo da Regra)

Escrevemos esta Regra para demonstrar que os que a observamos nos mosteiros, temos alguma honestidade de costumes ou algum início de vida monástica. Além disso, para aquele que se apressa para a perfeição da vida monástica, há as doutrinas dos Santos Padres, cuja observância conduz o homem ao cume da perfeição. Que página, com efeito, ou que palavra de autoridade divina no Antigo e no Novo Testamento não é uma norma retíssima da vida humana? Ou que livros dos Santos Padres Católicos ressoam outra coisa senão o que nos faça chegar, por caminho direto, ao nosso Criador? E também as Colações dos Padres, as Instituições e suas Vidas, e também a Regra de nosso santo Pai Basílio, que outra coisa são senão instrumentos das virtudes dos monges que vivem bem e são obedientes? Mas para nós, relaxados, que vivemos mal e somos negligentes, são o rubor da confusão. Tu, pois, quem quer que sejas, que te apressas para a pátria celeste, realiza com o auxílio de Cristo esta mínima Regra de iniciação aqui escrita e, então, por fim, chegarás, com a proteção de Deus, aos maiores cumes da doutrina e das virtudes de que falamos acima. Amém.

Às segundas, um livro:Um bom homem é difícil de encontrar



Flannery O"Connor, escritora considerada uma das mais importantes figuras da literatura americana do século XX, nasceu em 1925, em Savannah, na Georgia, e morreu aos 39 anos em Andalusia, nos arredores de Milledgeville, onde criava pavões e outras aves. Entre outros géneros (dois romances, cartas, comentários, críticas), escreveu 32 contos, que foi publicando em diversas revistas e publicações, mais tarde coligidos em dois volumes separados. O primeiro volume, "A Good Man is Hard To Find" ("Um Bom Homem É Difícil de Encontrar" na versão portuguesa), acaba de ser traduzido e editado pela Cavalo de Ferro. O segundo, intitulado "Everything That Rises Must Converge", irá ser publicado mais tarde pela mesma editora. Não é a primeira vez que contos de Flannery O"Connor são publicados em português, mas é a primeira vez que este livro o é. A tradutora deste "Um Bom Homem É Difícil de Encontrar" é a escritora Clara Pinto Correia, e já tinha sido ela a organizar e a traduzir a "Antologia Indispensável" de Flannery O"Connor que a Dom Quixote publicou em 1996. Para essa antologia a tradutora tinha seleccionado apenas seis contos retirados dos dois livros originais.
Os contos de "Um Bom Homem É Difícil de Encontrar" são perturbadores e estranhos e, uma vez lidos, não nos deixam mais. Em 2005 foram publicados em Espanha todos os seus contos num único volume: num mês esgotaram-se duas edições e nessa altura a agência de notícias espanhola Colpisa escreveu: "À sordidez da miséria, aos conflitos racionais, ao asfixiante peso da religião e à luta frustrada pela liberdade sobrepõe-se, nos contos de Flannery O"Connor, uma estranha beleza que surge de uma íntima exploração moral da condição humana." É isso mesmo.

Isabel Coutinho , Público Mil Folhas



Flannery O'Connor
BIOGRAFIA
Flannery O’Connor é uma das mais importantes vozes da literatura americana, particularmente aclamada pela genialidade dos seus contos que combinam o cómico, trágico e brutal. É uma escritora de referência da tradição Gótica Sulista focada na decadência do Sul e nas suas gentes malditas.

Flannery O’Connor nasce em Savannah, Georgia em 1925, filha única de um casal católico praticante. Aos doze anos de idade, quando o pai adoece gravemente, muda-se para Milledgeville, Georgia, o local de nascimento da sua mãe. O pai falece quando Flannery tem quinze anos de idade. Ainda enquanto estudante na universidade de Iowa, publica a sua primeira história, The Geranium, em 1946. Em 1947 ganha o Rinehart-Iowa Fiction Award para um primeiro romance, com Wise blood. No fim de 1950, o médico de família informa a mãe que Flannery está a morrer com Lupus, a mesma doença que vitimou o seu pai.
Viveu até ao fim com a mãe, na famosa propriedade, Andalusia, nos arredores de Milledgeville onde criava pavões e outras aves e dedicava-se à pintura e à escrita.
Depois de uma doença prolongada e dolorosa, falece muito cedo, aos trinta e nove anos. Deixa uma obra curta que consiste em trinta e dois contos coligidos pela própria autora em dois volumes separados, («Um bom homem é difícil de encontrar» e Everything that rises must converge), dois romances (Wise blood e The violent bear it away), algumas críticas, comentários e cartas.

A sua obra completa está editada pela Library of America ao lado de nomes imortais das letras americanas como os de Whitman, Melville, Hemingway, Faulkner, etc.

Foi criado o Prémio de Conto Flannery O’Connor, em homenagem à autora, que é um prémio anual atribuído a uma colecção de contos de elevada qualidade literária.

9.7.06

Simpósio do Clero: O Seminário, Presbitério em gestação

Estamos todos habituados a dizer ou a ouvir dizer que o Seminário é um “viveiro”; a palavra aponta-nos para aí. Todos os dias, a quem nele trabalha e a quem nele pensa, não passa despercebida a obra maravilhosa de um grupo de rapazes, de jovens, vindos das mais variadas porções paroquiais da nossa família diocesana. No Seminário, eles são o eco da sinfonia maravilhosa do Amor que o Bom Pastor faz ressoar sobre famílias, paróquias e comunidades e que a alguns provoca.
Contemplar a beleza de cada dia que nasce e nele o encanto do “procurar Jesus, segui-l’O e permanecer com Ele (Jo.1,35-42), esta é a dinâmica essencial do Seminário como “presbitério em gestação”.
No viveiro, no Seminário, proporcionam-se condições de homogeneidade para que todos possam agarrar a vida de forma intensa. Há um ritmo de crescimento que se pretende e uma capacidade de autonomia que se cultiva. Atingidos estes, o transplante acontece, a vida continua, a marca do viveiro persiste e a intensidade da vida iniciada é fundamental para o percurso. Saídos do viveiro, continuarão a viver, autónomos mas numa comunhão efectiva com todos aqueles que fizeram o mesmo caminho.
No Seminário crescem jovens, vivem-se vidas que ganham sabor quando descobrem o encanto do dar-se, do viver com abundância. E isto, naquela atitude que corresponde à história de um inefável diálogo entre Deus e o Homem, entre o amor de Deus que chama e a liberdade do homem que no amor responde a Deus (P.D.V. 36). Isto é possível pela abertura ao dinamismo do “crescer em idade, sabedoria e graça”. Esta vida desenvolve-se na inquietação institucional de tudo fazer para que seja um amadurecimento humano, intelectual, espiritual e pastoral. Mais uma vez, são os quatro pilares que fazem possível o crescimento na graça baptismal, em Igreja, assumindo o desafio de abraçar a vocação sacerdotal.
Na dimensão humana pretende-se fazer espraiar a alegria, a tolerância, o sentido da verdade, a fidelidade à palavra dada e aos compromissos, a alegria de ser amigo e de se sentir bem ao serviço dos outros, a iniciativa humilde de ajudar os que mais precisam, o espírito de diálogo, o respeito incondicional pelo outro, o gosto pelo serviço gratuito.
Quanto à dimensão intelectual, trata-se de amadurecer no gosto pelo saber, no espírito de busca, no gosto pela leitura, pelo estudo, na atitude de abertura à formação, na inquietação contínua de profundidade.
Na dimensão espiritual pretende-se proporcionar o cultivo da capacidade de olharmos o mais profundo de nós mesmos e aí descobrirmos a presença do Amor que nos faz abrir o olhar de filhos chamados a percorrer o caminho do infinito das possibilidades sempre novas que nos movem o coração, a mente, a vida.
Na dimensão pastoral cultiva-se a capacidade sempre aprofundada de abraçar e abençoar todos aqueles que vemos, em quem pensamos e que sabemos que, como nós, são chamados ao Amor, à Felicidade, à Vida. Isto faz despertar um coração verdadeiramente católico, aberto à humanidade, à natureza, a toda a criação.

Uma comunidade original

O Seminário faz-nos sentir que “não foram a carne nem o sangue” que nos uniram num mesmo projecto. Todos somos chamados a saborear, num dia-a-dia cheio da novidade da vida, a riqueza de sermos filhos no Filho, a nobreza da nossa condição de templos do mesmo Espírito. A grande vantagem do Seminário é iniciar-nos progressivamente na capacidade de contemplar a grandeza e a beleza da vida em que tínhamos sido iniciados: o meu Baptismo, o Baptismo do irmão. O Seminário inicia-nos no mergulho responsável e adulto na fonte baptismal na qual todos renascemos. Jovens da mesma idade, com as mesmas experiências humanas, dão as mãos na aventura de crescer e viver no Espírito, na comunhão.
O Seminário a todos ensina a vida contida no Baptismo que, tendo feito de nós filhos de Deus, a todos nos impele a acolher a voz do Pai que chama e a perguntar-Lhe: “Que quereis de mim?”. Ao mesmo tempo que a todos faz descobrir esta grandeza de identidade, também de todos exige o crescimento na capacidade de olhar e amar essa mesma grandeza em cada irmão da comunidade do Seminário, em cada irmão baptizado. Descobrimos que somos enviados e amamos o irmão que, connosco e como nós, é enviado. Assim se cresce e se é iniciado no verdadeiro dinamismo da comunhão e da missão que é marca distintiva do presbitério que somos.
Assim sendo, o Seminário é verdadeiro “presbitério em gestação”. Por outro lado, verificamos que existe uma implicação directa, diríamos mesmo ontológica, de todo o presbitério com o Seminário. Para cada presbítero, olhar e amar o Seminário é olhar-se e amar-se a si mesmo e é garantia de fortalecimento da sua capacidade de olhar e amar os outros. O Seminário é “presbitério em gestação” e muito poderá receber da comunhão real/existencial de todo o presbitério. Todo o olhar lançado sobre a comunidade de vida do Seminário terá que incluir a “carga leve” da cumplicidade sadia. Amar o Seminário, para o presbitério, é manifestação de felicidade, de serenidade e, com toda a certeza, de fecundidade pastoral. O Seminário será, também ele, a família de acolhimento e de vida, de jovens que trazem no coração o tom dado pelo testemunho feliz dos pastores.
Para concluir, diríamos que o Presbitério é o Seminário em diáspora. Todos somos importantes para todos, muito teremos que dar, muito poderemos receber. A vontade de estar com os irmãos, o ideal do crescimento contínuo, pela via da formação intelectual, espiritual, humana e pastoral, são o segredo que fará de todo o presbitério, como verdadeira família, o verdadeiro sinal necessário do dinamismo do Reino de Deus.

P. Manuel Joaquim Fernandes da Costa.
Seminário de Nossa Senhora da Conceição.

8.7.06

A vocação de Mateus, o levita



(Caravaggio, «A vocação de Mateus», Roma)

Uma sede imensa parecia devoravá-lo, como se o dia fosse incapaz de claridade. Somente um grande salto lhe devolveu a esperança. O segredo da sua identidade escondia-se no amor e na misericórdia de Deus. Quando O encontrou encontrou-se também a si. Quando se encontrou encontrou-O também a Ele. Porque o único que nos pode ensinar a encontrar Deus é somente o próprio Deus.

7.7.06

O ser humano não é uma peça

O Encontro Mundial de Líderes Religiosos concluiu os seus trabalhos esta quarta-feira, em Moscovo, com uma mensagem em conjunto de cristãos, muçulmanos, judeus, budistas, hinduístas e xintoístas destinada especialmente aos membros do G-8, mas também a todos os crentes.

Segundo disse ao encerrar o Encontro o Patriarca de Moscovo e de todas as Rússias, Alexis II, houve consenso entre os líderes que deve haver mais união que oposição entre eles.

«Nossa missão é recordar ao mundo que os valores morais professados por cada religião e confissão não perecem. Cada um de nós prega isso. Mas hoje, falamos a uma só voz, que deve ser escutada por chefes de governo, a opinião pública internacional e nossos fiéis», assegurou o Patriarca.

De acordou com a mensagem final do Encontro, «o diálogo e a colaboração entre civilizações não deve ser somente um slogan. Temos de construir uma ordem internacional que combine a democracia como forma de conciliar diferentes interesses».

«O mundo deve ter muitos pólos e muitos sistemas, satisfazer toda a população e todos os povos, e não se render a um esquema ideológico simplista e sem vida».

«O homem é uma obra única da Criação e não deve converter-se nem em produto nem em objecto de manipulação política, nem em peças de máquinas de produção e uso».

«Por isso, antes de tudo é necessário ressaltar o alto valor da vida humana desde sua concepção até ao seu último sopro e morte natural. Por conseguinte, a família é o meio principal para a formação moral e de carácter da pessoa».

Os líderes religiosos do Encontro pedem que «se incremente o apoio às famílias, especialmente na sua missão educadora, com ajuda do direito nacional e internacional e a prática dos Estados, das diferentes instituições sociais, comunidades religiosas e meios de comunicação de massa».

«Lamentamos as atividades dos grupos e movimentos pseudo-religiosos que destroiem a liberdade e saúde das pessoas e inclusive o clima moral na sociedade. O verdadeiro combate (do mau uso da religião) só é possível através da educação e do ensinamento moral».

«Exigimos terminar com qualquer forma de agressão aos sentimentos religiosos e profanação daquilo que para as pessoas são textos, símbolos, nomes e lugares sagrados».

A mensagem pede que «o diálogo religioso se realize não somente com o esforço dos líderes religiosos e especialistas», mas «que se enriqueça da contribuição dos fiéis».

«Dirigimo-nos de forma especial com toda a gente que crê, chamando-a a respeitar e aceitar um ao outro sem importar sua religião, nacionalidade e alguma outra diferença», concluem os líderes religiosos.

6.7.06

Church of the Light



Tadao Ando
Church of the Light
Osaka, Japão, 1989

Às quintas: uma Igreja, um arquitecto



Tadao Ando
Church on the Water
1987-1989
Yufutsu-Gun, Hokkaido, Japão

Os lugares da alma



Dois irmãos escultores recriaram um bosque imaginário, um lugar da mente onde cada um pode reencontrar seus sonhos e recordações. É um espaço onde a lentidão impera e o tempo se aprofunda. À entrada existe o arco das fávolas da infância onde um poeta escreveu:«Este pequeno bosque é um labirinto da alma onde por breve tempo podes perder a memória mas reencontrarás o dia mais belo da tua vida». Reencontrar o dia mais belo da nossa vida! Eis um belo desafio para o dia de hoje, para todos os dias.

5.7.06

V Encontro Mundial das Familias em Valencia


Desde o dia 3 de julho até ao dia 14 no weblog ou caderno de viagens da Conferência Episcopal Espanhola vão-se relatando, dia a dia, as experiências do V Encontro Mundial das Famílias, desde as expectativas prévias até ao momento central com a visita do Papa Bento XVI, nos dias 8 e 9 de Julho, ou as reflexões posteriores ao evento.

O Blog inaugura-se com a intervenção do Bispo Dom Ricardo Blázquez Pérez, Bispo de Bilbao e Presidente da Conferência Episcopal. Os internautas poderão enviar os seus contributos ou comentários. A Conferencia Episcopal Espanhola realizou esta iniciativa pela primeira vez na Jornada Mundial da Juventude em Colónia, em Agosto de 2005.

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Sua beleza me salvaria para sempre



(Rober Hupka)

Nunca mais me abandonaram aqueles versos de um poeta brasileiro sobre Lourdes. «Quem me dera estar em Lourdes quando a Virgem desapareceu, pois a saudade de sua beleza me salvaria para sempre». Às vezes penso nessa intensa luz que teima em ficar depois de uma presença que já não é. Ela torna-se o sustento para nossos dias. Faz-nos viver da memória, como uma visitação que sempre nos resgata. Talvez a saudade seja também um modo de não caminhar sozinho.

4.7.06

Santa Isabel de Portugal: pão e rosas

Isabel morreu em Estremoz em 1336. Nasceu em Saragoça em 1271. Casou com o Rei D. Dinis, foi rainha e mãe. Amante dos pobres, semeou a paz. Terciária franciscana, é a padroeira das caridades católicas.


Francisco Goya, «Rainha Santa Isabel de Portugal assistindo uma doente» (1798/1800), Madrid.

Uma multidão de emigrantes mexicanos, num qualquer dia 4 de Julho, dia da Independência, enchiam as ruas de Nova York manifestando-se por melhores condições de trabalho nas grandes empresas americanas. Num dos cartazes empunhavam com orgulho um slogan, desesperado e poético. Pensei que essa frase poderia ser atribuida a Santa Isabel de Portugal: «We need bread, but roses too». Precisamos de pão, mas de rosas também...

3.7.06

Às segundas um livro: «Diálogos com o Silêncio»



Thomas Merton amava a vida com a paixão de um poeta romântico. Aos 26 anos de idade, ele resolveu tornar-se monge Trapista e começou a seguir sua última paixão que durou sua vida toda. A partir da sua moradia austera no mosteiro de Nossa Senhora de Getsêmani, em Kentucky, Merton trabalhou para mudar a sociedade e para chegar mais perto de Deus. Os desenhos e orações deste livro são um belo testemunho do seu itinerário íntimo, o diálogo de Merton com Deus. As orações foram recolhidas de todas as obras de Merton, dos seus livros, diários e cartas e são apresentadas no livro junto com seus desenhos, bastantes desconhecidos, pela primeira vez. Os desenhos mostram a evolução da arte de Merton desde a simples representação até aos mais abstractos, nos quais se reflete o seu interesse pelo Zen e pelas culturas orientais.
«Diálogos com o Silêncio» convida o leitor a entrar num clima sagrado de contemplação onde escutamos o silêncio, aguardando a presença divina em nossas vidas, onde o vazio se torna a conjuntura para o intercâmbio entre o mundo exterior e interior, onde a escuridão se transforma em luz, o lugar onde se revela a voz de Deus.


«A Ti, que dormes no meu peito, não te encontramos com palavras, mas com o surgir da vida, e da sabedoria dentro da sabedoria. Contigo já não há diálogo, nem contenda ou oposição de qualquer espécie. A Ti é na comunhão que te encontramos. Tu em mim e eu em Ti; Tu neles e eles em mim: desapego no desapego; desamor no desamor, vacuidade na vacuidade, liberdade na liberdade. Estou só. Tu és só. O Pai e eu somos Uma só coisa»

Thomas Merton, «Diálogos com o Silêncio». Orações e desenhos originais do autor. Editorial Franciscana, 2006, 121.

S. Tomé, apóstolo


(Caravaggio, «A Incredulidade de Tomé»)

Uma das obras mais comoventes do pintor italiano Caravaggio é a «incredulidade de Tomé». Tomé olha, aterrorizado, os sinais da morte de Jesus, enquanto este ajuda o dedo do apóstolo a entrar no seu lado aberto. O rosto de Jesus contorce-se de dores, como se ressuscitar custasse tanto como morrer. A dor do Ressuscitado, como o episódio de Tomé, recorda-nos que não se pode dar uma prova da existência do que é mais verdadeiro. O essencial não se prova. Acredita-se nele, nem que seja chorando.

2.7.06

Simpósio do Clero em Fátima: A distribuição dos presbíteros



Quem lê o n.º 10 da Presbiterorum Ordinis rapidamente percebe que a «distribuição» dos presbíteros de que aí se fala tem uma amplitude universal e um sentido eclesial profundo, na medida em que convida as dioceses, com maior abundância de sacerdotes, a permitir que exerçam o seu ministério noutras regiões e países.
Penso, no entanto, que a reflexão que se pretende para este espaço se enquadra mais na realidade diocesana e na forma como os presbíteros são distribuídos. Este é claramente um tema difícil e aqui se aplica a célebre sentença que afirma ser impossível agradar a gregos e a troianos.
Todos os anos, a preparação do Movimento Eclesiástico absorve imensas horas das reuniões do Conselho Episcopal. Nessas horas, o território da diocese transforma-se num verdadeiro tabuleiro de xadrez e não é muito fácil discernir caminhos e perceber qual a melhor opção a ser tomada. Há sempre imensos aspectos a considerar, sensibilidades variadas e flutuantes, circunstâncias pessoais de cada presbítero, situação de cada comunidade, avanços e recuos… No final, vamos percebendo, cada vez de forma mais clara, que somos poucos para tanto trabalho! No meio de tudo isto, tentar uma estratégia de distribuição afigura-se tarefa complicada.
Ao falar-se de «distribuição» e «sentido estratégico» do presbitério, o que é que se pretende ter em conta, quais os objectivos a alcançar?
Os próprios presbíteros, a sua vida humana, afectiva, espiritual, intelectual, etc.?
A qualidade da vida cristã das comunidades?
A forma como -- em presbitério diocesano -- pensamos, agimos e avaliamos a nossa pastoral? Por outras palavras: a estratégia de distribuição aponta para os presbíteros, para as comunidades ou para a acção pastoral?
Como com estes textos se pretende promover a reflexão e o debate, deixo algumas questões que, espero, possam proporcionar um diálogo aberto e franco. Toda esta ênfase dada, nos últimos tempos, à questão das “unidades pastorais” tem a sua raiz numa necessidade. Certamente, podemos dizê-lo, o ponto de partida é a necessidade. Sentimo-la também nós. Não se podendo reduzir o número de paróquias e diminuindo o número de presbíteros, tornou-se necessário atribuir ao mesmo presbítero duas ou mais paróquias. E ele terá de conjugar horários, compromissos, actividades, etc. Temos, ou melhor, podemos ter uma unidade pastoral, embora, por vezes, seja bastante difícil harmonizar as diferenças entre paróquias. E digo “podemos ter” porque uma unidade pastoral não nasce da soma de duas ou mais paróquias. Não se trata de uma questão de matemática. Uma unidade pastoral não pode ser pensada como uma bela operação de “engenharia pastoral”, mas antes de mais como ocasião preciosa para repensar o rosto de comunidades cristãs vivas, com uma multiplicidade de ministérios e carismas para “gastar” numa perspectiva evangelizadora e missionária. Afirma um documento de uma diocese italiana: «A unidade pastoral é a união na pastoral, a comunhão acolhida e vivida pelos operadores pastorais. Antes de ser um facto organizativo, a unidade pastoral é uma escolha de valores, de atitudes, de modos de pensar a pastoral nas paróquias».
Mas não é só por causa da diminuição ou até mesmo o envelhecimento do clero. Tal como não é esta “fórmula organizativa” que se convencionou chamar “unidade pastoral” que nos faz defender uma unidade na pastoral, entendida como uma pastoral capaz de convergir num mesmo projecto e responder a problemas comuns, uma pastoral articulada e elástica (= missionária) capaz de alcançar as pessoas. Afinal temos zonas pastorais e estamos longe da unidade na pastoral.
Algumas questões:
1) A menor quantidade de presbíteros é um convite à formação de núcleos de sacerdotes que (vivendo juntos ou não) sirvam um amplo território, apostando numa presença, talvez menor em termos de tempo, mas mais qualificada e centrada na proposta espiritual?
2) Como é que as paróquias de um determinado território que apresenta alguma homogeneidade podem trabalhar juntas para tornar visível a comunhão fundada em Cristo e para anunciar com mais eficácia o Evangelho? Quais os objectivos, critérios, metodologia de trabalho…?
3) Temos instituídas em alguns arciprestados da nossa diocese as chamadas zonais pastorais. Como têm funcionado? Como uma realidade essencialmente geográfica, que agrupa algumas paróquias mais ou menos homogéneas ou tem sido possível pelo menos uma colaboração entre as diversas paróquias ou sectores da pastoral? Será possível passar de uma “colaboração” a uma “programação unitária”?
4) Nesta “estratégia de distribuição” não farão falta novos espaços e novos métodos de estudo/confronto para que nos habituemos a pensar juntos, a discernir e dialogar com a sociedade em que vivemos e a descobrir que padres ser hoje?
5) Será suficiente uma redistribuição do clero sobre o território, apenas para consentir o mínimo de vida sacramental aos cristãos?
6) Como promover a comunhão como dimensão constitutiva da vida e do ministério do presbítero, procurando desta forma superar uma mentalidade e acção individualista para uma identidade relacional, de comunhão afectiva e pastoral, radicada no sacramento da Ordem e, portanto, no presbitério diocesano?
Unidade na pastoral muito mais que uma descoberta de qualquer pastoralista iluminado é um sinal de eclesialidade, uma exigência da pastoral e não apenas de hoje; e se é uma exigência -- muito antes de se institucionalizar alguma forma de unidade --, é preciso unir, formar, criar consenso no presbitério à volta dessa exigência. Será que é para esta meta que apontam as nossas estratégias?

António Sérgio Torres
Pároco de São Victor (Braga) e secretário da Coordenação Pastoral da Arquidiocese de Braga