O Bom Pastor:

Formação do Clero da Arquidiocese de Braga

28.5.07

Formação do Clero: 29 Maio

Encontro Rotativo para os Arciprestados: 29 Maio


Ponto de encontro: Guimarães
(Arciprestados convocados: Celorico de Basto; Cabeceiras de Basto; Fafe; Guimarães e Vizela)
Ponto de Encontro: Balasar
(Arciprestados convocados: Barcelos; Esposende; Vila do Conde/Póvoa de Varzim; Famalicão)
Ponto de Encontro: Braga
(Arciprestados convocados: Braga, Vila Verde; Póvoa de Lanhoso; Vieira do Minho, Amares; Terras do Bouro)

Temas

Formação Humana e Espiritual
A afectividade do sacerdote
Abade de Osera
Local: Balasar
9.30h

Formação Intelectual e Teológica
Uma introdução ao evangelista do ano: Lucas
Doutor António Couto
Local: Braga
9.30h

Formação Litúrgica e Pastoral
«A família»
Sr. Dom António Marcelino
Local: Guimarães
9.30h

26.5.07

O ESPÍRITO SANTO

(Bill Viola, The crossing)


Podemos imaginá-lo como um vento,um sopro, uma respiração, por vezes suave, pairando sobre as águas, por vezes vigoroso, rasgando o medo. Podemos imaginá-lo como um fogo, iluminando todas as espécies de noites ou purificando, ardentemente, um coração. Podemos imaginá-lo como uma pomba, inocente, ou um voo, majestoso, de águia. Podemos imaginá-lo como água, fonte pura ou torrente impetuosa das nossas sedes. Podemos senti-lo como um óleo, um perfume, uma unção que dá vida, esplendor e companhia na morte. Podemos imaginá-lo, por fim, como uma pessoa. A terceira pessoa da Santíssima Trindade. O Espírito Santo.

Solenidade do Pentecostes


(Grão Vasco, Pentecostes)

Pentecostes
Ano C
Jo 14, 15-16.23-26

A grande festa do Pentecostes constitui a plenitude do evento pascal: Jesus Ressuscitado, subido aos céus e partícipe da senhoria de Deus, cumpre a promessa feita aos seus discípulos de lhes enviar o Espírito santo. E é exactamente na potencia do Espírito que a comunidade cristã pode testemunhar Cristo no meio de todos os homens, «nas suas respectivas línguas» (cf. At 2, 4.8.11).

Se para o povo de Israel o Pentecostes era a festa memorial do dom da Lei do Sinai, a festa da aliança, para a comunidade de Jesus o dom do Espírito é celebração da aliança nova, ultima, definitiva. Jesus não deixou «órfã» (cf. Jo 14,18) a sua comunidade, nem a ascensão ao céu representou uma separação que colocasse um fim na sua acção no mundo. A comunidade dos crentes, de facto, partilha com ele a mesma vida, o mesmo Espírito, e este habilita-a a prosseguir a sua acção na história: anunciar a boa nova do Evangelho, realizar o bem, empenhar-se por fazer recuar o domínio de Satanás. Como Jesus foi revestido da força do Espírito santo e assim habilitado para a missão (cf. At 10, 38), também assim a sua igreja, a partir do dia de Pentecostes…

No excerto evangélico de hoje meditamos sobre esta realidade escutando a promessa do Espírito santo feita por Jesus aos discípulos durante os chamados «discursos do adeus», aqueles nos quais, como Senhor vivente e glorioso, fala ainda hoje a nós. Jesus liga estritamente tal promessa ao amor: «se me amais, observareis os meus mandamentos. Eu rezarei ao Pai por vós e ele vos dará um outro Consolador para que permaneça convosco para sempre». O cristão é tal somente na medida em que ama o Senhor Jesus Cristo «com todo o coração, com toda a mente, com todas as forças» (Dt 6,5; Mc 12,30), o ama mais que as pessoas mais caras (Mt 10,37), o ama mais que a sua própria vida (cf. Mt 10,39). É vivendo neste amor que ele pode fazer a experiencia do Espírito santo, Espírito Consolador, Paráclito, «chamado ao lado», que actualiza a presença de Jesus — o primeiro Consolador dos seus discípulos (cf. 1 Jo 2,1)— e o socorre na canseira quotidiana da perseverança; Espírito de verdade, que o «guia à verdade inteira» (Jo 16,13): e para o cristão a verdade não é uma noção abstracta, mas uma pessoa, Jesus Cristo (cf. Jo 14, 6)!

Depois de novamente ter insistido sobre o amor por ele e pela sua palavra como possibilidade para o crente de acolher em si o amor do Pai e de se tornar sua morada, Jesus assinala a sua promessa com uma revelação decisiva: «o Consolador, o Espírito santo que o Pai mandará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos recordará tudo o que eu vos disse». Ou: o Espírito santo, hoje, conduz os discípulos a perceber e a assumir em profundidade aquelas realidades que, enquanto Jesus estava fisicamente com eles, não eram ainda capazes de acolher. Há tempos diversos na compreensão de Jesus Cristo e do mistério da salvação; há gestos e palavras de Jesus não imediatamente compreendidos pelos discípulos, assim como há um não-dito do qual será o Espírito santo a fazer-se interprete, ele que «não falará de si, mas dirá tudo o que terá ouvido e anunciará as coisas futuras» (Jo 16,13). Sim, no coração dos crentes o Espírito age tornando presente toda a vida de Cristo, enquanto ouvinte assíduo do Filho: ele é memória total da pessoa de Cristo, e assim ilumina o nosso agir quotidiano, até ao dia da Vinda do Senhor na glória.

Compreende-se então porque é que Jesus afirmou: «Quando vier o Consolador que vos mandará o Pai, o Espírito de verdade que procede do Pai, ele dará testemunho de mim; e também vós dareis testemunho de mim» (Jo 15, 26-27). Nós cristãos somos testemunhas de Jesus Cristo entre os homens (cf. Lc 24, 48; At 1,8), somos o seu corpo no mundo: esta é a nossa responsabilidade, mas esta é também a nossa alegria mais profunda, que nada nem ninguém nos poderá roubar (cf. Jo 16, 23). Sim, porque como cristãos vivemos do amor e no amor: amamos Jesus Cristo e Jesus Cristo ama-nos. Nós e Cristo vivemos juntos!

Enzo Bianchi
Prior de Bose
(trad: mro]

19.5.07

ASCENSÃO DO SENHOR


(Giotto, Jesus ascende aos ceus)

Ano C
Lc 24, 46-53

Nas leituras da solenidade da Ascensão escutamos duas vezes a narração do êxodo de Jesus deste mundo para o Pai feito por Lucas, nos Actos dos Apóstolos (ACT 1, 1-11) e no Evangelho.

Na verdade nos outros evangelhos não se fala deste «facto», porque ele está já contido no evento da ressurreição de Jesus, no seu êxodo da morte para a vida eterna, do túmulo para o Reino de Deus. A Ascensão de Jesus, este «separar-se dos discípulos», este «ser levado» pela potencia de Deus para o céu, este «subtrair-se ao olhar dos apóstolos» (cf. Act 1,9), é de facto uma nova narração do evento da ressurreição, como o são as diversas aparições - manifestações de Jesus às mulheres discípulas e aos doze: sim, nós estamos sempre a celebrar a Páscoa, que é vitória de Jesus sobre a morte, que é vida nova e eterna de Jesus, que é glorificação de Jesus, que é o entrar de Jesus, pela força do Espírito santo, na vida divina do Pai.

Se os vários textos evangélicos que falam da ressurreição de Jesus nos revelam o significado deste evento em diversas perspectivas, os excertos hodiernos metem em evidencia que a «assunção» de Jesus ao céu significa também «separação» dos seus, «ausência» desta terra: ele não pode mais ser visto nem na carne nem na sua forma gloriosa…Tal separação anuncia, porém, uma nova forma de presença de Jesus junto da comunidade, de tal modo que os crentes nele nunca ficarão sós, «órfãos» (Jo 14,18): por isso ao subir ao céu Jesus abençoa os discípulos. No inicio do evangelho segundo Lucas a bênção de Deus que deveria ser realizada pelo sacerdote Zacarias à saída do santuário tinha sido, por assim dizer, suspensa (cf. Lc 1,21-22); mas agora eis que Jesus a retoma e a leva a cumprimento: é a bênção prometida e dada a Abraão, reconfirmada a Israel, e agora oferecida por Jesus glorioso à Igreja para que ela a leve «até aos confins do mundo» (At 1,8) e assim sejam abençoadas todas as gentes da terra (cf. Gn 12,3; 18,18,etc).

No ascender ao Pai, Jesus promete também o Espírito Santo, que com a sua força tornará os crentes testemunhas, isto é, pessoas capazes de contar que Jesus veio ao mundo como homem e passou entre os homens fazendo o bem (cf. At 10, 38), pessoas capazes de o esperar como aquele que virá na glória. De facto, do mesmo modo como os discípulos o viram subir ao Céu, o verão quando no ultimo dia regressar na glória! Enfim, enquanto termina a forma de uma história, inicia «uma outra forma» (Mc 16,12) da mesma história: numa e noutra Jesus é a narração definitiva de Deus feito homem para nós, é o rosto do Deus vivente (Jo 1,18)…

Também a nós, aqui e agora, está reservada a pergunta dos anjos: «porque estais a olhar para o céu?» (At 1,11). Preste-se atenção: este não é um convite a olhar apenas as coisas da terra, mas um aviso a não procurar mais aquela presença física de Jesus do qual os discípulos tinham feito experiencia na história. Não, Jesus não deve ser procurado junto do tumulo vazio, nem levantando os olhos para o alto para chorar por uma aparição: ele deve agora ser procurado na comunidade cristã, na eucaristia, nos homens e mulheres que, na condição dos últimos, esperam de nós «o serviço ao irmão» no qual Jesus quis tornar-se presente (cf Mt 25, 31-46). É assim que podemos viver a nossa função de cristãos: levar a bênção, «começando por Jerusalém e até aos confins do mundo», anunciando a conversão e a remissão dos pecados, e tudo isto na potencia do Espírito Santo.

Como os doze depois da ascensão de Jesus estavam cheios de alegria, também nós hoje devemos estar em festa, por compreendermos em profundidade o que Jesus afirmou no quarto evangelho: «É do vosso interesse que eu vá, porque assim não só estarei sempre convosco, mas estarei de modo ainda mais pleno: o meu respiro, o Espírito Santo, será o vosso respiro, porque eu o enviarei a vós como dom que vos acompanhará sempre (Jo 14, 16; 16, 7)!

Enzo Bianchi
Prior de Bose
[trad: mro]

17.5.07

Ascensão


(foto do filme Il Vangelo secondo Matteo, de Pier Paolo Pasolini)

O cineasta italiano Pier Paolo Pasolini percorreu os caminhos da palestina em busca do rasto de Jesus. Mas nem a terra nem as pessoas pareciam já ter algo a ver com Cristo. Desiludido, teve de filmar o Evangelho noutro país. Mas um lugar o surpreendeu. A pequena igreja que recorda a Ascensão do Ressuscitado. Para Pasolini a Ascensão é o momento mais sublime de toda a história evangélica: o momento em que Cristo nos deixa para que cada um o procure.

UMA FAMÍLIA




Era uma família. Estavam reunidos à volta de um bolo, daqueles que nos recordam as doces tardes de criança, em casa da avó. Na confusão dos laços e papéis prateados comoveu-me a gentileza, a simpatia, com que o pai recebia, agradecido, os presentes. Um livro, um perfume rapidamente partilhado, um postal de alguém ausente, e por isso mais amado. Era decididamente uma família que sabia receber. Porque a vida é uma festa e saber recebê-la é um dom.

14.5.07

Semana da Vida: 13 a 20 de Maio

1) A “Semana da Vida”, iniciativa da Comissão Episcopal do Laicado e Família, será celebrada de 13 a 20 de Maio e tem, este ano, como tema, “FELICIDADE HUMANA – PREOCUPAÇÃO DE DEUS”.

A Proposta do Departamento Nacional integra, além de um Cartaz, textos de apoio, que vos enviamos em quatro conjuntos (www.ecclesia.pt/semanadavida2007 ; www.diocese-braga.pt/familia e também disponível em “formato caderno” nos Serviços Centrais - Braga), para diferentes momentos, destinatários e formas de utilização:

Tema
Conteúdo: Encabeçado por uma nota de abertura sobre a Semana da Vida, este texto desperta-nos para a nossa condição/vocação de criados por amor e para o amor. Descobrindo que Deus se preocupa infinitamente com a nossa felicidade, o desafio é deixarmo-nos evangelizar e sermos evangelizadores.
Destinatários: Pessoas e grupos, em ordem ao aprofundamento desta vocação originária à comunhão com Deus.

Oração em família
Conteúdo: Sugestão de uma oração em família para cada dia da Semana da Vida, à base de pequenos excertos de “O Evangelho da Vida” de João Paulo II.
Destinatários: As famílias.

Meditação do Rosário
Conteúdo: Em pleno mês de Maio, propõem-se introduções e intenções para a oração do Rosário, com base em “O Evangelho da Vida” e “O Novo Contexto da Luta pela Vida”.
Destinatários: Todas as pessoas e comunidades, no mês de Maria.

Enquadramento litúrgico
Conteúdo: O que nos textos bíblicos da liturgia dominical ilumina o tema da Semana da Vida. Sugestão de algumas intenções a incluir na Oração Universal.
Destinatários: Especialmente os presidentes das assembleias dominicais.


2) A Semana da Vida pode ser, sem dúvida, uma ocasião privilegiada de crescimento das comunidades e famílias cristãs, e de afirmação pública da Vida como dom de Deus.
Pedimos ao Senhor que abençoe os trabalhos da Pastoral Familiar e que o seu Espírito faça de todos nós testemunhas do Evangelho para que a cultura humana seja impregnada dos verdadeiros valores que hão-de garantir a defesa e a promoção da vida.



Departamento Arquidiocesano da Pastoral Familiar

12.5.07

VI Domingo da Páscoa





ANO C
Jo 14, 23-29

Continuamos a escutar os «discursos do adeus» contidos no IV evangelho, aqueles pronunciados por Jesus no fim da sua última ceia com os discípulos, antes de ter sido preso no monte das oliveiras.

Depois de ter dado o mandamento novo (Jo 13,34), Jesus anunciou o seu êxodo deste mundo para o Pai, mas isso suscitou interrogações entre os discípulos: Pedro, Tomé, Filipe e Judas, «não o Iscariotes», pedem-lhe que explique melhor as suas palavras (Jo 13, 36-14.22). Em particular, a pergunta de Judas é a que habita também os nossos corações de crentes: «Senhor, porque te manifestas a nós crentes e não te manifestas publicamente ao mundo, a todos os homens?» Mesmo se temos fé em Jesus, somos incapazes de assumir as consequências do nosso acreditar, do nosso aderir a ele, e assim perguntamo-nos: porque é que ele não realizou sinais, prodígios, acções extraordinárias, de modo a convencer todos os homens? Porque escolheu a humildade, a pequenez, um estilo de vida de desejado escondimento? Porque não procurou o consenso, servindo-se de meios a ele disponíveis para obter sucesso? Esta óptica é a mesma dos discípulos de Jesus, os quais o tinham convidado a manifestar-se ao mundo, de modo a coagir os homens a acreditar nele mediante a evidencia do extraordinário (cf. Jo 7,4)…

Mas Jesus desilude quem pensa nestes termos, e reforça que o que conta não é a amplidão do consenso, não é a quantidade dos «conquistados»; não, o importante é que exista uma relação pessoal de amor com Jesus, não a admiração que se pode nutrir por um taumaturgo, para obter milagres: «Se alguém me ama, observará a minha palavra, e o meu Pai o amará e nós viremos a ele e faremos morada nele». Tudo acontece de modo invisível e no entanto real, concreto, experimentável. O que é decisivo é a relação de conhecimento e de amor entre crente tornado discípulo e Jesus, «o Senhor e Mestre» (Jo 13,14): deste modo o crente torna-se até morada de Jesus e do Pai! Sim, a vida cristã é «vida escondida com Cristo no Pai» (Col 3,3): tudo isto é extraordinário, mas não visível aos olhos do mundo; é decisivo para a vida e a salvação, mas não verificável por parte dos outros; é absolutamente verdade, é até mesmo experimentável à luz da fé, mas não verificável à luz da visão (2 Cor 5,7)…

Jesus parte e certamente um dia tornará na glória, no fim da história; então a sua Vinda se irá impor a todos os homens e a toda a criação. Mas no entretanto que vai da sua morte-ressurreição e a sua Vinda final, Jesus vem quotidianamente no coração do crente que ama, que cumpre o mandamento novo. E a fim de que isto aconteça, durante a sua ausência física devido ao seu morar junto do Pai, há da parte do próprio Pai um grande dom: o Espírito Santo, aquele que tem a função de Consolador, de defensor. O Espírito recorda tudo o que Jesus disse e fez, tornando-o presente na sua comunidade e desempenhando a função de Mestre interior capaz de iluminar e guiar a vida de todo o cristão. No decurso da vida terrena de Jesus, os discípulos tinham o seu ensinamento directo, mas muitas vezes não o percebiam porque o seu coração não era capaz de acolher as suas palavras. Mas quando o Espírito estiver presente no coração dos discípulos, então desaparecerá «o coração duro» (cf. Mt 16,14), porque o Mestre interior tornará «o coração capaz de escuta» (1 Re 3,9), tornará o cristão capaz de realizar as palavras de Jesus…

Enfim, o cristão nunca está só, mas graças ao Espírito Santo é morada, casa, templo da Presença de Deus (cf. 1Cor 3,16; 6,19). Mais, o Espírito que torna possível esta inhabitação do Pai e do Filho no coração dos crentes, é o mesmo que nos torna conscientes do dom deixado por Jesus: «a sua paz», isto é a vida plena por ele vivida, a verdadeira vida. E assim aquela que era a paz de Jesus tornou-se agora a nossa paz.

Enzo Bianchi
Prior de Bose

[trad: mro]

SUA BELEZA ME SALVARIA PARA SEMPRE




Nunca mais me abandonaram aqueles versos de um poeta brasileiro sobre Lourdes [mas também poderiamos dizer de Fátima]. «Quem me dera estar em Lourdes quando a Virgem desapareceu, pois a saudade de sua beleza me salvaria para sempre». Às vezes penso nessa intensa luz que teima em ficar depois de uma presença que já não é. Ela torna-se o sustento para nossos dias. Faz-nos viver da memória, como uma visitação que sempre nos resgata. Talvez a saudade seja também um modo de não caminhar sozinho.

8.5.07

A propósito do Congresso Trinitário


“A Trindade é um mistério salvífico. Caso contrário, não nos teria sido revelado. Mas, se assim é, temos também de compreender claramente porque o é”.
(Karl Rahner)
"Isso exige uma nova e mais aprofundada leitura da frase «Deus é amor». Se ela é válida, de tal modo que Deus permaneça ao mesmo tempo amor e Deus, então Ele não pode amar apenas a Criação. Deus tem que ser pensado como Único – e, precisamente por isso, como um «Com» intradivino e interpessoal. Só assim se salvaguarda, não apenas a liberdade da Criação e o carácter pessoal dos humanos, mas, antes de tudo, a própria divindade de Deus”.
(Jörg Splett)

6.5.07

No sorriso louco das mães


No sorriso louco das mães batem as leves
gotas de chuva. Nas amadas
caras loucas batem e batem
os dedos amarelos das candeias.
Que balouçam. Que são puras.
Gotas e candeias puras. E as mães
aproximam-se soprando os dedos frios.
Seu corpo move-se
pelo meio dos ossos filiais, pelos tendões
e órgãos mergulhados,
e as calmas mães intrínsecas senta-se
nas cabeças filiais.
Sentam-se, e estão ali num silêncio demorado e apressado,
vendo tudo,
e queimando as imagens, alimentando as imagens,
enquanto o amor é cada vez mais forte.
E bate-lhes nas caras, o amor leve.
O amor feroz.
E as mães são cada vez mais belas.
Pensam os filhos que elas levitam.
Flores violentas batem nas suas pálpebras.
Elas respiram ao alto e em baixo. São
silenciosas.
E a sua cara está no meio das gotas particulares
da chuva,
em volta das candeias. No contínuo
escorrer dos filhos.
As mães são as mais altas coisas
que os filhos criam, porque se colocam
na combustão dos filhos, porque
os filhos estão como invasores dentes-de-leão
no terreno das mães.
E as mães são poços de petróleo nas palavras dos filhos,
e atiram-se, através deles, como jactos
para fora da terra.
E os filhos mergulham em escafandros no interior
de muitas águas,
e trazem as mães como polvos embrulhados nas mãos
e na agudeza de toda a sua vida.
E o filho senta-se com a sua mãe à cabeceira da mesa,
a através dele a mãe mexe aqui e ali,
nas chávenas e nos garfos.
E através da mãe o filho pensa
que nenhuma morte é possível e as águas
estão ligadas entre si
por meio da mão dele que toca a cara louca
da mãe que toca a mão pressentida do filho.
E por dentro do amor, até somente ser possível
amar tudo,
e ser possível tudo ser reencontrado por dentro do amor.


(Herberto Helder «A Colher na Boca»)

Poema à Mãe

No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe!

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
ao fundo dos teus olhos!

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais!

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura!

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos...

Mas tu esqueceste muita coisa!
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -,
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:

Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...

Mas - tu sabes! - a noite é enorme
e todo o meu corpo cresceu...Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber,

Não me esquecerei de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas...

Boa noite. Eu vou com as aves!

Eugénio de Andrade

5.5.07

V Domingo da Páscoa

(Duccio di Boninsegna, «A ultima ceia»)

V Domingo do Tempo Pascal
Jo 13, 31-33a.34-35

Estamos no tempo pascal e o evangelho que hoje escutamos fala-nos precisamente da glorificação de Jesus, acontecida através da sua paixão, morte e ressurreição. Para o quarto evangelho, de facto, também a paixão e a morte são glorificação de Jesus, não um falhanço ou um fim trágico, pois aí mais do que nunca Jesus mostra o seu amor e recebe glória precisamente por ter amado «até ao fim, até ao extremo» (Jo 13,1): a glória de Jesus é a glória do amar! Não o esqueçamos: se Jesus ressuscitou da morte foi porque o Pai o ressuscitou (cf. Act 2,24.32) por causa do amor por ele vivido até ao extremo por Deus e pelos irmãos. Sim, na ressurreição de Jesus podemos ver o amor total, perfeito, de Jesus, que vence a morte para sempre…

O nosso excerto recorda-nos que Jesus no cenáculo, no fim da sua última ceia, tinha indicado ao discípulo amado, inclinado sobre o seu peito, a identidade de quem estava para o trair: Judas, um dos Doze. E todavia Jesus não tinha feita nada para o impedir; pelo contrário, dando-lhe um bocado de pão convidou-o a fazer tudo o que tinha a fazer quanto antes (cf. Jo 13, 25-27). E agora que Judas saiu para concordar a prisão, agora que é de facto noite (cf. Jo 13,30), aquela noite na qual as trevas vencem a luz e o ódio prevalece sobre o amor, eis que Jesus grita com convicção: «Agora o Filho do homem foi glorificado e também Deus foi glorificado nele».

Ou, mesmo no momento em que tudo acontece contra Jesus, sem que ele se oponha, se defenda ou pague o mal com o mal, logo ali acontece uma epifania do seu amor: Jesus recebe glória e assim também Deus recebe glória graças ao amor total do seu Filho. A hora da glória não é decidida por Judas que foge para cumprir a traição, mas pelo amor de Jesus. É por isso que ele exulta e proclama a sua glorificação: porque tem a consciência de ter amado sempre, até ao extremo, de ter mostrado amor mesmo para com quem o traía, de ter amado totalmente Deus e os homens, até aceitar a cruz e a morte. No seu amor, o ódio, a traição e a violência foram vencidos para sempre!

Cheio de autoridade, que lhe deriva de ter vivido o amor em plenitude, Jesus nesse momento anuncia o mandamento novo: «Amai-vos uns aos outros como eu vos amei». Esta é a verdade do mandamento novo, ou seja, último e definitivo: para cada um de nós o amor pelos outros, para a comunidade cristã o amor recíproco que se deve viver segundo a forma e o estilo com o qual Jesus amou os seus até ao fim. Não se pense numa total novidade deste mandamento, porque o amor do próximo estava já presente no Antigo Testamento (cf. Lv 19, 18; Mc 12, 31); Jesus torna-o, porém, novo porque o apresenta como um amor sem condições, depois do qual não há nenhum outro preceito a observar: o amor verdadeiro e autentico para com o próximo é amor de Deus, e neste sentido o mandamento novo substitui todos aqueles da legislação judaica, a Lei no seu todo…

E assim, se os cristãos forem capazes de viver este amor como Jesus o viveu, vencerão também eles a morte com ele e nele: «Nós sabemos que passamos da morte à vida, porque amamos os irmãos» (1 Jo 3,14). Aqui está toda a vida cristã! Este anúncio assim simples pode escandalizar-nos porque, «religiosos» como somos, queremos que a vida cristã seja muito mais, seja sobretudo o que nós imaginamos ou desejamos. E contudo o mandamento novo do amor é no fundo o único que nos é pedido de atender e viver, é a herança e o dom deixado por Jesus aos seus, a fim de que sejam verdadeiramente a sua comunidade, para que sejam capazes de estar no mundo como autênticos evangelizadores. Jesus de facto disse com clareza: «Por isto saberão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros».

Enzo Bianchi
Prior de Bose
[trad: mro]

2.5.07

A Mãe solidária




As Mães são seres solidários por definição. Saem dos seus casulos quando assumem a maternidade em plenitude, esquecendo‑se de si próprias, abdicando dos seus egoísmos e entregando‑se à causa dos filhos, da família. Gerem o lar, a casa, as relações interpessoais e/ou intergeracionais, as finanças, a alimentação, a bicharada, as tarefas domésticas, os entretenimentos, as saídas, os encontros, as zonas de lazer, a articulação com a alteridade (vizinhos, condomínio, bairros, paróquia, associação, comunidade), os conflitos, as tensões, o stress, as depressões, as doenças, as dificuldades, as adversidades, os azares, as felicidades, as boas notícias e a disponibilidade e entrega a causas fora do lar, de cariz exclusivamente solidário, sem contrapartidas financeiras.
De facto, as Mães são as fadas da solidariedade e como tal são responsáveis pela dinamização de projectos, a concretização de ideias e de sonhos, catapultam os outros para o primeiro plano, apoiando, reforçando, urdindo alicerces convictos de fé e de optimismo, pois as Mães Solidárias acreditam ilimitadamente. Acreditam na família, na exequibilidade da partilha, na gratuidade, na generosidade, no enriquecimento espiritual e intelectual, na criatividade, na capacidade incomensurável e surpreendente do ser humano.
As Mães Solidárias não vacilam no empenho que votam às suas obras, incansavelmente, humildemente. Por isso, é para elas que se voltam os nossos olhares e a nossa admiração face ao seu comportamento modelar. Graças a Deus!

Helena Guimarães, Departamento Arquidiocesano da Pastoral Familiar de Braga