O Bom Pastor:

Formação do Clero da Arquidiocese de Braga

7.7.07

XIV Domingo do Tempo Comum



Ano C
Lc. 10, 1-12.17-20


O excerto evangélico de hoje apresenta-nos as exigências da missão cristã: como podemos, nós cristãos, anunciar a todos os homens a boa nova que em Jesus Cristo o Reino de Deus se fez muito próximo?

No evangelho segundo Lucas não é descrito apenas o envio dos doze apóstolos a Israel (cf. Lc 9, 1-6): durante a subida para Jerusalém Jesus, depois de ter anunciado as exigências da vocação a duas pessoas que lhe pedem para o seguir e a um terceiro que ele mesmo chama (cf. Lc 9, 57-62), «designa outros setenta e dois discípulos e os envia dois a dois para irem à sua frente a todas as cidades onde está para chegar». A missão aos gentios é assim prefigurada, nos setenta e dois povos da terra conhecidos pela tradição judaica (cf. Gn. 10), que chegará aos confins da terra depois da morte e ressurreição de Jesus (cf. Lc 24,47).

«A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos»: estes poucos são os doze, são os setenta e dois, são a comunidade em minoria no seio do judaísmo e do mundo pagão; é «o pequeno rebanho» (Lc 12,32), nome cunhado por Jesus para a sua igreja de todos os tempos. E no entanto a desproporção entre a ingente messe e a escassez dos operários pode ser colmatada pela oração para que o Senhor da messe envie operários: no momento do envio dos discípulos o primeiro mandamento é a oração. De resto, não há missão que não seja precedida de súplica a Deus; não há evangelização sem pedir que «Deus abra a porta da pregação e assim possamos anunciar o mistério de Cristo» (Col 4,3). De resto, não tinha o próprio Jesus dado o exemplo, rezando antes de chamar os doze (cf. Lc 6, 12-13)?

Ora Jesus envia aqueles poucos discípulos não sozinhos mas dois a dois porque a sua comunhão fraterna é já anúncio do Reino: o Evangelho que encontra no amor o seu centro é testemunhado por pessoas que se suportam e corrigem mutuamente.

Eles são mandados «como cordeiros para o meio de lobos» a anunciar o Reino e a sua paz: são inofensivos, dotados apenas da capacidade que lhes foi conferida por Jesus de tirar terreno à acção de Satanás, através de palavras e acções que alcançam a sua eficácia pela potencia do Senhor (cf. Lc 9,1). Como já no primeiro envio, Jesus traça algumas características que qualificam a missão e que se podem resumir na radicalidade necessária para testemunhar o Evangelho. O aspecto do enviado deve ser sinal de que aquilo que ele anuncia é vivido na primeira pessoa: tudo deve mostrar a pobreza e o sentido de urgência que invade a missão, porque o estilo daquele que anuncia o Evangelho é constitutivo do próprio anúncio! Pobreza e precariedade não são um obstáculo à eficácia da missão, mas são as condições para se viver em profundidade a fim de que a missão seja real: não basta ter poucos meios, é preciso ser pobre; não basta anunciar a paz, é preciso ser operadores dela. E se Cristo veio trazer a paz a todos os homens (cf. Ef 2,17), mesmo a quem não o acolheu, outro tanto deverão fazer os seus discípulos, sem invocar uma vingança do céu sobre quem os recusa (cf. Lc 9, 54)…

É a estes enviados, pobres e pacíficos, que Jesus diz: «Quem vos escuta, a mim escuta, quem vos despreza, a mim despreza». Eis a grande responsabilidade dos cristãos: como Jesus com a sua vida narrou o Pai (cf. Jo 1,18), agora toca a nós narrar Jesus, ser suas testemunhas no mundo (cf. Lc 24, 28). É verdade que a missão cristão outra coisa não é que a manifestação da sequela de Cristo por parte de quem acolhe o seu chamamento e o amam com todo o seu ser. Quem se entrega radicalmente a ele experimenta a sua protecção e escuta a sua voz que lhe assegura: «Nada te poderá fazer mal»… Mesmo diante do sucesso da missão, ao constatar que «os demónios se submeterão a ele no Nome de Cristo», o cristão reconhecerá que o que é devido essencialmente à intercessão do próprio Cristo: «eu vos dei o poder de vencer o Inimigo». E assim viverá a sua palavra: «Não vos alegreis porque os demónios se submetem a vós, alegrai-vos antes porque os vossos nomes estão inscritos no céu».

Sim, a nossa alegria consiste na protecção do Senhor, no facto de que ele, depois de nos ter chamado, não desiludirá as nossas esperanças, mas através de nós difundirá sobre a terra o seu Evangelho: só nos é pedido que sigamos Jesus Cristo para onde quer que ele vá (cf. Ap. 14,4), sabendo que podemos anunciá-lo aos outros homens somente se ele vive em nós.

Enzo Bianchi
Prior de Bose
trad: mro