Simpósio do Clero em Fátima:Os vários tipos de associações ou movimentos como meios de realizar a comunhão, a fraternidade e a santidade sacerdotal
(Antoine Chevrier)
1. Associações e Movimentos…
A base legal ou jurídica sobre a qual assenta o direito de os sacerdotes criarem associações entre, por e para eles, encontra-se no cân. 278 Do Código de Direito Canónico. Reza assim:
§1 – “É direito dos clérigos seculares associar-se para finalidades conformes ao estado clerical”. §2 – “…dêem importância principalmente às associações que, tendo estatutos aprovados pela autoridade competente, por uma organização de vida adequada e convenientemente aprovada e pela ajuda fraterna, são de estímulo à santidade no exercício do ministério e favorecem a união dos clérigos entre si e com o Bispo”. §3 – “…abstenham-se de organizar ou participar de associações, cujo fim ou actividade não são compatíveis com as obrigações próprias do estado clerical, ou, que podem impedir o diligente desempenho do ofício a eles confiado…”.
Depois de várias considerações, o comentador diz: “Este direito de associação encontra-se limitado pelo que diz o cân. 287 §2”. (Da tradução oficial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – 1983).
É no Decreto sobre o ministério e a vida dos sacerdotes – Presbyterorum Ordinis, P.O., n.º 8, que se encontram resumidas as orientações sobre a matéria em causa. Sem ter a preocupação de citar o nome de qualquer associação ou movimento, por ali perpassa um determinado tipo de afirmações, através das quais, podemos identificar facilmente algumas delas… Assim:
— O que sobressai em primeiro lugar é o presbitério diocesano, uma espécie de grande associação a que se dá o nome de “fraternidade sacramental”. “Por isso – diz-se aí – é da máxima importância que todos os presbíteros, diocesanos ou religiosos, se ajudem mutuamente, para que sejam cooperadores da verdade. Cada membro do colégio presbiteral está unido aos outros por laços especiais de caridade apostólica, de ministério e de fraternidade. Embora ocupados em diferentes obras (…), formam um só presbitério, exercem o mesmo ministério sacerdotal a favor dos homens, são enviados para cooperarem na obra comum, têm todos uma só finalidade, isto é, a edificação do corpo de Cristo” (n.º cit.). E mais abaixo: “Cada presbítero se une, pois, com seus irmãos por vínculo de caridade, oração e o mínimo de cooperação, e assim, se manifesta aquela unidade na qual Cristo quis que os seus fossem consumados...” (ibidem).
— Quando se diz que “os mais idosos devem receber os mais novos como irmãos, ajudá-los nos seus primeiros empreendimentos e encargos do ministério, esforçar-se por compreender a sua mentalidade, embora diferente…”, pedindo também aos jovens que reverenciem a idade e a experiência dos mais velhos, se aconselhem com eles nas questões referentes à cura das almas, e colaborem de bom grado…”, podemos adivinhar aqui o espírito que deve reinar entre sacerdotes do mesmo arciprestado, da mesma zona pastoral, etc (ibidem).
— Do mesmo modo, fala-se de “espírito fraterno, de não se esquecer a hospitalidade, de cultivar a beneficência e a comunhão de bens com particular solicitude com os doentes, os atribulados, os que estão sobrecarregados de trabalho, os que vivem sós… Que se promova algum modo de vida comum, ou alguma convivência, que podem revestir determinadas formas (…)”. Isto, “sobretudo para que os presbíteros encontrem auxílio mútuo na vida espiritual e intelectual, para que mais facilmente possam cooperar no ministério e para se defenderem dos perigos da solidão que possa surgir” (ibidem). – Não se vislumbra nisto o espírito – e até a letra – dos objectivos que se propõem atingir a Fraternidade Sacerdotal e o IDAC com as suas várias vertentes?...
— Por fim, dois outros pontos são referenciados no texto, aparentemente simples mas importante:
. Um, a aconselhar que “se reúnam também espontaneamente e com alegria para descanso do espírito…”. – Supõe, creio eu, um tipo de grupos, pequenos mas unidos: pela proximidade, por idades, talvez pelo mesmo curso, por mentalidades semelhantes, amizade, etc. Faz-me lembrar o que ouvi – ou li – de D. António Marcelino, Bispo de Aveiro, quando, um dia, resolveu visitar um sacerdote. Ao chegar à residência paroquial, deu com a porta fechada e um pequeno aviso: “Saiu para descansar e rezar”.
. Outro, a lembrar a responsabilidade perante um problema delicado: a especial atenção que se deve ter “para com os que vivem em dificuldades, ou mesmo, pedindo para eles “auxílio oportuno, caridade fraterna, advertência discreta, preces a Deus…”, tratando-os sempre “como verdadeiros irmãos e amigos” (ibidem). – Aqui está um aspecto das relações no interior do presbitério em que, possivelmente, todos tenhamos falhado um pouco.
2. Uma experiência concreta – Padres do Prado
“A Associação dos Padres do Prado é um Instituto Secular Sacerdotal de direito pontifício, constituído por padres enraizados nas Igrejas particulares, como padres seculares, que aí partilham e estimulam o dinamismo missionário” (do Decreto da Aprovação). “É o fruto de uma graça concedida pelo Espírito Santo à Igreja na pessoa de Antoine Chevrier, padre da diocese de Lyon (França), para a evangelização dos pobres” (n.º 1 das Constituições).
Nascido a 16 de Abril de 1826 e ordenado em 1850, foi logo nomeado coadjutor da paróquia de Sto. André de la Guillotière, bairro industrial e operário da cidade. Três coisas aí o marcaram e fizeram sofrer muito: - a “miséria e ignorância” das pessoas, agravada pelas “inundações catastróficas” do Ródano em fins de Maio de 1856; - o “distanciamento do clero em relação às mesmas; - a sensação nítida de que a pastoral utilizada pela Igreja local não servia; - “Um pouco menos de devoção e um pouco mais de fé”, dizia.
Alguns meses depois, deu-se um acontecimento, que ele apelida de místico-apostólico. Conta ele: “foi em Santo André que o Prado nasceu. Foi meditando durante a noite de Natal de 1856 sobre a pobreza de Nosso Senhor e sobre a Sua descida para o meio dos Homens que resolvi deixar tudo e viver o mais pobremente possível… Foi o mistério da Incarnação que me converteu!... Então decidi-me a seguir Nosso Senhor Jesus Cristo de mais perto. E o meu desejo é que vós próprios sigais de perto Nosso Senhor”.
A. Chevrier estava convicto de que a “formação de sacerdotes e catequistas, consagrados à evangelização dos pobres, era a grande necessidade da sua época e da Igreja”. E para isso, só sacerdotes pobres estariam em condições de o fazer: “Sacerdotes despojados (Presépio), crucificados (Calvário) e comidos (Eucaristia)”.
Um Princípio Fundamental: conhecer Jesus Cristo é tudo!
Como meios para conhecer, seguir de perto e anunciar Jesus Cristo, essencialmente quatro:
a) Estudo do Evangelho: “Nenhum outro estudo deve ser preferido àquele, porque só este conhecimento nos pode fazer padres”. Daí, os pradosianos comprometem-se a consagrar muito tempo a estudar Jesus Cristo tal como se nos revela nas Sagradas Escrituras.
b) Releitura de vida - nossa e dos pobres – à luz do Evangelho: Somente um “olhar contemplativo” sobre a vida nos permite descobrir os “sinais” da presença e acção de Deus nela, a fim de nos deixarmos guiar pelo Espírito.
c) Vida de Equipa – Vida fraterna - : Como se disse atrás (P.O. n.º 8), esta vida de equipa pode revestir “diversas formas” como; “habitar juntos, onde isso seja possível, tomar as refeições em comum, ter reuniões frequentes e periódicas”, sair em conjunto, auxiliar-se mutuamente, etc. Esta “vida em equipa” não tira nada à nossa “pertença ao presbitério da diocese, nosso primeiro espaço de fraternidade”.
d) Seguir o Padre Chevrier como guia…: Aqui, vem a propósito falar dos seus escritos: o Verdadeiro Discípulo, livro essencial para conhecer o seu pensamento sobre o que deve ser um “padre segundo o Evangelho”; depois, as suas cartas, os Escritos Espirituais, etc.
Nota: António Chevrier foi beatificado em Lyon, no dia 4 de Outubro de 1986, tendo as Constituições Renovadas sido aprovadas por Roma um ano depois, em 7 de Junho de 1987.
Aquando da beatificação, João Paulo II deixou aos pradosianos quatro grandes orientações: “Ide ao encontro dos pobres para fazer deles verdadeiros discípulos de Jesus Cristo”; “Que o vosso sinal distintivo seja sempre a simplicidade e a pobreza”; “Falai de Jesus Cristo com a mesma intensidade de fé como o Padre Chevrier”; “Apoiai-vos sempre em Jesus Cristo e na Igreja”.
Avelino Cardoso (Padre pradosiano)
1. Associações e Movimentos…
A base legal ou jurídica sobre a qual assenta o direito de os sacerdotes criarem associações entre, por e para eles, encontra-se no cân. 278 Do Código de Direito Canónico. Reza assim:
§1 – “É direito dos clérigos seculares associar-se para finalidades conformes ao estado clerical”. §2 – “…dêem importância principalmente às associações que, tendo estatutos aprovados pela autoridade competente, por uma organização de vida adequada e convenientemente aprovada e pela ajuda fraterna, são de estímulo à santidade no exercício do ministério e favorecem a união dos clérigos entre si e com o Bispo”. §3 – “…abstenham-se de organizar ou participar de associações, cujo fim ou actividade não são compatíveis com as obrigações próprias do estado clerical, ou, que podem impedir o diligente desempenho do ofício a eles confiado…”.
Depois de várias considerações, o comentador diz: “Este direito de associação encontra-se limitado pelo que diz o cân. 287 §2”. (Da tradução oficial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – 1983).
É no Decreto sobre o ministério e a vida dos sacerdotes – Presbyterorum Ordinis, P.O., n.º 8, que se encontram resumidas as orientações sobre a matéria em causa. Sem ter a preocupação de citar o nome de qualquer associação ou movimento, por ali perpassa um determinado tipo de afirmações, através das quais, podemos identificar facilmente algumas delas… Assim:
— O que sobressai em primeiro lugar é o presbitério diocesano, uma espécie de grande associação a que se dá o nome de “fraternidade sacramental”. “Por isso – diz-se aí – é da máxima importância que todos os presbíteros, diocesanos ou religiosos, se ajudem mutuamente, para que sejam cooperadores da verdade. Cada membro do colégio presbiteral está unido aos outros por laços especiais de caridade apostólica, de ministério e de fraternidade. Embora ocupados em diferentes obras (…), formam um só presbitério, exercem o mesmo ministério sacerdotal a favor dos homens, são enviados para cooperarem na obra comum, têm todos uma só finalidade, isto é, a edificação do corpo de Cristo” (n.º cit.). E mais abaixo: “Cada presbítero se une, pois, com seus irmãos por vínculo de caridade, oração e o mínimo de cooperação, e assim, se manifesta aquela unidade na qual Cristo quis que os seus fossem consumados...” (ibidem).
— Quando se diz que “os mais idosos devem receber os mais novos como irmãos, ajudá-los nos seus primeiros empreendimentos e encargos do ministério, esforçar-se por compreender a sua mentalidade, embora diferente…”, pedindo também aos jovens que reverenciem a idade e a experiência dos mais velhos, se aconselhem com eles nas questões referentes à cura das almas, e colaborem de bom grado…”, podemos adivinhar aqui o espírito que deve reinar entre sacerdotes do mesmo arciprestado, da mesma zona pastoral, etc (ibidem).
— Do mesmo modo, fala-se de “espírito fraterno, de não se esquecer a hospitalidade, de cultivar a beneficência e a comunhão de bens com particular solicitude com os doentes, os atribulados, os que estão sobrecarregados de trabalho, os que vivem sós… Que se promova algum modo de vida comum, ou alguma convivência, que podem revestir determinadas formas (…)”. Isto, “sobretudo para que os presbíteros encontrem auxílio mútuo na vida espiritual e intelectual, para que mais facilmente possam cooperar no ministério e para se defenderem dos perigos da solidão que possa surgir” (ibidem). – Não se vislumbra nisto o espírito – e até a letra – dos objectivos que se propõem atingir a Fraternidade Sacerdotal e o IDAC com as suas várias vertentes?...
— Por fim, dois outros pontos são referenciados no texto, aparentemente simples mas importante:
. Um, a aconselhar que “se reúnam também espontaneamente e com alegria para descanso do espírito…”. – Supõe, creio eu, um tipo de grupos, pequenos mas unidos: pela proximidade, por idades, talvez pelo mesmo curso, por mentalidades semelhantes, amizade, etc. Faz-me lembrar o que ouvi – ou li – de D. António Marcelino, Bispo de Aveiro, quando, um dia, resolveu visitar um sacerdote. Ao chegar à residência paroquial, deu com a porta fechada e um pequeno aviso: “Saiu para descansar e rezar”.
. Outro, a lembrar a responsabilidade perante um problema delicado: a especial atenção que se deve ter “para com os que vivem em dificuldades, ou mesmo, pedindo para eles “auxílio oportuno, caridade fraterna, advertência discreta, preces a Deus…”, tratando-os sempre “como verdadeiros irmãos e amigos” (ibidem). – Aqui está um aspecto das relações no interior do presbitério em que, possivelmente, todos tenhamos falhado um pouco.
2. Uma experiência concreta – Padres do Prado
“A Associação dos Padres do Prado é um Instituto Secular Sacerdotal de direito pontifício, constituído por padres enraizados nas Igrejas particulares, como padres seculares, que aí partilham e estimulam o dinamismo missionário” (do Decreto da Aprovação). “É o fruto de uma graça concedida pelo Espírito Santo à Igreja na pessoa de Antoine Chevrier, padre da diocese de Lyon (França), para a evangelização dos pobres” (n.º 1 das Constituições).
Nascido a 16 de Abril de 1826 e ordenado em 1850, foi logo nomeado coadjutor da paróquia de Sto. André de la Guillotière, bairro industrial e operário da cidade. Três coisas aí o marcaram e fizeram sofrer muito: - a “miséria e ignorância” das pessoas, agravada pelas “inundações catastróficas” do Ródano em fins de Maio de 1856; - o “distanciamento do clero em relação às mesmas; - a sensação nítida de que a pastoral utilizada pela Igreja local não servia; - “Um pouco menos de devoção e um pouco mais de fé”, dizia.
Alguns meses depois, deu-se um acontecimento, que ele apelida de místico-apostólico. Conta ele: “foi em Santo André que o Prado nasceu. Foi meditando durante a noite de Natal de 1856 sobre a pobreza de Nosso Senhor e sobre a Sua descida para o meio dos Homens que resolvi deixar tudo e viver o mais pobremente possível… Foi o mistério da Incarnação que me converteu!... Então decidi-me a seguir Nosso Senhor Jesus Cristo de mais perto. E o meu desejo é que vós próprios sigais de perto Nosso Senhor”.
A. Chevrier estava convicto de que a “formação de sacerdotes e catequistas, consagrados à evangelização dos pobres, era a grande necessidade da sua época e da Igreja”. E para isso, só sacerdotes pobres estariam em condições de o fazer: “Sacerdotes despojados (Presépio), crucificados (Calvário) e comidos (Eucaristia)”.
Um Princípio Fundamental: conhecer Jesus Cristo é tudo!
Como meios para conhecer, seguir de perto e anunciar Jesus Cristo, essencialmente quatro:
a) Estudo do Evangelho: “Nenhum outro estudo deve ser preferido àquele, porque só este conhecimento nos pode fazer padres”. Daí, os pradosianos comprometem-se a consagrar muito tempo a estudar Jesus Cristo tal como se nos revela nas Sagradas Escrituras.
b) Releitura de vida - nossa e dos pobres – à luz do Evangelho: Somente um “olhar contemplativo” sobre a vida nos permite descobrir os “sinais” da presença e acção de Deus nela, a fim de nos deixarmos guiar pelo Espírito.
c) Vida de Equipa – Vida fraterna - : Como se disse atrás (P.O. n.º 8), esta vida de equipa pode revestir “diversas formas” como; “habitar juntos, onde isso seja possível, tomar as refeições em comum, ter reuniões frequentes e periódicas”, sair em conjunto, auxiliar-se mutuamente, etc. Esta “vida em equipa” não tira nada à nossa “pertença ao presbitério da diocese, nosso primeiro espaço de fraternidade”.
d) Seguir o Padre Chevrier como guia…: Aqui, vem a propósito falar dos seus escritos: o Verdadeiro Discípulo, livro essencial para conhecer o seu pensamento sobre o que deve ser um “padre segundo o Evangelho”; depois, as suas cartas, os Escritos Espirituais, etc.
Nota: António Chevrier foi beatificado em Lyon, no dia 4 de Outubro de 1986, tendo as Constituições Renovadas sido aprovadas por Roma um ano depois, em 7 de Junho de 1987.
Aquando da beatificação, João Paulo II deixou aos pradosianos quatro grandes orientações: “Ide ao encontro dos pobres para fazer deles verdadeiros discípulos de Jesus Cristo”; “Que o vosso sinal distintivo seja sempre a simplicidade e a pobreza”; “Falai de Jesus Cristo com a mesma intensidade de fé como o Padre Chevrier”; “Apoiai-vos sempre em Jesus Cristo e na Igreja”.
Avelino Cardoso (Padre pradosiano)
1 Comments:
I like it! Good job. Go on.
»
By Anónimo, at 8:15 da manhã
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