O Bom Pastor:

Formação do Clero da Arquidiocese de Braga

31.8.06

A descida a um coração



A oração. Dos imensos paraísos que perdemos a oração parece ser aquele que mais necessitamos. Quase não chega a ser uma arte, mas é graças a ela que nos elevamos ao céu. A oração é a descida de um coração a outro. A descida ao coração de Deus ou a descida de Deus ao coração. Nunca se sabe.

27.8.06

Simpósio do clero em Fátima: «A vida do presbítero: vocação à perfeição e conselhos evangélicos (PO 12-17)»



É significativo que o autor da proposta desta série de textos de preparação para o Simpósio do Clero tenha escolhido para título da reflexão de hoje “A vida do presbítero: vocação à perfeição e conselhos evangélicos” e não “A vida espiritual do presbítero…”. Trata-se, por isso, de olhar a vida toda, unificada pela relação fundante com Cristo e com a Igreja, para que não aconteça aos presbíteros aquilo que o Padre Anselmo Borges dizia dos cristãos em geral: uma cisão entre a vida propriamente dita e uns “enclaves de beatice”.
Ainda há poucas semanas, numa conversa entre padres, falando sobre a questão dos bens materiais e do direito legítimo que os padres diocesanos têm de possuir e administrar tais bens, seja porque os adquiriram com o seu trabalho seja porque os herdaram de família, um dizia: “Eu sou dono daquilo que me pertence e ninguém tem nada a ver com isso”; ao que outro interpelou: “E tu, a quem pertences? A quem pertence o que dizes ser teu?” Este é o programa que, segundo me parece, tem a duração de toda a existência: unificar a vida de modo a que todas as suas dimensões (oração, afectividade, sexualidade, família, amigos, ministério, bens materiais, férias, etc…) sejam “propriedade” de Cristo e ordenadas para o exercício do ministério presbiteral na Igreja. Neste sentido, só podemos concordar com a conhecida afirmação: “O padre é um ser expropriado”!
“Expropriação” que nada tem de heróico nem tão pouco de jugo pesado, mas alegre participação – o mais das vezes inadequada – no dom que gratuitamente Cristo Bom Pastor faz de si mesmo para dar a vida a cada um daqueles que o Pai lhe confia. Cristo não desertou do seu rebanho; não o legou em herança a nenhum dos seus ministros nem à Igreja no seu conjunto. Ele permanece no meio dos seus, como o único doador da vida. Se alguma coisa os presbíteros realizam, só o podem fazer porque permanecem unidos a Cristo, pois “sem mim nada podeis fazer” (Jo 15, 5). É este amor de pastor (caridade pastoral) que caracteriza e unifica a vida do presbítero.
A perfeição – ou a santidade (aqui tomada como sinónimo) - vocação de todos os baptizados, como nos ensina o Concílio Vaticano II: “Todos os fiéis de qualquer estado ou condição são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade” (LG 40) é, portanto, um caminho a percorrer no interior da vida presbiteral e não numa via alternativa ou paralela: “Os presbíteros alcançam a santidade, de maneira autêntica, pelo exercício do seu ministério, desempenhado sincera e infatigavelmente no Espírito de Cristo” (PO 13).
A esta luz se podem compreender melhor os conselhos evangélicos – pobreza, castidade e obediência - como expressão privilegiada da entrega (dádiva) de toda a vida polarizada nestas três dimensões centrais que a caracterizam: o possuir, a afectividade (e sexualidade) e o poder. Esta proposta de vida evangélica, se bem que dirigida a todos os cristãos sem excepção, encontra nos presbíteros uma conexão particular, “não só porque estão na Igreja, mas também porque se encontram à frente da Igreja, enquanto configurados a Cristo Cabeça e Pastor, habilitados e empenhados no ministério da Ordem e vivificados pela caridade pastoral” (PDV 27).
Muito mais que um estado de perfeição pré-definido ou um conjunto de requisitos para o ministério ordenado, a vivência dos conselhos evangélicos apresenta-se como um caminho de configuração existencial com Cristo Pastor, onde cada um faz na sua própria vida a experiência da misericórdia de Deus. A nossa força não reside na vivência perfeita dos conselhos evangélicos, tão pouco no sucesso de uma boa organização pastoral, mas no amor do Bom Pastor que toma sobre si as nossas vidas feridas e dispersas. “Se não te lavar não terás parte comigo” (Jo 13, 8), dizia Jesus a Pedro. Quem assim consente ao paciente cuidado com que Cristo o configura, na consciência da sua própria necessidade de misericórdia, pode oferecer aos seus irmãos um coração capaz de os compreender e deles se compadecer.

P. Luís Gonzaga Marinho
(Director espiritual do Seminário Maior de Braga)

26.8.06

A liturgia de domingo: «isto escandaliza-vos»?




XXI DOMINGO DO TEMPO COMUM
Jo. 6, 60-69

A catequese sobre o «pão vivo quer desceu do céu» (Jo 6,51) consequente ao sinal da multiplicação dos pães realizada por Jesus (Jo 6, 11-13) chegou ao fim; agora o Evangelho descreve a reacção dos discípulos a este discurso, aqueles que tinham sido chamados por Jesus, que o tinham seguido e instruídos por Ele, o último e definitivo revelador de Deus (cf. Jo 1,18; 6,45).

A reacção dos discípulos é aquela já registada a propósito dos chefes religiosos (Jo 6,41-43): essa assume a forma de murmuração e escândalo: «Esta linguagem é dura —isto é incompreensível, inaceitável —; quem pode escutá-la?» Aconteceu tantas vezes ao longo da história da salvação, aconteceu a Jesus e aos seus discípulos, acontece ainda hoje nas nossas comunidades cristãs: mais cedo ou mais tarde se ouve a palavra do Senhor que parece exigir demasiado, uma palavra inesperada que parece impossível de realizar; face a ela cada um de nós é colhido pelo medo, até rejeitá-la da sua própria vida. Nesta situação esquecemo-nos da vocação recebida de Deus e da própria resposta dada a tal chamamento: é a hora da crise, mas infelizmente não se tem a força de a ler como uma passagem através da provação em vista de uma purificação, de uma adesão mais completa e mais sólida ao Senhor…

E no entanto, no meio desta crise comunitária Jesus não adoça as suas palavras. È quanto nos testemunham também os evangelhos sinópticos, quando narram a firmeza de Jesus diante de Pedro que contesta a necessidade da paixão (cf. Mc 8, 31-33; Mt 16, 21-23), dos discípulos que se opõem ao anúncio do matrimónio fiel (cf. Mt 19, 3-10), a quem recusa a partilha das riquezas (cf. Mc 10, 17-31). O mesmo acontece também aqui: não se podem esvaziar as exigências radicais do evangelho, parece dizer Jesus. Ele pede aos discípulos: «isto — isto é o anúncio eucarístico feito pouco antes (Jo 6,48-58) — escandaliza-vos? E se vissem o Filho do homem subir para onde estava antes?» São palavras com as quais Jesus anuncia a própria paixão e morte, o seu êxodo humanamente ignominioso deste mundo para o Pai. De facto, eucaristia e paixão-morte estão estreitamente ligadas, enquanto a eucaristia narra e sintetiza na «hora gloriosa» da morte da cruz (Jo 12,20-33; 17,1-5) toda a vida do Filho… Por outras palavras, é este o escândalo da cruz (1Cor 1,23): para não ficar presa disso é preciso acreditar em Jesus, aderir firmemente a toda a sua vida, sem escandalizar-se dele (cf. Mt 11,6).

E contudo Jesus sabe que entre os seus discípulos há quem não acredite. Como é possível? Sim, é possível que muitos que pensam ser crentes em Deus sejam na realidade incrédulos, como mostra a sucessiva controvérsia de Jesus com alguns dos judeus (Jo 8,31-59); é possível até que entre aqueles que foram envolvidos mais de perto com a vida de Jesus haja também quem não acredite nele, mas o seguem por outros motivos não confessados ou não confessáveis…É a esta a amarga experiencia que Jesus faz referencia quando afirma: «O escravo não fica para sempre na casa; só o filho permanecerá para sempre» (Jo 8,35). Quem fica na comunidade de Jesus como um escravo, antes ou depois fugirá, abandonando o Senhor e os irmãos; para perseverar na sequela de Jesus não basta um ideal nem são suficientes as nobres motivações: é preciso uma fé segura!
«A partir daquele momento alguns dos seus discípulos retiraram-se e não foram mais com ele», anota com duro realismo João, deixando entrever uma grave crise comunitária. É a este ponto que Jesus se dirige aos Doze, aos mais íntimos, com palavras provocatórias e, ao mesmo tempo, libertadoras: «Também vós quereis ir?». E Pedro responde, em nome dos Doze: «Senhor, a quem iremos nós? Tu tens palavras de vida eterna; nós acreditamos e conhecemos que tu és o Santo de Deus». Mas o longo capítulo sexto do quarto evangelho conclui-se com algumas palavras que constituem uma severa admonição para todo o cristão, que nunca se poderá considerar como garantido na própria sequela do Senhor: «Não eu fui que vos escolhi a vós, os Doze? E no entanto um de vós é um diabo!». Ele falava de Judas, filho de Simão Iscariotes: este de facto estava para o trair, um dos Doze» (Jo 6, 70-71).

25.8.06

Um arquitecto, uma Igreja: Heinz Tesar






Heinz Tesar
Igreja católica Christus Hoffnung der Welt, Donau-City, Vienna 1997-2000
© Foto Christian Richters


O austríaco Heinz Tesar (16 de Junho de 1939 em Innsbruck) é, dentro dos principais arquitectos contemporâneos, um poeta e artista. A sua obra foge a todas as categorias e preconceitos normalmente utilizados em arquitectura. Edifícos como o tearo Hallein (1993), o Sammlung Essl de Klosterneubur (1999) e a Igreja de Donaucity, em Viena (2000) são obras excentricas no mundo da arquitectura que suscitaram reacções seja de aplauso que de dissensão.

23.8.06

Uma família


Era uma família. Estavam reunidos à volta de um bolo, daqueles que nos recordam as doces tardes de criança, em casa da avó. Na confusão dos laços e papéis prateados comoveu-me a gentileza, a simpatia, com que o pai recebia, agradecido, os presentes. Um livro, um perfume rapidamente partilhado, um postal de alguém ausente, e por isso mais amado. Era decididamente uma família que sabia receber. Porque a vida é uma festa e saber recebê-la é um dom.

22.8.06

Um site, uma editora, uma biblioteca: ediciones Sígueme

Ediciones Sígueme es un proyecto editorial de inspiración cristiana que trata de participar en la creación de una cultura más plenamente humana.
Fabricar un libro no es algo neutral. Al contrario, todo libro forma parte de una tradición. Ediciones Sígueme se esfuerza por ofrecer libros profundamente humanos, rigurosos y abiertos al futuro.
Todo libro participa del contexto cultural en el que nace, pero también contribuye a generar una cultura nueva. Ediciones Sígueme desea participar en la creación de una cultura fraterna, universal y sensible a la trascendencia.
Cualquier libro es una buena noticia cuando hace mejores a los lectores que visitan sus páginas. Ediciones Sígueme edita libros para, desde la verdad profunda que toda religión atesora, ayudar a esclarecer ese misterio que todo hombre es.

Às terças, um livro: o guião literário de Andrei Rubliov

Andréi Rubliov
Andréi Tarkovsky
Colección «EL PESO DE LOS DÍAS», nº 50
ISBN 84-301-1596-x - 288 págs.
18,27 € - PVP 19 €
Formato: Cartoné 14,5 x 21,5 cm



El 5 de septiembre de 1970 Andréi Tarkovski escribía en su Diario: «Religión, filosofía, arte –los tres pilares sobre los que descansa el mundo– fueron inventados por el hombre para condensar simbólicamente la idea de infinito». Y tal vez sea esta también la clave para comprender el itinerario iniciático seguido por Andréi Rubliov, protagonista de la película del mismo título del cineasta ruso Andréi Tarkovski.

El rostro y la vida de este monje pintor de iconos muestran su permanente nostalgia de infinito, la búsqueda de esa revelación profunda que conmueve y purifica hasta el punto de recuperar la existencia espiritual en medio de una historia que, ya en el siglo XV como ahora, mutila el alma y le hace perder la sensibilidad para lo bello y lo eterno.

20.8.06

Simpósio do clero em Fátima: Os encontros Arciprestais favorecem a comunhão, a fraternidade e o sentido de presbitério?


O tema proposto para esta pequena reflexão, apresenta-se em termos de uma questão, à qual terei de apresentar uma resposta unívoca e sem hesitações: SIM.
Lily Tomlin afirmou que “o ser humano inventou a linguagem para satisfazer a sua profunda necessidade de se queixar”. Olhando para aquilo que os meios de comunicação nos trazem e para muitas palavras que chegam até nós, temos de concordar em parte, contudo, não pretendo servir-me deste “tempo de antena” para me queixar, até porque não é a minha maneira de estar na vida.
Mais do que fazer valer uma argumentação teórica refinada pelos conceitos oriundos dos estudos complexos, apraz-me fazer uma pequena reflexão a partir da minha curta experiência como sacerdote de 8 anos, 6 dos quais como Arcipreste.
Começo por conduzir cada um de nós ao documento conciliar, já de todos conhecidos, base destes artigos de “preparação” para o Simpósio, Presbyterorum Ordinis, citando o nº 8: “Animados de espírito fraterno, os presbíteros não esqueçam a hospitalidade (…). Reúnam-se também espontaneamente e com alegria (…). Encontrem auxílio mútuo na vida espiritual e intelectual, para que mais facilmente possam cooperar no ministério e para se defenderem dos perigos da solidão que possam surgir, promova-se entre eles algum modo de vida comum (…) ou pelo menos ter reuniões frequentes e periódicas.”
Tendo como base de análise este texto, gostaria de colocar em comum 5 “dimensões” que dão conteúdo e expressão à comunhão e fraternidade presbiteral na vivência arciprestal.
Encontro – Como os Apóstolos, depois do envio, regressaram e se congregaram novamente como “Grupo” (Cf. Mc 6), assim, os sacerdotes de um Arciprestado, ao longo da labuta pastoral anual, encontram-se. Este simples facto de se encontrar já é altamente positivo, já que mostra uma atitude activa para ir ter com o(s) outro(s), trata-se do sair do seu (mundo, trabalho, local … ou até comodismo) e avançar para o encontro com aqueles que têm a mesma missão. O facto de se agruparem num mesmo local vindos de diferentes “caminhos” para se cumprimentarem, falarem, rezarem, trabalharem… é altamente positivo. Só os amigos –aqueles que se olham positivamente- se buscam e encontrando-se exteriorizam essa alegria do encontro. Nestes encontros é essencial que “Procuremos sempre olhar as virtudes e as coisas boas que virmos nos outros e tapar-lhes os defeitos” (Santa Teresa de Jesus), só assim poderemos percebermo-nos como amigos que queremos o bem de quem está à nossa frente. As reunião arciprestais deverão ser momentos “formais” desta alegria do encontro de irmãos.
Oração – O capítulo 6 de S. Marcos também refere que os discípulos depois do anúncio encontraram-se com Jesus, não se trata só de um encontro entre eles, mas com Aquele que é a razão do seu viver e da sua missão. Assim, o encontro arciprestal nunca poderá descurar a Oração, nela se “traduz” e manifesta a essencialidade do presbítero – homem de Deus, da oração e da espiritualidade. Na oração sentimos o laço que nos une e alargar-se ao Eterno (Deus) e a toda Igreja celeste e terrena, nela crescemos na santidade e abrimos o espírito para a iluminação do alto que nos guia e ampara. O descanso atinge aqui uma dimensão radical: com Deus e em Deus, no encontro dos irmãos, qualquer que seja o problema, a dificuldade, a ingratidão, a incompreensão… tudo encontra “repouso em Deus”, já que diante d’Ele tudo é pequeno. Amigos, de verdade, em Deus seremos sempre homens da esperança e da alegria.
A oração aparece-nos como um óptimo momento para o encontro connosco, com o íntimo de cada um, e é nesse encontro que fortalecemos o nosso ser, a nossa missão e que descobrimos o verdadeiro valor da vida, já que sem esta dimensão nos falta o essencial, porque "quando um homem não encontra a si mesmo, não encontra a nada"(Goethe).
Amizade – Quando o espaço, tempo ou tarefas afastam os verdadeiros amigos, ao reencontrarem-se, no reencontro do olhar, brilhará a alegria que só eles saberão traduzir. É esta alegria que tem de existir em todos os sacerdotes de um arciprestado quando se encontram e se olham no mesmo local. A solidão que tanto atormenta os homens e mulheres do nosso tempo, à qual estamos também sujeitos, “encontra no encontro” arciprestal um óptimo momento para ser ultrapassada. O antídoto da solidão está na rede de laços sociais com que tecemos a nossa vida, sendo que para nós sacerdotes, os laços entre nós mesmos, numa partilha colaborante da vida pastoral, será a melhor “teia de laços” para impedirmos que o “vírus” da solidão entre no nosso íntimo e corroia o nosso coração e apostolado. É bom que cada um possa dizer com Cleyde Yáconis: “Não sei o que é a solidão. Nunca me senti só”. Volto a insistir: só numa vivência de amizade sincera isso é possível, sendo o amigo essa pessoa de confiança, “alguém com quem posso ser sincero. Perto dele, posso pensar alto” (Ralph Waldo Emerson). E termino com as palavras de Ralph Waldo Emerson: “A única maneira de ter um amigo é sendo um”.
Pastoral – É sabido de todos que a Pastoral não deve ser planeada e executada de forma isolada e individualista, mas em comunhão com a Igreja Universal e Particular. Os encontros arciprestais são um momento oportuno para o sintonizar dos planos pastorais paroquiais com o plano pastoral Diocesano. Ali se podem trocar experiências e planos pastorais paroquiais por forma a um enriquecimento comum; com o contributo de todos, se constrói o plano pastoral arciprestal e se assumem compromissos conjuntamente; se traçam directrizes pastorais conjuntas que dão unidade pastoral a uma zona, evitando deste modo o contra-testemunho do “este faz assim e o outro assado”. Também é importante aproveitar estes momentos para a avaliação do trabalho desenvolvido e da “eficácia” da implementação dos programas pastorais, já que só uma projecção assente numa avaliação do passado e suas acções, poderá traduzir-se num trabalho mais frutuoso, pertinente e realista. Para este trabalho conjunto, exige-se o trabalho e compromisso de cada um, porque “se cada um varresse a calçada de sua casa, no fim do dia a rua toda estaria limpa” (Jean Vien Jean). Este trabalho de mãos dadas que permitirá que as nossas paróquias e o presbiterado seja cada vez mais o rosto alegre e santo de Cristo.
Ajuda – A forma de se exercer a ajuda é multiforme e díspar na sua aplicação, contudo, refiro-me aqui sobretudo aos “problemas”. A simbólica cognitiva dos “problemas-questões-situações” com que o padre se depara no exercício do múnus pastoral, será certamente entre os próprios padres que melhor compreensão há-de encontrar. Certamente que os problemas de medicina serão mais facilmente falados e entendidos se conversados entre os médicos e não com um “leigo” na matéria, assim também entre nós. Sabendo nós que só se partilha a vida e os problemas com quem temos confiança séria e sincera, urge fortalecer esses laços entre cada sacerdote, a fim de que a partilha aconteça. Da minha experiência afirmo: há muitas coisas que falo com pessoas amigas e minha família, mas tenho a certeza e a convicção que determinadas coisas só com um sacerdote encontrarão um horizonte de entendimento e compreensão desejável para a empatia real (colocar-se no lugar do outro para o ouvir, entender e ajudar). Não se trata de criar um gueto fechado mas uma presença atenta de partilha e ajuda.
A terminar estas palavras gostaria de manifestar a profunda alegria que foi a vivência desta experiência de seis anos, pela qual todos os sacerdotes deveriam passar. Foi um tempo de crescimento como sacerdote e homem, a experiência vivida de amizade com sacerdotes, uns da minha idade, outros bem mais idosos, mas que em grande amizade vivemos este tempo. Se “o bom povo faz o bom pároco” também o “bom clero arciprestal faz o bom arcipreste”. Para bom muito me falta, mas reconheço o bom momento vivido. Findo com estas palavras, nas quais acredito: “A glória da amizade não é a mão estendida, nem o sorriso carinhoso, nem mesmo a delícia da companhia. É a inspiração espiritual que vem quando você descobre que alguém acredita e confia em você” (Ralph Waldo Emerson).
Roberto Rosmaninho Mariz
(Arcipreste de Vila Verde)

19.8.06

XX Domingo Tempo Comum: «quem come a minha carne e bebe o meu sangue»


XX DOMINGO DO TEMPO COMUM
Jo. 6, 51-58


Depois da narração do sinal operado por Jesus (cf. Jo. 6, 11-13) e a compreensão deste evento qual revelação de Jesus «pão da vida eterna» para quem o Pai atrai os homens (cf. Jo. 6, 26-51), hoje lemos algumas palavras de Jesus que iluminam o gesto por Ele deixado aos discípulos mais tarde, no fim da sua existência terrena: a Eucaristia, que João não apresenta como «instituída» por Jesus na última ceia (cf. Mc 14, 22-25 e par.), mas coloca aqui como anúncio na boca do próprio Jesus.

No diálogo com os chefes religiosos de Israel dentro da sinagoga de Cafarnaum, Jesus aprofunda ulteriormente quanto afirmado ao longo de todo o capítulo sexto do quarto evangelho, chegando à revelação decisiva: «Eu sou o pão vivo, descido do céu… O pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo». Este anúncio —que contem em si também uma promessa, como mostra o verbo no futuro— surge enigmático e escandaloso; Jesus exprime-se em termos particularmente crus e realistas, que ainda hoje fazem confusão aos nosso ouvidos: como é possível que um homem se dê a si próprio, a sua carne, a comer aos outros? Sim, quem não tem fé pode somente ficar escandalizado com estas palavras, que constituem um real motivo de escândalo…

E no entanto, face ao desconcerto dos seus interlocutores, Jesus reforça a afirmação e o faz em tom particularmente solene: «Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis em vós a vida!… A minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue é verdadeiramente uma bebida». Trata-se, portanto, de comer a carne e beber o sangue do Filho de Deus, isto é de comunicar com toda a sua vida, de assimilar como alimento e bebida a inteira vida de Jesus, a ponto de chegar a viver como ele viveu (cf. Fil. 2, 5; Tt 2, 11-12). Ao mesmo tempo estas palavras evocam também a paixão e morte de Jesus, o seu fim violento e injusto sofrido na Cruz, o seu corpo despedaçado e o seu sangue versado, dom de uma vida gasta pelos outros, dom de um amor vivido até ao extremo. De tudo isto a Eucaristia é o sinal e a narração na vida da Igreja…

Deve ser reconhecido que este anúncio eucarístico é verdadeiramente o grande mistério da fé e, simultaneamente, o grande mistério do amor. É mistério da fé enquanto se trata de comer e beber não um simples alimento e uma simples bebida, mas nada mais nada menos que a carne e o sangue do Filho de Deus, aquele que desceu do céu (cf. Jo. 3, 13; 6, 38.41.42) e ao céu subiu na hora da sua morte e ressurreição (cf. Jo 3, 13; 20, 17). É mistério do amor porque é preciso acolher, conhecer, amar e assimilar a vida de Jesus, na certeza de que essa é a narração do agapé, do amor de Deus pelos homens (cf. Jo 3,16; 15,9; 17,23-26).

Há, portanto, uma grande possibilidade oferecida aos que acreditam em Jesus Cristo, a de que o próprio Jesus viva nele e ele em Jesus: «Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele». Mas há mais: «Como o Pai, que tem a vida, me enviou a mim e eu vivo pelo Pai, também aquele que de mim se alimenta viverá por mim»: por meio de Jesus o crente pode participar da própria vida de Deus, a vida divina e eterna (cf. 2 Pe 1,4)! Por outras palavras: quem vive do amor de Jesus (cf. Jo 13,34; 15,12) vive da própria vida de Deus que é amor (cf. 1Jo 4,8.16), amor mais forte que a morte (cf. Ct 8,6) e de todo o pecado (cf. Lc 7,47).

À luz de tudo isto se compreende bem também o que está escrito no prólogo do quarto evangelho: «a Palavra fez-se Carne» (Jo 1,14), uma carne que na Eucaristia pode ser assimilada seja sob a forma das palavras de Jesus seja naquela sacramental do seu corpo e do seu sangue. Chegamos assim a uma compreensão profundíssima, que ilumina o grande mistério da eucaristia que nos é anunciado em todo o Novo Testamento: João revela-nos que a Eucaristia não é apenas memorial da paixão, morte e ressurreição de Jesus, mas é memorial de toda a vida do Filho, da sua vida junto do Pai antes que o mundo existisse, até à sua vinda na glória no fim dos tempos. É a este «cálice da síntese» —segundo as palavras de um padre da Igreja — que nós comungamos sempre que nos aproximamos da Eucaristia.

Um Museu, uma exposição: «¡Rusia!» no Guggenheim de Bilbao





Até ao dia 10 de Setembro é possível ver a maior e mais cuidada Mostra de Arte Russa nunca antes apresentada.

Esta exposição apresenta as obras maiores da arte russa desde século XIV até ao presente. Na exposição podem ver-se os ícones; retratos; escultura do século XVIII até ao século XX; o realismo crítico do século XIX, bem como o Realismo Socialista da era comunista; paisagens de todas as épocas; a primeira abstracção e a arte contemporânea experimental.

16.8.06

Sua beleza me salvaria para sempre



(Ícone da Dormição de Nossa Senhora)


Nunca mais me abandonaram aqueles versos de um poeta brasileiro sobre Lourdes. «Quem me dera estar em Lourdes quando a Virgem desapareceu, pois a saudade de sua beleza me salvaria para sempre». Às vezes penso nessa intensa luz que teima em ficar depois de uma presença que já não é. Ela torna-se o sustento para nossos dias. Faz-nos viver da memória, como uma visitação que sempre nos resgata. Talvez a saudade seja também um modo de não caminhar sozinho.

12.8.06

Simpósio do Clero em Fátima: A recomendação da vida em comum nas suas múltiplas manifestações

Vivemos num tempo em que se valoriza muito, a vários níveis o aspecto comunitário, colectivo, ou associativo, conforme as circunstâncias e características de vida e objectivos dos seus intervenientes. Não é de estranhar que também estes factores se apliquem à vida eclesiástica e sacerdotal.
Vamos cingir-nos ao nosso âmbito de vida eclesial e à situação do presbítero neste contexto social, cultural e até religioso, em que vive, tendo em conta a sua especificidade.
Podemos recuar no tempo e encontrar as raízes da genuína experiência dos primeiros presbíteros, i. é., os Apóstolos com o Mestre nesta forma de vida e formação. Creio que esta foi a primeira e mais profunda experiência de vida em comum: desde a escolha livre e pessoal, constituição do grupo, terminando com o envio de “dois a dois”. Se tivermos presente as exigências e recomendações feitas pelo Mestre quanto ao seu estilo de vida, concluímos facilmente que só em comum poderiam superar as naturais dificuldades que surgiam a todos os níveis.
Nos Actos dos Apóstolos, vemos a vida das primeiras comunidades cristãs e as características da vida comunitária, com especial referência à comunhão de bens entre todos.
Através dos tempos a Igreja procurou sempre cultivar este estilo de vida, nomeadamente nas várias formas de vida religiosa, em que a dimensão comunitária é fundamental. O aparecimento dos Seminários Diocesanos, após o Concílio de Trento procurou criar de algum modo um estilo de certa vida em comum na formação dos futuros presbíteros; porém, nunca se valorizou suficientemente esta faceta, vindo mais em relevo o agrupar em edifícios (seminários) os futuros sacerdotes, acentuando mais a sua preparação doutrinal, vivida de forma individual, do que a experiência de vida em comum.
Foi de modo muito particular só a partir do Concílio Vaticano II que veio mais em relevo este estilo de vida em comum, também aplicada aos sacerdotes diocesanos, sem confundir com a vida religiosa, mas que fosse uma resposta aos novos desafios.
O decreto sobre o Ministério e a Vida dos Sacerdotes (“Presbyterorum Ordinis”), dedicou o nº8 expressamente à vida em comum, que pode ser encarada e vivida em várias situações. Vale a pena citar textualmente alguns pontos: “…Animados de espírito fraterno, os presbíteros não esqueçam a hospitalidade, cultivem a beneficiência e comunhão de bens, tendo particular solicitude com os doentes, os atribulados, … Reúnam-se também espontâneamente e com alegria, para o descanso do espírito. … procure-se entre eles algum modo de vida comum, ou alguma convivência, que podem revestir várias formas, conforme as necessidades pessoais ou pastorais; por exemplo, habitar juntos, ou tomar refeições em comum, ou pelo menos ter reuniões frequentes e periódicas. Devem ter-se em especial apreço e promover diligentemente as associações, que com estatutos aprovados pela competente autoridade eclesiástica promovem a santidade dos sacerdotes no exercício do ministério, por uma apropriada regra de vida e ajuda fraterna…”
Mais tarde, o novo Código de Direito Canónico, diz expressamente no can. 280: “Muito se recomenda aos clérigos alguma forma de vida comum, a qual onde esteja em uso, se há-de conservar quanto possível.”
Depois é a Congregação para o Clero, no Directório para o Ministério e Vida dos Presbíteros, que referindo toda a doutrina anteriormente promulgada, insiste de forma particular no aproveitamento das várias modalidades da vida em comum, pondo em relevo a oração litúrgica em comunidade, sem a confundir com o estilo e prática específica da vida religiosa.
Recentemente, a Carta Apostólica do Papa João Paulo II, “Novo Millenio Ineunte” nas directrizes traçadas para toda a Igreja do Terceiro Milénio afirma, no nº 43: “Fazer da Igreja a casa e a escola da comunhão: eis o grande desafio que nos espera no milénio que começa, se quisermos ser fiéis ao desígnio de Deus e corresponder às expectativas mais profundas do mundo”.
Após esta breve síntese dos documentos do Magistério, é clara a orientação da Igreja sobre a vida dos sacerdotes focalizada neste aspecto de vida comum, embora não se imponha; daí a necessidade e vantagem que surjam várias experiências, partindo da livre iniciativa dos sacerdotes, muitas vezes estimulados e apoiados por algumas espiritualidades que formam neste sentido os seus membros. Aliás toda a vida em comum surge como expressão do próprio mistério da Igreja-comunhão.
É verdade que se o sacerdote não fizer esta experiência de vida comum, em qualquer dos vários aspectos referidos, terá muita dificuldade prática em ser ele mesmo artífice e líder de comunidades autênticas.
Este estilo de vida deve ser encarado numa perspectiva de realização e felicidade pessoal que muitos podem encontrar, tendo em conta o querer e pensar da Igreja hoje e abrindo também caminhos para experiências pastorais muito úteis em vários sentidos, até com benefícios para as comunidades paroquiais etc. Suponho que é por aqui que se deve começar e investir na formação dos agentes da pastoral, que depois de uma experiência de comunhão de vida no campo espiritual, podendo também chegar a alguma comunhão de bens materiais, sentirão como natural a concretização das “unidades pastorais”, que devem assentar num estilo de vida já testado e com provas da eficácia que traz a vida em comum no Presbitério; portanto devem ser mais fruto de uma expressão de vida, do que uma estrutura pastoral.
É preciso não temer experimentar, pois só assim se pode depois ter a ousadia de propor algo de vivo e actual às comunidades.

11.8.06

Um arquitecto, uma Igreja: Siza Vieira













Álvaro Joaquim de Melo Siza Vieira (Matosinhos, 25 de Junho de 1933) é um arquitecto português estabelecido no Porto, de prestígio internacional. Formou-se na Escola Superior de Belas Artes do Porto, que frequentou de 1949 a 1955. Influenciado, numa primeira fase da sua obra por nomes internacionais da arquitectura como Adolf Loos e Frank Lloyd Wright, cedo Siza conseguiu afastar-se dessas influências claras e traçou a sua linguagem que nos remete tanto a influências clássicas como ao desenho claro e limpo que definiu a obra de Mies, os planos horizontais, a clareza das formas, o requinte do espaço. Criando marcos arquitectónicas na história da arquitectura portuguesa como a Casa de chá, as Piscinas de matosinhos, o Museu Serralves, a igreja de Marco de Canavezes, ou mais recentemente, o Museu para a Fundação Iberê Camargo noBrasil onde Álvaro Siza Vieira marca uma nova linguagem arquitectónica, muito à semelhança de Corbusier que na sua terceira fase afasta a racionalidade das villas, Siza consegue-se re-interpretar ou mesmo re-desenhar-se, procurando uma linguagem que, até então, tinha vindo a mostrar em alguns apontamentos de obras recentes complexidade formal aliada a uma aparente simplicidade do desenho.

9.8.06

Um vento, um sopro, uma respiração

Podemos imaginá-lo como um vento,um sopro, uma respiração, por vezes suave, pairando sobre as águas, por vezes vigoroso, rasgando o medo. Podemos imaginá-lo como um fogo, iluminando todas as espécies de noites ou purificando, ardentemente, um coração. Podemos imaginá-lo como uma pomba, inocente, ou um voo, majestoso, de águia. Podemos imaginá-lo como água, fonte pura ou torrente impetuosa das nossas sedes. Podemos senti-lo como um óleo, um perfume, uma unção que dá vida, esplendor e acompanha na morte. Podemos imaginá-lo, por fim, como uma pessoa. A terceira pessoa da Santíssima Trindade. O Espírito Santo.

6.8.06

Simpósio do Clero em Fátima: O IDAC, a digna sustentação do clero e a previdência social como instrumentos de comunhão

No artigo «Eucaristia – Comunidade – Missão», Ratzinger, hoje Bento XVI, traça alguns princípios para que entendamos a comunhão correctamente. E é bom tê-los em conta para que não caiamos no puro moralismo do «deve ser desta forma ou daquela», que muito pouco ou nada compromete de verdade, mas assentemos os nossos princípios de acção em bases sólidas, consistentes e exigentes.
Começa Ratzinger por afirmar que «só a fé em Cristo estabelece a comunhão». Mas mais: «a comunhão em e com o corpo de Cristo significa comunhão de uns com os outros. Compreende o aceitar-se, o mútuo dar e receber, a disposição essencial de partilhar. É incompatível com a comunhão eclesial que uns desfrutem de uma grande vida e outros sofram privações. ( Destaque de nossa conta).
A comunhão é sempre comunhão de mesa, no sentido mais rigoroso do termo…Neste sentido, a questão social está cravada de forma totalmente central no núcleo teológico do conceito cristão de ‘communio’». (p. 72).
Ser cristão significa ser ‘communio’ e com isso entrar na forma essencial do Espírito Santo. «Todavia, isto só pode ocorrer também graças ao Espírito Santo, que é a força de comunicação, o seu mediador, possibilitador e, como tal, pessoa própria». Indo mais fundo ainda: «Espírito é a unidade que Deus se outorga a si mesmo, na qual Ele mesmo se dá a Si mesmo, na qual Pai e Filho se correspondem entre eles. O paradoxal e próprio do Espírito é ser ‘communio’, ter nisso precisamente a maior mesmidade, ser totalmente a dinâmica da unidade. Por isso é que ‘espiritual’ sempre terá que ver, essencialmente, com vinculante, com comunicante». (p. 43).
Há muitos níveis da ‘communio’ ( koinonia, em grego) cristã, mas que, no essencial, nos remetem para a mesma e única coisa: «a comunhão com a Palavra incarnada de Deus, que nos faz participantes da sua vida através da sua morte, e, desta maneira, também nos quer conduzir ao serviço mútuo, à comunhão viva e visível». (p.73).
Para que atentemos bem nas exigências da ‘koinonia’ ou comunhão, serve-nos esta incomparável frase de Santo Agostinho: «Sem amor, pode existir fé; mas, uma fé sem amor não pode salvar». (p.52)
Na verdadeira ‘koinonia’ ou comunhão, a dimensão horizontal ou de serviço resulta da vertical, da ligação a Deus. Só enraizados na dimensão vertical poderemos entender e viver a sério a horizontal. Ou seja, o caminho para a comunhão dos homens entre si passa pela comunhão com Deus. Dito de outra maneira: a comunhão que realmente estabeleço com os outros é o sinal mais visível e eloquente da minha comunhão com Deus. Sinal de uma fé com amor, ou sem amor.
A Instituição IDAC (Instituto Diocesano de Apoio ao Clero), mais que uma exigência do Código de Direito Canónico, é uma tentativa de canalizar e organizar a comunhão material, pastoral e espiritual dos presbíteros da nossa Diocese. Nos seus objectivos, de acordo com o Estatuto renovado, recentemente aprovado, podem encontrar-se os seguintes pontos fundamentais: a) concessão de prestações complementares de invalidez permanente; b) garantia de subsídios eventuais para complementar a remuneração mínima; c) garantir ao clero apoio no seu dia a dia, de modo especial nas suas dificuldades.
O apoio no dia a dia é interpretado pela Direcção do IDAC e pela da Casa Sacerdotal sobretudo como solicitude fraterna para com todos os sacerdotes; compromisso de comunhão espiritual e pastoral; aposta na formação contínua do presbitério; e uma atenção especial às situações de doença e de velhice.
Se é certo que as condições de vida material do sacerdote mudaram muito nos últimos anos, para melhor, ainda há desigualdades gritantes entre os membros do presbitério, sem falar já das situações de velhice e doença, que exigem dos membros do presbitério uma renovada atenção e disponibilidade especial, que urge praticar quotidianamente, para que a nossa fé não apareça vazia de verdadeiro amor e, portanto, incapaz de realmente salvar.
A nova Casa Sacerdotal pretende ser uma das respostas aos vários problemas de autêntica comunhão presbiteral: necessidade de uma residência, em certos casos; necessidade de um Lar onde os sacerdotes necessitados de especiais cuidados de acompanhamento, quer por motivo de idade, quer por deficiências de saúde, possam ser assistidos fraterna e cordialmente.
Os desafios de solidariedade material para acabar de pagar a Casa e para a sustentar, são realmente imponentes. Mas mais fortes ainda são os desafios que até nem exigem disponibilidade financeira: sentir a Casa Sacerdotal como autêntica casa de família; fazer dela um santuário de gratidão para com os sacerdotes que dedicaram a sua vida à missão que a Igreja lhes confiou e que agora necessitam dos cuidados dos outros; e uma escola de vocações, na medida em que se torne palpável que, se o sacerdote deve ter sempre a disponibilidade para o serviço fraterno, que a toalha na cintura de Cristo, em Quinta – Feira Santa, bem indica, também pode contar com o serviço dedicado e amoroso dos outros presbíteros, leigos e seminaristas, tornando-se, assim, palpável que o sacerdote nunca será abandonado à sua sorte, mas poderá contar sempre com a inestimável ajuda amiga e fraterna dos outros presbíteros e demais membros que com eles colaboram.
Carlos Nuno Vaz
carlosnunovaz@oninet.pt
(Presidente do IDAC)

5.8.06

«Este é o meu Filho muito amado»

(Ícone da Transfiguração)

A TRANSFIGURAÇÃO Mc 9, 2-10

Logo depois de ter anunciado aos seus discípulos a necessidade da sua morte e ressurreição (Mc. 8, 31), Jesus, sobre o monte alto (o Tabor segundo a tradição), conhece uma experiencia de comunhão com Deus que tem como testemunhas os três discípulos mais íntimos: Pedro, Tiago e João. A Transfiguração acontece na carne humana de Jesus e, ao contrario da ressurreição, tem testemunhas oculares. Essa parece uma experiencia que tem Deus como autor (a forma passiva ‘foi transfigurado’ diante deles indica isso): trata-se portanto do sim de Deus ao homem Jesus, ao seu ministério, ao caminho que Ele está cumprindo a caminho de Jerusalém.

Jesus, como tantas outras vezes no seu itinerário histórico, «toma consigo» alguns discípulos e leva-os para outro lugar, para os introduzir no conhecimento do mistério da sua pessoa e na arte da relação com Deus. Na solidão e no silencio daquele «retiro» acontece algo de divino: a luz que envolve Jesus revela a qualidade divina que mora no homem Jesus. A experiencia da luz, como sempre na Escritura, é suscitada pela palavra de Deus: Elias e Moisés, ou os Profetas e a Lei, dialogam com Jesus. A Escritura conduz a Cristo. E não é por acaso que no coração da Transfiguração está a voz do alto que convida à escuta: trata-se da escutar o Filho escutando a Escritura, o Antigo e o Novo Testamento. De resto, se Elias e Moisés reenviam ao Antigo Testamento, Pedro, Tiago e João representam os Doze e a nova Aliança. Na vida espiritual cristã Jesus não pode nunca ser separado das Escrituras que falam dele, de outro modo acabaríamos por dirigirmo-nos não ao Senhor revelado pelo desígnio de Deus, mas a uma projecção das nossas imagens. Sem as Escrituras, corremos o risco de reduzir Jesus a mestre, guru, profeta, libertador politico e, portanto, de não acolhê-lo na sua autentica dimensão salvífica: a de Senhor.

Na Transfiguração, a Palavra da Escritura longamente escutada e meditada por parte de Jesus, torna-se experiência de comunhão vivente. Não leitura de páginas, mas dialogo com viventes: Elias e Moisés são viventes em Deus e Jesus está conhecendo uma experiencia de comunhão dos santos.

A esta comunhão participam de certa maneira também os três discípulos que, pela boca de Pedro, dizem a beleza do seu estar sobre o monte com Jesus. Todavia a experiencia espiritual não se esgota numa dimensão estética ou emocional, e exactamente Pedro, que não tinha querido escutar Jesus quando havia pré-anunciado a sua paixão e morte (Mc. 8, 32-33), é alertado pela voz divina da necessidade de escutar as palavras de Jesus. A escuta da palavra pode reconduzir à objectividade um Pedro que, fascinado e amedrontado, é presa do êxtase e do medo e «não sabe o que dizer». Sem a escuta da palavra do Senhor, Pedro, e com ele todo o cristão, não sabe o que dizer e não tem nada para dizer e arrisca-se até a dizer coisas vácuas e anunciar não Cristo mas a si mesmo.

A verdadeira beleza que emerge da experiencia da Transfiguração é a da comunhão: uma comunhão não psicológica ou afectiva, mas fundada em Cristo e que tem em Cristo, definitivo revelador do rosto do Pai, o seu centro. A esta comunhão bela podemos também chamar santidade. Trata-se portanto de comunhão e beleza em devir, não estática, não fixa, mas dinâmica. E movidos por aquela força do Espírito Santo ao qual faz alusão a «nuvem» que transmite a palavra de Deus e que envolve também os discípulos.

O dinamismo da acção santificante do Espírito requer então que os discípulos desçam do monte e regressem ao quotidiano, porque aquele é o lugar da santificação. E a contemplação do Cristo transfigurado será para os discípulos será penhor da sua ressurreição. O transfigurado anuncia o Ressuscitado. Anuncia a grande vitória da comunhão, do amor e da beleza sobre o isolamento e a morte. Anuncia o Reino de Deus, aquele Reino de salvação universal que os discípulos puderam contemplar no homem Jesus, aquele que soube fazer reinar Deus sobre si integralmente, totalmente.

4.8.06

Um arquitecto, uma Igreja: Le Corbusier






(Le Corbusier, Notre Dame du Haut, 1955)

Le Corbusier
(1887 - 1965)

Charles-Edouard Jeanneret, conhecido por Le Corbusier, nasceu a 6 de Outubro de 1887 em La Chaux-de-Fonds, Suíça, mas viveu a maior parte da sua vida em França. Foi um arquitecto que constituiu um marco muito importante no desenvolvimento da arquitectura moderna. Com a publicação de «Vers une Architecture» (1923) ele adoptou o nome Le Corbusier, e dedicou todo o seu talento e energia à criação da uma nova e radical forma de expressão arquitectónica. Em 27 de Agosto de 1965 morreu afogado no Mediterrâneo.

3.8.06

Férias num Mosteiro: Comunidade monástica de Bose




Bose é:

uma comunidade monástica de homens e mulheres
provenientes de igrejas cristãs diversas

Uma comunidade monástica em busca de Deus
no celibato, na comunhão fraterna
e na obediência ao evangelho

uma comunidade monástica presente
na companhia dos homens e ao seu serviço

2.8.06

Bruxelas Toussaint 2006


Tiradas do Evangelho de João, estas palavras acompanharão todas as actividades de Bruxelas 2006. Inscrevem-se no âmbito de um diálogo: “Mestre, onde moras?”, perguntam os que, mais tarde, serão os seus discípulos. “Vinde e vede...”, responde-lhes Jesus. Uma busca, um encontro, o convite a uma atitude, a uma experiência. Esse diálogo, iniciado há 2000 anos, continua nos dias de hoje.

Congresso para a Evangelização na Cidade

Depois de Viena, Paris e Lisboa, a Igreja de Bruxelas quer reflectir sobre a sua missão de evangelização na cidade. Embora o momento forte seja a semana de Todos-os-Santos 2006, graças ao Congresso na Basílica de Koekelberg e múltiplas outras actividades nas paróquias, este evento tem como objectivo dar aos agentes eclesiais uma ocasião regular para se encontrarem, reflectirem, partilharem e rezarem juntos.

Durante o Congresso, abriremos as portas das igrejas, sairemos para a rua e diremos a todos quem somos. Sem pretensões e sem nos impormos: simplesmente para mostrar que existimos e que procuramos ser solidários com tudo quanto constitui as alegrias e as tristezas deste nosso tempo.
Conferencistas de prestígio

Oradores de renome internacional em Bruxelas:
• Andrea Riccardi, fundador da Comunidade de Santo Egídio, com o tema: SERVIR
• Timothy Radcliffe, antigo mestre dos Dominicanos, com o tema: ANUNCIAR
• Nicolas Buttet, moderador da comunidade Eucharistein ? com o tema: CELEBRAR
• Enzo Bianchi, prior da comunidade de Bose, com o tema: REZAR
• Maggy Barankiste, burundesa que salvou milhares de crianças aquando do genocídio Inscrever-se e participar


Objectivos de Bruxelas 2006
• Aprofundar a nossa identidade de cristãos em Bruxelas, capital da Europa e da Bélgica, na continuação dos Congressos de Viena (2003), Paris (2004) e Lisboa (2005).
• Em torno do projecto de Bruxelas 2006, reunir as paróquias e outros agentes eclesiais de Bruxelas criando ocasiões regulares de encontros, reflexões, de partilha e espiritualidade, sempre numa dinâmica construtiva de médio prazo.
• Assegurar a visibilidade pertinente de uma Igreja católica moderna, aberta, presente, sem complexos nem arrogância, que quer fazer viver a mensagem e o exemplo de Cristo.

1.8.06

Edward Hopper, o pintor do verão

O verão, as férias, agosto



A natureza exulta, feliz, cheia de fulgor. Os frutos parecem dançar cada vez mais quentes e solares. A luz filtra-se fresca nos nossos olhares subitamente desarmados. No verão apetece andar descalço por meio dos campos, meter os pés dentro dos rios, deixar o mar entrar pela vida dentro. O verão é-nos oferecido gratuitamente, ano após ano, porque no fundo todos nós «somos crianças feitas para grandes férias».

(Mark Rothko, 1968)