O Bom Pastor:

Formação do Clero da Arquidiocese de Braga

2.7.06

Simpósio do Clero em Fátima: A distribuição dos presbíteros



Quem lê o n.º 10 da Presbiterorum Ordinis rapidamente percebe que a «distribuição» dos presbíteros de que aí se fala tem uma amplitude universal e um sentido eclesial profundo, na medida em que convida as dioceses, com maior abundância de sacerdotes, a permitir que exerçam o seu ministério noutras regiões e países.
Penso, no entanto, que a reflexão que se pretende para este espaço se enquadra mais na realidade diocesana e na forma como os presbíteros são distribuídos. Este é claramente um tema difícil e aqui se aplica a célebre sentença que afirma ser impossível agradar a gregos e a troianos.
Todos os anos, a preparação do Movimento Eclesiástico absorve imensas horas das reuniões do Conselho Episcopal. Nessas horas, o território da diocese transforma-se num verdadeiro tabuleiro de xadrez e não é muito fácil discernir caminhos e perceber qual a melhor opção a ser tomada. Há sempre imensos aspectos a considerar, sensibilidades variadas e flutuantes, circunstâncias pessoais de cada presbítero, situação de cada comunidade, avanços e recuos… No final, vamos percebendo, cada vez de forma mais clara, que somos poucos para tanto trabalho! No meio de tudo isto, tentar uma estratégia de distribuição afigura-se tarefa complicada.
Ao falar-se de «distribuição» e «sentido estratégico» do presbitério, o que é que se pretende ter em conta, quais os objectivos a alcançar?
Os próprios presbíteros, a sua vida humana, afectiva, espiritual, intelectual, etc.?
A qualidade da vida cristã das comunidades?
A forma como -- em presbitério diocesano -- pensamos, agimos e avaliamos a nossa pastoral? Por outras palavras: a estratégia de distribuição aponta para os presbíteros, para as comunidades ou para a acção pastoral?
Como com estes textos se pretende promover a reflexão e o debate, deixo algumas questões que, espero, possam proporcionar um diálogo aberto e franco. Toda esta ênfase dada, nos últimos tempos, à questão das “unidades pastorais” tem a sua raiz numa necessidade. Certamente, podemos dizê-lo, o ponto de partida é a necessidade. Sentimo-la também nós. Não se podendo reduzir o número de paróquias e diminuindo o número de presbíteros, tornou-se necessário atribuir ao mesmo presbítero duas ou mais paróquias. E ele terá de conjugar horários, compromissos, actividades, etc. Temos, ou melhor, podemos ter uma unidade pastoral, embora, por vezes, seja bastante difícil harmonizar as diferenças entre paróquias. E digo “podemos ter” porque uma unidade pastoral não nasce da soma de duas ou mais paróquias. Não se trata de uma questão de matemática. Uma unidade pastoral não pode ser pensada como uma bela operação de “engenharia pastoral”, mas antes de mais como ocasião preciosa para repensar o rosto de comunidades cristãs vivas, com uma multiplicidade de ministérios e carismas para “gastar” numa perspectiva evangelizadora e missionária. Afirma um documento de uma diocese italiana: «A unidade pastoral é a união na pastoral, a comunhão acolhida e vivida pelos operadores pastorais. Antes de ser um facto organizativo, a unidade pastoral é uma escolha de valores, de atitudes, de modos de pensar a pastoral nas paróquias».
Mas não é só por causa da diminuição ou até mesmo o envelhecimento do clero. Tal como não é esta “fórmula organizativa” que se convencionou chamar “unidade pastoral” que nos faz defender uma unidade na pastoral, entendida como uma pastoral capaz de convergir num mesmo projecto e responder a problemas comuns, uma pastoral articulada e elástica (= missionária) capaz de alcançar as pessoas. Afinal temos zonas pastorais e estamos longe da unidade na pastoral.
Algumas questões:
1) A menor quantidade de presbíteros é um convite à formação de núcleos de sacerdotes que (vivendo juntos ou não) sirvam um amplo território, apostando numa presença, talvez menor em termos de tempo, mas mais qualificada e centrada na proposta espiritual?
2) Como é que as paróquias de um determinado território que apresenta alguma homogeneidade podem trabalhar juntas para tornar visível a comunhão fundada em Cristo e para anunciar com mais eficácia o Evangelho? Quais os objectivos, critérios, metodologia de trabalho…?
3) Temos instituídas em alguns arciprestados da nossa diocese as chamadas zonais pastorais. Como têm funcionado? Como uma realidade essencialmente geográfica, que agrupa algumas paróquias mais ou menos homogéneas ou tem sido possível pelo menos uma colaboração entre as diversas paróquias ou sectores da pastoral? Será possível passar de uma “colaboração” a uma “programação unitária”?
4) Nesta “estratégia de distribuição” não farão falta novos espaços e novos métodos de estudo/confronto para que nos habituemos a pensar juntos, a discernir e dialogar com a sociedade em que vivemos e a descobrir que padres ser hoje?
5) Será suficiente uma redistribuição do clero sobre o território, apenas para consentir o mínimo de vida sacramental aos cristãos?
6) Como promover a comunhão como dimensão constitutiva da vida e do ministério do presbítero, procurando desta forma superar uma mentalidade e acção individualista para uma identidade relacional, de comunhão afectiva e pastoral, radicada no sacramento da Ordem e, portanto, no presbitério diocesano?
Unidade na pastoral muito mais que uma descoberta de qualquer pastoralista iluminado é um sinal de eclesialidade, uma exigência da pastoral e não apenas de hoje; e se é uma exigência -- muito antes de se institucionalizar alguma forma de unidade --, é preciso unir, formar, criar consenso no presbitério à volta dessa exigência. Será que é para esta meta que apontam as nossas estratégias?

António Sérgio Torres
Pároco de São Victor (Braga) e secretário da Coordenação Pastoral da Arquidiocese de Braga

3 Comments:

  • Honestamente não vejo que novidade traz este tipo de reflexão! As interrogações que aqui são levantadas qualquer pessoa minimamente lúcida as sabe levantar. O que nós procuramos é propostas credíveis que, pelos vistos poucos querem dar e ninguém arrisca concretizar! «Bem prega Frei Tomás»!!!

    By Anonymous Anónimo, at 5:23 da tarde  

  • parabéms pelo trabalho; peço desculpa pela ousadia do comentário neste espaço destinado aos pastores; acredito que está na hora de aprendermos a ser Igreja

    By Anonymous Anónimo, at 2:34 da tarde  

  • Venham daí as propostas que o comentário anterior sugere. Quais são?

    By Anonymous Anónimo, at 12:16 da manhã  

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