O Bom Pastor:

Formação do Clero da Arquidiocese de Braga

29.6.06

Thoughts in Solitude



Senhor, meu Deus, não imagino sequer para onde vou,
não vejo o caminho que se abre à minha frente.
Não posso saber com certeza onde terminará.
Tão-pouco me conheço realmente a mim mesmo,
e o facto de pensar que estou a cumprir a tua vontade
não signifca que estou a cumpri-la realmente.
Creio, porém, que o desejo de te agradar
te agrada mesmo.
Espero manter esse desejo em tudo o que fizer
e nunca fazer coisa alguma que se afaste deste desejo.
Sei que, assim procedendo,
me conduzirás pelo caminho recto,
mesmo quando acontecer que o não saiba.
Por isso confiarei sempre em Ti,
mesmo que pareça andar perdido
entre sombras de morte.
Nada temerei, pois comigo estarás sempre
e jamais me abandonarás diante do perigo.

(Thomas Merton)

Solenidade de S. Pedro e S. Paulo



Apolitikion - (1º tom)
Príncipes dos apóstolos e doutores do Universo,
São Pedro e São Paulo,
rogai ao Mestre de todas as coisas
que dê a paz ao mundo
e às nossas almas a sua grande misericórdia.

Hipacoï
Qual é a prisão que não te guardou algemado?
Qual é a Igreja na qual não foste pregador?
Damasco se orgulha de ti, ó Paulo,
pois te viu caído diante da Luz;
Roma se ufana de possuir teu sangue;
Tarso, porém, cuja alegria é maior,
venera com ardor teu nascimento.
Ó Pedro, rochedo da fé, e Paulo, glória do Universo,
vinde juntos confirmar-nos!

Kondakion
Levaste, Senhor, para descansar e gozar de teus bens,
os dois infalíveis pregadores de fala divina,
os príncipes dos apóstolos;
pois preferiste suas provações e morte a qualquer sacrifício,
Tu, o único conhecedor dos segredos dos corações.

Prokímenon
Por toda a terra espalhou-se a sua voz,
e até os confins do mundo foram as suas palavras.
Os céus narram a glória de Deus;
e o firmamento anuncia a obra de suas mãos.

Aleluia
Aleluia, aleluia, aleluia!

Os céus publicarão as tuas maravilhas, Senhor,
e a tua verdade, na assembléia dos santos.
Aleluia, aleluia, aleluia!

Deus é glorificado na assembléia dos santos,
grande e terrível sobre todos os que o cercam.
Aleluia, aleluia, aleluia!

Kinonikón
Por toda a terra espalhou-se a sua voz,
e até os confins do mundo foram as suas palavras.
Aleluia, aleluia, aleluia!

28.6.06

Simpósio do Clero de Portugal



Estão abertas as inscrições para o V Simpósio do clero de Portugal que se realizará em Fátima, de 5 a 8 de Setembro, no Centro Paulo VI. O Simpósio, promovido pela Comissão Episcopal Vocações e Ministérios, destina-se exclusivamente a clérigos. Cada presbítero da Arquidiocese receberá em sua casa o convite/programa, acompanhada de uma carta do Senhor Dom António Francisco dos Santos. O cupão de inscrição deve ser preenchido e entregue na Cúria Arquiepiscopal de Braga até 24 de Julho. O preço de inscrição é de 40€ (quarenta euros) para padres/diáconos e 30€ (trinta euros) para seminaristas. A diária é de 30€ (trinta euros)para padres/diáconos e de 20€ (vinte euros) para seminaristas.Inscreva-se e não falte!

Santo Ireneu em tempo de novas heresias

Ireneu nasceu perto do ano 130 e faleceu em 202. Foi educado em Esmirna, discípulo de Policarpo, bispo dessa cidade e discípulo de S. João. Durante 25 anos foi Bispo de Lião (França). Distinguiu-se na luta contra os Gnósticos, escrevendo a obra «Adversus haereses». Como diz a antífona de Laudes do seu dia litúrgico «s. Ireneu, homem pacífico pelo seu nome e pela sua vida, combateu valorosamente pela paz da Igreja».



Em tempos de novas (e tão velhas!) heresias Ireneu parece repetir incessantemente no seu «Adversus haereses»: «Por isso o Verbo tornou-se o administrador da graça do Pai, para proveito dos homens, em favor dos quais Ele pôs em prática tão sublime economia da graça, mostrando Deus aos homens e apresentando o homem a Deus. [...] Porque a glória de Deus é o homem vivo, e a vida do homem é a visão de Deus».

27.6.06

Cirilo de Alexandria e a maternidade divina de Maria


(Robert Hupka, Pietà)

Cirilo de Alexandria morreu no ano 444. Foi Bispo de Alexandria durante 32 anos e presidiu ao Concílio de Éfeso, onde defendeu energicamente a maternidade divina de Maria, contra os nestorianos.



Milhares de olhares contemplam, diariamente, a Pietà de Miguel Ângelo. Barulhentos, vorazes, os turistas passam, apenas curiosos. Poucos são os que têm coragem de parar, sem máquina fotográfica, ousando o silêncio de um encontro com Jesus e sua mãe. Na luminosidade do mármore quase podemos tocar o mistério desse corpo, livre e ferido, no regaço maternal. Mas impressiona também a atitude de Maria. Ela parece conversar, soberana, com seu filho, como aquelas mães que não deixam de cantar depois de os filhos adormecerem.

26.6.06

Às segundas um livro: O dom das lágrimas


(Joaquim Felix e José Tolentino Mendonça, «O dom das lágrimas», ed. Assírio e Alvim)

São um mistério, as lágrimas. De tristeza ou alegria, de chegada ou despedida, de amor ou arrependimento, as lágrimas acompanham e fertilizam a nossa vida. Tornam-nos humildes, abertos ao dom e permitem-nos encontrar a nossa primitiva beleza no coração de Deus. Talvez seja por isso que os padres do deserto quanto mais se aproximavam de Deus mais Lhe pediam o dom das lágrimas, o dom da conversão.

As antigas liturgias cristãs estavam presentes com orações próprias para ajudar na compunção, com o dom das lágrimas, para obter a purificação: "... retira da nossa dureza a compunção das lágrimas. Longo pranto por nossos pecados concede, pois, vendo-nos assim Te compadeces e obtemos remissão."
Foram algumas dessas orações que o P.e Joaquim Agusto Félix foi traduzir nos antigos Missais da Igreja em colaboração com o poeta José Tolentino Mendonça.

25.6.06

O Dia do Senhor



(Bassano, Jacopo, «Ultima Ceia», 1542, Roma)

Numa cultura de exigências e de direitos esquecemo-nos tantas vezes de agradecer. De acolher as pequenas coisas como uma espécie de perfume que faz bem ao coração. De não ter medo da delicadeza de um obrigado ou de um sorriso. A gratidão dá-nos a medida da consciência com que vivemos.

Simpósio dos Presbíteros em Fátima: As relações entre bispos e presbíteros

A Constituição dogmática Lumen Gentium, o Decreto Presbyterorum Ordinis e tantos outros documentos recordam-nos que Cristo, a quem o Pai santificou e enviou ao mundo, por meio dos seus apóstolos, tornou os bispos, que são sucessores deles, participantes da sua consagração e missão; e estes, por sua vez, transmitem o múnus do seu ministério em grau diverso e a diversos sujeitos na Igreja. Assim, os presbíteros, cooperadores da ordem episcopal, são chamados para o serviço do povo de Deus, sempre na dependência do Bispo e na comunhão com ele, com quem constituem um único presbyterium. Cada sacerdote, seja diocesano ou religioso, está unido aos outros membros deste presbitério, na base do sacramento da Ordem, por particulares vínculos de caridade apostólica e de fraternidade, de tal forma que o ministério tem uma radical forma comunitária e só pode ser assumido como obra colectiva. Tudo isto, de facto, dependerá muito -- embora não só -- das sadias relações do bispo com os presbíteros, dos presbíteros com o bispo e dos presbíteros entre si, com tudo aquilo que esse bom relacionamento implica de exigência pessoal e comunitária. A promessa de obediência que os presbíteros fazem ao bispo no momento da ordenação e o ósculo de paz do bispo no final da respectiva liturgia significam que o bispo os considera seus colaboradores, filhos, irmãos e amigos, e que, em contrapartida, eles lhe devem amor e obediência pastoral (cfr. LG 28; PO 7; PDV 17).
Recordemos que a instituição do Sacerdócio ministerial ocorreu num ambiente de amizade, de comunidade e comunhão, aberta ao presente e ao futuro da missão. Quando Jesus quis participar aos Doze a sua missão, chamou-os e constituiu-os para andarem com Ele: eram os seus amigos por excelência (Mc 3, 14). Quando chegaram ao fim dessa caminhada comum de três anos -- verdadeira escola junto do Mestre -- Jesus, na oração sacerdotal da última ceia, dirigiu-se aos Apóstolos com apreço e amizade porque eles não o tinham abandonado nas suas provações (Lc 22, 28); recordou-lhes que o amor mútuo era o essencial do verdadeiro seguimento (Jo 13, 35); pediu ao Pai, para eles, a comunhão e a unidade e recordou-lhes que se permanecessem n’Ele dariam muito fruto (Jo 15, 4). A esta primeira comunidade sacerdotal o Senhor quis, na verdade, agregar outros cooperadores que, vivendo em comunhão com Cristo e através dele com o Pai, fossem, com a força do Espírito, ao encontro dos homens para lhes apresentar a pessoa e a palavra de Cristo, tornando-os próximos e livres. Devemos reparar, porém, que Jesus ao enviar os setenta e dois discípulos e os doze apóstolos, os enviou dois a dois (cfr. Lc 10,1; Mc 6,7), para que se ajudassem reciprocamente na vida e no trabalho, para que criassem o hábito da acção comum e para que ninguém se julgasse dono da vinha, se anunciasse a si mesmo, ou viesse a agir por conta própria ou de forma isolada, independente da comunidade: da Igreja e dos Apóstolos.
Quando Jesus reza pela consagração deles na verdade e pela sua unidade, reza para que a sua vida seja um reflexo da comunhão das pessoas divinas (cfr. Jo 17,11): isto é, reza para que eles vivam em verdadeira comunhão e na unidade da diversidade dinâmica e corresponsável. Essa oração, mesmo que diga respeito a toda a Igreja, refere-se, antes de mais, a eles, aos apóstolos que Jesus quis particularmente reunir à sua volta e estende-se aos bispos e presbíteros de todos os tempos e lugares. Jesus quer que a comunidade sacerdotal (Bispos e Presbíteros) seja reflexo e participação da comunhão trinitária, com tudo aquilo que isso significa e exige de vida, de dedicação e empenho. A realização deste ideal, porém, no contexto em que Jesus reza ao Pai, deixa entender que lhes vai exigir muito amor, generosidade e sacrifício. Jesus pede a unidade dos seus apóstolos e dos seus seguidores, precisamente no momento em que se preparava para oferecer a sua vida pela unidade e salvação de todos, em total despojamento e obediência filial. Na Eucaristia encontramos a escola desse despojamento, dessa doação da vida e dessa obediência filial.
Os membros dum presbitério não podem, pois, fugir aos sacrifícios que a construção da fraternidade presbiteral e o bom relacionamento entre todos lhes possa pedir. Antes pelo contrário, esclarecidos e fortalecidos pela palavra e atitude de Cristo, despojados de si próprios e preocupados com a qualidade do presbitério, devem saber perder para ganhar, descobrindo nesse perder uma forma de participação no sacrifício redentor do Senhor, uma maneira de dar a vida para que os outros tenham vida e vida de qualidade.
Esta fraternidade presbiteral, esta unidade e comunhão entendida à imagem e semelhança da comunhão trinitária, supõe e reclama, da parte de todos (bispo e presbíteros), uma grande ascese e uma total adesão à pessoa de Jesus Cristo, rosto de Deus uno e trino. Só através desta amizade verdadeira e de uma vida de comunhão no pensamento e na vontade de Cristo, a fraternidade se traduzirá «espontânea e alegremente, na ajuda mútua, espiritual e material, pastoral e pessoal, nas reuniões e na comunhão de vida, de trabalho e de caridade» (LG 28). Só assim o Presbitério terá força capaz para gerar uma autêntica família que se ame, respeite e promova; uma família verdadeiramente sacerdotal, espaço de alegria e liberdade, sempre aberta à corresponsabilidade diferenciada, à comunhão fraterna e dinâmica, ao respeito mútuo e à aceitação do princípio de subsidiariedade que torna possível as diversas instâncias de decisão e os comuns programas pastorais. Só assim o presbitério sentirá a solicitude pastoral por toda a diocese; a acção terá eficácia; o diálogo entre todos será constante, leal e respeitoso; a amizade, uma certeza; a formação permanente, uma exigência de maior fidelidade à vocação e missão; a partilha, o apoio e a generosidade pastoral uma realidade; a obediência será verdadeiramente apostólica, comunitária e pastoral gerando força, confiança e paz. Enfim, o presbitério será uma comunidade de sacerdotes que «estão juntos num caminho comum, numa solidariedade na fé comum» (Bento XVI), procurando ser ministros do futuro do mundo e do futuro de cada pessoa.

D. Antonino Dias
Bispo Auxiliar de Braga

23.6.06

Simpósio dos Presbíteros em Fátima: Dom António dos Santos escreve aos sacerdotes

Caríssimo Sacerdote
Escrevo-lhe para lhe falar do Simpósio do Clero de Portugal e para o convidar a participar.
Realiza-se este V Simpósio do Clero de 5 a 8 de Setembro próximo, no Centro Pastoral Paulo VI, em Fátima. A Comissão Episcopal Vocações e Ministérios, mandatada pela Conferência Episcopal Portuguesa e com a ajuda e colaboração dos Delegados Diocesanos escolheu como tema deste Simpósio “A Comunhão Presbiteral ao Serviço da Comunhão Eclesial”. A urgência e a beleza do tema permitiu-nos organizar um programa consistente e estruturado onde a reflexão teológica e o aprofundamento pastoral caminham a par com a partilha de experiências e a abertura de horizontes que testemunham e exprimem o encanto da nossa vocação, a alegria da nossa fidelidade e a verdade do nosso ministério e da nossa vida, no mistério, na comunhão e na missão da Igreja.
A Comissão Episcopal escolheu a data de sempre, a primeira semana do mês de Setembro. Estou consciente que nenhuma data é a ideal mas creio que este tempo que vai do termo mais comum das férias até ao início do ano pastoral é o mais indicado. A presença de cada sacerdote é importante, enquanto útil para si próprio e necessária para os outros sacerdotes. O Simpósio quer ser um espaço e uma oportunidade de comunhão para o Clero de Portugal, mas também de comunhão com a história e os problemas do dia a dia dos nossos contemporâneos. Como bem dizia Paul Claudel: “Sobe ao campanário da tua paróquia e olha a partir daí o mundo.”
Espero e desejo que os temas propostos e as pessoas convidadas sejam uma razão acrescida para que seja muito numerosa a participação.
É vontade desta Comissão Episcopal que juntamente com os presbíteros das nossas Dioceses sejam também numerosos os sacerdotes dos Institutos Religiosos, porque também aqui queremos dar passos significativos de maior comunhão.
Imploro de Maria, a Senhora de Nazaré e do Cenáculo, Mãe da Igreja e nossa Mãe, protecção e bênção para cada um de nós, caríssimo sacerdote.
Unido em oração, dedicadamente:

António Francisco dos Santos
Bispo Auxiliar de Braga e
Presidente da Comissão Episcopal Vocações e Ministérios

22.6.06

Dia Mundial de Oração pela santificação dos sacerdotes

No dia 23 de Junho, Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, às 17 horas, na Capela da Casa Sacerdotal, o Senhor Arcebispo Primaz de Braga presidirá, com todo o presbitério que deseje associar-se, à Eucaristia desta jornada mundial de oração pela santidade dos sacerdotes.




Talvez o grande mal da sociedade seja a falta de atenção. Ainda que não o notemos, as nossas vidas são um grande incêndio. Os olhos, os rostos, as palavras e os silêncios foram contaminados por uma matéria incandescente. O homem e a mulher são habitados pelo fogo do Espírito Santo, o espírito de Jesus que passou fazendo o bem. Por isso a santidade é uma forma de atenção.

21.6.06

Simpósio dos Presbíteros em Fátima: o que é o Presbitério?

«Chorava José, no Egipto,
por seu pai, que era Jacó;
eu também choro e grito,
por me ver no mundo, só».

Assim cantavam os ceguinhos, há mais de meio século, nas romarias populares do coração das Beiras, na minha longínqua infância. Jamais se me sumiu na memória a interessante quadra, pois traduzia uma realidade, de que cedo me apercebi: nós nascemos para viver e actuar em sociedade ou grupo. Por isso, sofremos com a solidão.
A primeira sociedade que o homem encontra e o acarinha, logo ao nascer, é a família, na qual viu o seu primeiro dia luminoso, após nove meses na escuridão aconchegada do seio materno.
Seguem-se inúmeras outras em que se vê inserido, por circunstâncias alheias à sua vontade, ou por opção própria: a aldeia ou bairro, a escola, o grupo ou clube desportivo, a fábrica e a profissão, o partido político, o município, a nação e tantas mais.
Também na vertente religiosa depara com a mais variada modalidade de associações: a catequese e o grupo de acólitos ou coral, a paróquia e a diocese, os diversificados agrupamentos e movimentos.
Aqueles que optaram pelo serviço ministerial do povo de Deus, pela recepção do sacramento da Ordem, entram automaticamente num grupo bem caracterizado, estável e de incomparável coesão -- o Presbitério --, formado pelo conjunto dos presbíteros: genericamente de todo o mundo, particularmente de uma circunscrita área da Igreja Católica.
Mas, quem são os presbíteros?
O Decreto conciliar sobre o Ministério e vida dos sacerdotes -- aprovado em 7 de Dezembro de 1965, véspera do encerramento do Vaticano II, com 2.390 votos positivos e quatro negativos -- afirma no Proémio que «os presbíteros, em virtude da sagrada ordenação e da missão que receberam das mãos dos bispos, são promovidos no serviço de Cristo mestre, sacerdote e rei, de cujo ministério participam, mediante o qual a Igreja continuamente é edificada em povo de Deus, corpo de Cristo e templo do Espírito Santo». Logo a seguir, acentua que «o sacerdócio dos presbíteros (...) é conferido mediante um sacramento especial, em virtude do qual ficam assinalados com um carácter particular e, dessa maneira, configurados a Cristo sacerdote, de tal modo que possam agir em nome de Cristo cabeça. Participando, a seu modo, do múnus dos Apóstolos, os presbíteros recebem de Deus a graça de serem ministros de Jesus Cristo no meio do povo, desempenhando o sagrado ministério do Evangelho, para que seja aceite a oblação dos mesmos povos, santificada no Espírito Santo».
O actual Código de Direito Canónico recomenda que os candidatos ao sacerdócio «se preparem para a união fraterna com o presbitério diocesano, de que serão participantes no serviço da Igreja» (c. 245, 2).
Embora cada presbítero desempenhe uma missão específica na Igreja, ele encontra-se associado aos seus colegas e com eles solidário no serviço do povo de Deus; e isto, quer tenha sido ordenado em ligação imediata com uma diocese, quer inserido num instituto religioso; ou seja, pertencente ao clero diocesano ou congregacionista.
São actualmente mais de 400.000 os presbíteros ao serviço da Igreja em todo o mundo católico: exactamente 3.029 seculares e 1.076 religiosos, há dois anos. Distribuem-se por cerca de 220.000 paróquias, agrupadas em 3.000 dioceses, ou diferentes circunscrições eclesiásticas, equiparadas a umas e outras.
Em Portugal são um pouco mais de 4.000 os presbíteros -- seculares e religiosos --, ajudados por 150 diáconos permanentes, distribuídos por 21 dioceses (incluída a das Forças Armadas, de índole pessoal, inserida em todo o território nacional).
Em cada diocese, o conjunto dos presbíteros forma o presbitério diocesano -- que, em sentido amplo, abarca também os sacerdotes religiosos, com serviço estável na área daquela -- mas congregado em vários agrupamentos subalternos, como os arciprestados (ou ouvidorias) e as regiões pastorais. Em tempos antigos, houve os arcediagados, correspondentes de algum modo às actuais vigararias regionais (onde existem), sendo os vigários episcopais desta índole continuadores dos clássicos arcediagos.
Mais perto do bispo, para o servir na liturgia da Sé e aconselhar na organização da diocese e, de modo especial, sede vacante, surgiu o cabido da catedral, constituído pelos cónegos, tendo à frente o deão. Nas dioceses onde aquele não existe, ou não exerce as segundas funções, tem de se constituir um corpo de consultores, para este último serviço, competindo-lhe, em tal hipótese, eleger um administrador diocesano, o que tradicionalmente era atributo do cabido e continua a ser, onde tal for decidido.
Mas o principal agrupamento de presbíteros é actualmente o denominado conselho presbiteral -- de índole consultiva, como o nome indica --, a ser ouvido com periodicidade estatutária, ou de modo extraordinário, pelo bispo diocesano. Ele deve ser representativo de todo o presbitério da diocese (secular e religioso) com membros eleitos pelas bases, ou em razão dos cargos desempenhados e eventualmente alguns, embora em número reduzido, por escolha do bispo, tendo em conta qualidades específicas ou situações não devidamente representadas. Constituem uma percentagem do total do presbitério, inversamente proporcional ao número de elementos que o integram (vide cânones 495-502).
Permito-me terminar com uma alusão à minha experiência pessoal, pois sempre trabalhei com este órgão de assessoramento e aconselhamento, nos 35 anos em que desempenhei o serviço pastoral de bispo diocesano (1964-1999): oito em Moçambique, cinco em Angola e quase 22 em Portugal. Em Vila Cabral, o Conselho de presbíteros era constituído pela totalidade do clero (15 elementos, ou seja, 100%), em Sá da Bandeira, por 30% (30, em 90) e em Braga, por menos de 10% (45, em mais de 500); isto em números globais, mas bastante aproximados e reveladores.
Reunia invariavelmente com ele, duas vezes por ano, com grande ajuda para mim e creio que sem desapontamento para a instituição.

D. Eurico Dias Nogueira
Arcebispo Emérito de Braga

20.6.06

8 chaves de leitura da obra teológica de Ratzinger por Bruno Forte

O Bispo teólogo Bruno Forte, apresentou por estes dias, num congresso em Roma, oito chaves de leitura da obra teológica de Joseph Ratzinger, hoje Papa Bento XVI.



1— Bruno Forte partiu do contexto histórico-cultural na qual amadureceu a obra teológica de Bento XVI constatando que, se depois de 1968, «o tempo da utopia», face a uma visão de um «Deus otiosus» — «substancialmente inútil»— amadureceu a convicção anti-ideológica que caracterizou a sua obra, depois de 1989, quando prevaleceu o «tempo do desencanto» e a ideia do «Deus mortuus», o desafio ratzingeriano levou a «propor horizontes de sentido, de alegria e de esperança». É neste período que Ratzinger elaborou o conceito de «Deus caritas», diz Bruno Forte, e que mostra como o tema da sua primeira Encíclica foi longamente preparado.

2— A segunda etapa é a indicação do trabalho que Ratzinger assumiu com a sua teologia, «testemunhar com o serviço da inteligência a Palavra entre as palavras dos homens», ou «uma diaconia da verdade na casa da verdade», isto é a Igreja. Segundo Bruno Forte, de facto, não se pode compreender a verdade de Deus «sem um círculo hermeneutico que a torna sensata para nós», porque «Deus não se pode encontrar na solidão», mas numa «comunidade que faz memória e numa comunidade narrativa, que ao mesmo tempo é comunidade interpretativa da verdade que nos foi transmitida».

3— Quanto ao significado de crer, Bruno Forte, citando as palavras do Papa na «Introdução ao Cristianismo», observou que «acreditar significa dar o próprio assentimento àquele sentido que não estamos em condições de fabricar por nós mesmos, mas apenas de receber como um dom, de tal modo que basta que o acolhamos e nos abandonemos a ele».

4— O Deus no qual se acredita só pode ser pessoal, Deus Pai, que nos é revelado na história bíblica como o Deus vivente, ou o Deus de Jesus Cristo. Não se pode, de facto, amar um Deus ques e desconhece, mas somente um Dus pessoal, que nos dirige a palavra e ao qual nós podemos ao mesmo tempo dirigir.

5— Neste contexto, a relação entre o homem e Deus deve ser caracterizado pela passagem «do dualismo que contrapôs o humano e divino, fé e razão em muitas estações do espírito moderno à correspondência e ao encontro sem conclusões». «O humano e o divino encontram-se mas não se confundem em Jesus Cristo», observou Bruno Forte. Entre humano e divino existe ao mesmo tempo uma relação de negação, de afirmação e de superação: o divino nega o humano «violando o duro invólucro da auto-exaltação, que cobre a magnificência de Deus», afirma-o «no dinamismo de desejo de Deus que é constitutivo do ser humano» e o supera porque Deus não é a resposta às esperas do homem, mas é sempre superior, «é o Outro que nos atinge, nos perturba e nos inquieta».

6— A sexta chave é a Igreja, lugar onde habita Deus. «A Igreja deve sempre viver na docilidade ao Espírito Santo e deve estar pronta a reconhecer as resistências ao Espírito», reconhecendo, portanto, as culpas do passado.

7— Quanto à escatologia, «tema predominante no pensamento de Ratzinger», o «eskaton tem um tríplice sentido: em primeiro lugar, aquele relativo à identidade do cristianismo e da Igreja. O cristão é «um prisioneiro do futuro de Deus», que deve medir as susas escolhas sobre o horizonte de Deus infinito. O eskaton é também prolepse, isto é antecipação, porque «o cristianismo vive numa experiencia antecipada e antecipante das coisas últimas» pela fé e pelos sacramentos, mas é também «reserva crítica», porque às vezes o cristão vai contra a corrente.

8— A última etapa é o ícone que resume a sua obra teológica, Maria, síntese da eclesiologia, «ícone concreto e pessoal na qual se exprimem as coordenadas do pensamento cristão».

O Curso de Especialização em Informação Religiosa decorreu em Roma na Pontificia Universidade da Santa Cruz de 13 de Março a 16 de Junho. (Cf. www.zenit.org de 19 junho de 2006).

19.6.06

Dizer/não dizer Jesus no Evangelho de Marcos


(Fresco de Fra Angelico)

Não sabia que o Evangelho de Marcos foi quase esquecido durante vinte séculos. São raros os padres da Igreja que lhe dedicam a sua atenção e o seu tempo. Preferiram vê-lo como um «Mateus abreviado». Foi o século XX, novo século de mártires e de uma Igreja minoritária, que teve necessidade de redescobrir Marcos. O seu Evangelho é de uma beleza rara. A questão de fundo parece ser o DIZER Jesus. Muito mais importante do que CONHECER importa DIZER Jesus. Dizer implica uma implicação com Ele. Quando digo, implico-me. O texto começa narrando: «Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, FILHO DE DEUS». Mas se é surpreendente este começo o fim do texto é, no mínimo, da ordem do assombro. No cap. 16, 8 depois do jovem vestido de branco, sentado à direita, enviar as mulheres a dizer aos discípulos e a Pedro que os precedia na Galileia, o texto original de Marcos conlui: «Elas saíram e fugiram do túmulo, pois um tremor e um estupor se apoderaram delas. E nada contaram a ninguém, pois tinham medo...».

18.6.06

II Encontro Rotativo por Vigararias Territoriais


Na próxima Segunda feira, dia 19 de Junho, haverá o segundo Encontro da Formação do Clero da Arquidiocese de Braga. Depois de no dia 12 de Junho, em Balasar, o Bispo Auxiliar de Lisboa, Dom Manuel Clemente ter abordado a questão da Formação Humana e Espiritual com o tema: «Para mim viver é Cristo: a identidade sacerdotal hoje», nesta Segunda Feira, em Fafe (Igreja matriz) o biblista da Sociedade de Vida Apostólica Boa Nova, Doutor António Couto, vai falar da Formação Intelectual e Teológica, com o tema: «O Evangelista do Ano. Uma introdução a Marcos». No mesmo dia, no Salaõa S. Frutuoso, em Braga, o Cónego Manuel Joaquim abordará a Formação Litúrgica e Pastoral com o tema: «Todas as minhas fontes estão em Ti: ao ritmo diário da Liturgia das Horas». Os encontros começam às 9.30h. Em Fafe reunem-se os Arciprestados de: Terras do Bouro; Vieira do Minho; Celorico de Basto; Cabeceiras de Basto e Fafe. Em Braga reunem-se os Arciprestados de: Braga, Vila Verde, Póvoa de Lanhoso; Guimarães, Amares.

17.6.06

Corpo de Deus: um modo frágil, infinito, de ficar


Durante três anos aqueles amigos percorreram as cidades do Oriente. Sempre juntos, pobres, generosos, caminhavam na força que têm as palavras e os gestos. Á sua frente seguia alguém misterioso como o fogo, belo como o vento que bate nas árvores. Junto de Jesus, os dias eram um milagre. Mas Jesus sabe que tem de partir. Por isso encontrou um modo frágil, infinito, de ficar com os que ama: um pedaço de pão e um copo de vinho. «Este é o meu corpo. Este é o meu sangue. Eu estarei sempre convosco!»

«Um amigo é uma história que nos salva»

Dia Mundial de Oração pela santificação dos sacerdotes
— 23 de Junho (Solenidade do Sagrado Coração de Jesus)

«Chamei-vos amigos», as palavras de Jesus recolhidas no Evangelho de S. João (15,15) constituem o tema do Dia Mundial de Oração pela Santificação dos Sacerdotes, que se celebra na Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. O tema foi comunicado pela Congregação para o Clero, cujo Prefeito é o Cardeal Dario Castrillón.

O Dia Mundial pela Santificação dos Sacerdotes, instituida por João Paulo II, recorda aos presbíteros que «os homens desejam contemplar no sacerdote o rosto de Cristo». Este ano a Congregação propõe para meditação a Homilia do Santo Padre Bento XVI pronunciada na Missa Crismal da Quinta Feira Santa de 2006.

«O núcleo do sacerdócio é o ser amigos de Jesus Cristo», explicou o Papa. «Só assim podemos falar verdadeiramente in persona Christi, mesmo se o nosso interior afastamento de Cristo não pode comprometer a validade do Sacramento. Ser amigo de Jesus, ser sacerdote significa ser homem de oração»

«O mundo tem necessidade de Deus — não de um deus qualquer, mas do Deus de Jesus Cristo, do Deus que se fez carne e sangue, que nos amou até morrer por nós, que ressuscitou e criou em si mesmo um espaço para o homem. Este Deus deve viver em nós e nós n'Ele. É este o nosso chamamento sacerdotal: só assim o nosso agir de sacerdotes pode gerar frutos»

(Cfr. Homilia do santo Padre: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/homilies/2006/documents/hf_ben-xvi_hom_20060413_messa-crismale_po.html)

16.6.06

De profundis

Deus meu eu vos espero, Deus vinde a mim. Deus, brotai no meu peito, eu não sou nada e a desgraça cai sobre minha cabeça e as palavras são mentirosas e eu continuo a sofrer, afinal o fio sobre a parede escura. Deus vinde a mim e não tenho alegria e minha vida é escura como a noite sem estrelas e Deus por que não existes dentro de mim? por que me fizeste separada de ti? Deus vinde a mim, eu não sou nada, eu sou menos que o pó e eu te espero todos os dias e todas as noites, ajudai-me, eu só tenho uma vida e essa vida escorre pelos meus dedos e encaminha-se para a morte serenamente e eu nada posso fazer e apenas assisto ao meu esgotamento em cada dia que passa, sou só no mundo, quem me quer não me conhece, quem me conhece me teme e eu sou pequena e pobre, não saberei que existi daqui a poucos anos, o que me resta para viver é pouco e o que me resta para viver no entanto continuará intocado e inútil, por que não te apiedas de mim? que não sou nada, dai-me o que preciso. Deus, dai-me o que preciso e não sei o que seja, minha desolação é funda como um poço e eu não me engano diante de mim e das pessoas, vinde a mim na desgraça e a desgraça é hoje, beijo teus pés e o pó de teus pés, quero me dissolver em lágrimas, das profundezas chamo por vós e nada responde e meu desespero é seco como as areias do deserto e minha perplexidade me sufoca, humilha-me, Deus, esse orgulho de viver me amordaça, eu não sou nada, das profundezas chamo por vós, das profundezas chamo por vós, das profundezas chamo por vós...».

Clarice Lispector — «Perto do coração selvagem». ed. Relógio d’ água.

14.6.06

Orações de um coração que ferve...

«alivia a minha dor, faze com que eu sinta que a Tua mão está dada à minha, faze com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade, faze com que eu sinta que amar é não morrer, que a entrega de si mesmo não significa morte, faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária, faze com que eu não Te indague de mais, porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta, faze com que me lembre de que também não há explicação porque um filho quer o beijo de sua mãe e no entanto ele quer e no entanto o beijo é perfeito, faze com que eu receba o mundo sem receio, pois para esse mundo incompreensível eu fui criada e eu mesma também incompreensível, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e do nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la, abençoa-me para que eu viva com alegria o pão que eu como, o sono que durmo, faze com que eu tenha caridade por mim mesma pois senão não poderei sentir que Deus me amou, faze com que eu perca o pudor de desejar que na hora de minha morte haja uma mão humana amada para apertar a minha, amén».

Lispector, Clarice — Aprendizagem ou o livro dos prazeres. ed. Relógio d’ água.

12.6.06

Simpósio dos Presbíteros em Fátima: A comunhão na vida da Igreja

A afirmação da Igreja como «comunhão» – communio – de todos os crentes (ou «santos») é uma das características da eclesiologia do Concílio Vaticano II. Mas não pensemos que se trata de simples moda teológica ou pastoral. Isso corresponde a uma grande tradição de leitura da realidade eclesial e a algo teologicamente fundamental. Por isso, falar da realização da communio na vida da Igreja implica uma breve abordagem dos seus fundamentos teológicos.
1. Fonte
Ora, falar de fundamentos teológicos implica, por seu turno, falar de Deus e do seu significado para a nossa existência, neste caso enquanto existência numa comunidade a que chamamos Igreja. E é precisamente a esse nível que deve iniciar-se a consideração dos possíveis significados da communio.
O Deus em que acreditamos é Pai, Filho e Espírito – é uni-trino. Acolhê-lo e vivê-lo como tal implica conhecê-lo como relação de três pessoas diferentes, na unidade de um único Deus. Parecendo uma doutrina abstracta e mesmo difícil, trata-se de algo fundamental e, nesse sentido, simples. O Deus em quem acreditamos é pura relação de diferentes. Assenta na diferença das pessoas que o constituem (e não na sua absoluta igualdade) assim como na interligação das mesmas (e não no alheamento mútuo). Por isso, podemos dizer que Deus é, antes de tudo, comunhão. É isso que significa, basicamente, o resumo joanino da noção cristã de Deus como amor: Deus caritas est.
Ora, se podemos compreender Deus como comunhão, devemos compreender toda a comunhão à imagem e semelhança da comunhão divina. De facto, sendo Deus a fonte de tudo, e sendo o ser humano – enquanto ser de relações sociais – imagem e semelhança do seu Deus, então as relações inter-humanas serão tanto mais verdadeiras quanto mais reflectirem a fonte.
Nessa correspondência a Deus, vai-se realizando, ao longo da história humana, a salvação, quer a nível pessoal quer a nível universal. Assim sendo, a história do ser humano, em perspectiva cristã, destina-se a transformar toda a realidade em Reino de Deus, isto é, em realidade orientada a partir do Deus-comunhão e para o Deus-comunhão.
2. Missão
Ora, essa transformação, enquanto acção do Espírito em nós, é precisamente missão da Igreja. Poderíamos, desse modo, definir esta como a comunidade daqueles que, acolhendo o Espírito de Deus, trabalham na transformação do mundo – sobretudo do mundo inter-humano – em imagem Sua. Essa é a sua razão de ser, a sua «essência». Se a Igreja não for isso, simplesmente não será Igreja.
Uma das formas de ir realizando essa transformação é a construção da própria comunidade eclesial de acordo com a dimensão do Reino de Deus. A Igreja será, por isso, tanto mais fiel a si mesma e à sua missão, quanto mais se configurar como imagem de Deus entre nós. Ou, de modo ainda mais forte, quanto mais se tornar «sacramento» de Jesus Cristo e da sua acção salvífica entre os humanos.
Ora, a configuração da comunidade eclesial como sacramento de Deus implica que ela se torne «sinal visível» do Deus uni-trino, isto é, da communio divina. Assim sendo, a communio eclesial é a forma como a Igreja, ao longo da história humana, é fiel à sua verdade e à sua missão. E as negações dessa comunhão são outras tantas negações da sua própria identidade, como infidelidade a si mesma e ao seu Deus.
3. Acção
Quais as implicações de tudo isto, no quotidiano das comunidades eclesiais? Fundamentalmente e em cada cristão, a consciência de ser um membro activo e responsável na construção dessa comunhão. Responsabilidade essa que pode assumir as mais variadas formas de realização.
A comunhão trinitária implica a relação de pessoas diferentes que, nessa relação, não perdem a sua diferença ou identidade, antes aí a constroem. Convém, por isso, acentuar que a comunhão construída eclesialmente não pode seguir o modelo da uniformidade, que anula as diferenças pessoais entre os diversos membros. Só uma comunhão construída com base em identidades pessoais diferentes – como numa família – é verdadeira comunhão. Caso contrário, não passará de massa uniforme ou de imposição da identidade de alguns a todos os outros.
Mas, como é óbvio, a comunhão também não se constrói a partir de identidades individuais egoisticamente encerradas em si mesmas. A ausência de relação, na consciência da pertença a uma mesma comunidade, implica a completa ausência de comunhão. O ponto de partida de qualquer comunhão é a capacidade de morrer para si, dando-se ao outro.
Assim sendo, a comunhão na Igreja implica a construção de comunidades em que cada cristão encontre a sua identidade própria, precisamente na sua entrega ao outro diferente e na dedicação a essa diferença. Assim, poderá ser uma comunhão de pessoas – e não uma soma de indivíduos isolados ou uma massa anónima de consumidores sem identidade própria.

Prof. Doutor João Duque

Simpósio dos Presbíteros em Fátima: o presbítero em comunhão

A realização do V Simpósio do Clero, de 5 a 8 de Setembro próximo, oferece à Igreja em Portugal uma oportunidade privilegiada para rezar e reflectir a vocação, o ministério e a vida do Presbítero no ministério, na comunhão e na missão da Igreja.
Aqui se funda e daqui emerge uma das coordenadas essenciais da vida da Igreja: Pensar, viver e construir a Igreja a partir da vocação.
Urge, por isso, que cada um dos cristãos e cada um dos sacerdotes regresse em permanência às raízes da sua vida como baptizado e às fontes da sua vocação como chamado pelo amor de Deus para “em nome de Cristo e em favor da Humanidade exercer o múnus sacerdotal” (Presbyterorum Ordinis, Nº2)
Sentir e testemunhar a alegria de ser Padre implica e exige viver com espírito diariamente renovado esta peculiar relação de cada um de nós Sacerdotes com Deus, com a Igreja e com o mundo. E o segredo deste desafio constante do equilíbrio pessoal, da harmonia de vida e da eficácia do ministério consiste nesta disponibilidade para, em cada dia que começa, acolhermos com constância e reafirmando o encanto do dom da vocação, a graça da comunhão e a bênção de uma vida dada e despojada a favor do povo.
Há um vínculo essencial entre a identidade do Sacerdote e o ministério do amor de Deus, revelado em Cristo o Bom Pastor e confirmado pelo Espírito Santo.
Pretende-se, assim, que este V Simpósio do Clero nos volte para Deus, fonte trinitária e origem constitutiva de toda a vocação.
A partir deste olhar para Deus compreenderemos melhor a missão da Igreja como mediadora da vocação, porque lhe pertence fazer ressonância à voz de Deus que chama.
Importa aproveitar este Simpósio e preencher todo o tempo do percurso e da vida da Igreja para cumprir esta missão: Implorando Deus para que envie trabalhadores para a messe; propondo aos jovens o desafio da vocação; criando ambiente com qualidade de escuta na família, na escola e na comunidade; acompanhando com solicitude de mãe os chamados nos seus múltiplos e plurais itinerários de vocação, agradecendo sem cessar os que nos precederam na vocação, na fidelidade e na radicalidade de vidas gastas para “glória de Deus Pai, em Cristo Jesus”. (P.O.2)
Sei que este Simpósio se destina aos Presbíteros e se centra no tema “a comunhão presbiteral ao serviço da comunhão eclesial”, mas gostaria que ele fosse vivido no coração de toda a Igreja chamada a anunciar sem medo nem desânimo a “boa nova da vocação”. Cumpre-nos preparar e antecipar pela oração e pela partilha fraterna o Simpósio e os seus temas para que depois se lhe dê continuidade e consistência na alegria e na gratidão pela graça e diversidade de vocações que Deus oferece à sua igreja e pelo testemunho de comunhão vivida no Presbitério.
Compreendo que numa época em que reina uma certa e desencantada filosofia do declínio e uma perversa e persistente tirania da crise, o tema escolhido para um Simpósio como este, não apaixone a opinião pública nem arraste multidões. Não é essa a missão da Igreja nem é esse o caminho a percorrer pelos Sacerdotes.
Cumpre-nos anunciar o Evangelho de Jesus Cristo, que é o Evangelho da esperança, da vocação e das bem-aventuranças, vivendo na comunhão do Presbitério e da Igreja que somos a “alegria de ser chamados e a coragem de chamar”, e conscientes de que “a primeira e mais eficaz pastoral vocacional é o testemunho” (João Paulo II).
Estou certo de que este Simpósio prestará um valioso serviço à Igreja, 40 anos depois do Decreto Conciliar Presbyterorum Ordinis sobre o ministério e vida dos Sacerdotes, se formos capazes de, com olhos limpos, puros e justos, contemplar Deus fonte de amor e de vocação, descobrir testemunhos exemplares de vidas sacerdotais que percorrem em formas tão diversificadas e belas do mesmo e único ministério, os caminhos de Portugal com passos de humildes, generosos e incansáveis “servidores da vinha do Senhor” (Bento XVI) e perceber, com perspicácia, intuição e confiança, que há germes de vocação semeados pela graça de Deus a mãos cheias nas famílias, nas escolas e nas comunidades.
Mais do que gastar tempo a descodificar leituras imaginadas de realidades virtuais, a Igreja pede aos seus Sacerdotes testemunhos vivos e felizes de quem por amor de Deus e atento aos “clamores do povo” escreve com a vida, celebrada em cada Eucaristia, o mistério da Encarnação, da Páscoa e do Pentecostes porque o Sacerdote será sempre dom de Deus, continuador da missão de Jesus vivo e ressuscitado e enviado pelo Espírito Santo para salvar o mundo.

+ António Francisco dos Santos
Bispo Auxiliar de Braga

Simpósio em Fátima: «O PRESBITÉRIO EM COMUNHÃO. AO SERVIÇO DA COMUNHÃO ECLESIAL»

Apresentação do V Simpósio do Clero e dos artigos no Jornal Diário do Minho

O Simpósio do Clero é um momento de graça para Igreja em Portugal. Graça porque oportunidade (sempre) nova para experimentar a comunhão fraterna e a presença viva do Espírito do Senhor que conduz a Igreja e pega fogo aos corações dos seus ministros impelindo-os a partir e a regressar em seu nome.
Desde 1993 que esta iniciativa se repete, incessantemente, de três em três anos. E este é já o 5º Simpósio que se realiza em Fátima, congregando presbíteros de todo o país e com a presença de digníssimos oradores de toda a Europa. E a experiência mostrou que o evento não pode parar. Ele é um óptimo meio para a Formação Permanente do Clero. Por isso, como Delegado da Arquidiocese de Braga para o Simpósio e como Delegado do Senhor Arcebispo para a Formação Permanente do Clero, pensei iniciar neste mês de Junho até Setembro uma campanha de sensibilização, incentivo e convite à participação no Vº Simpósio do Clero que decorrerá no Centro Paulo VI, em Fátima, de 5 a 8 de Setembro de 2006.
Convidamos uma série de pessoas a escrever uma pequena reflexão sobre o presbítero e o presbitério para nos ajudar a preparar e reflectir melhor a vida e o ministério dos ministros sacros, na linha do que fez a Presbyterorum Ordinis há 40 anos atrás no Concílio Vaticano II.
Assim, todas as semanas, dominicalmente, teremos aqui neste Jornal este espaço dedicado ao Simpósio do Clero. O tema deste ano é «O Presbitério em Comunhão. Ao serviço da comunhão eclesial» e conta com nomes incontornáveis do panorama eclesial universal (ver programa), como o Bispo Auxiliar de Roma, Dom Rino Fisichella, Reitor da Universidade Lateranense em Roma e o Prior do Mosteiro de Bose (Itália) Enzo Bianchi, que fundou depois do Concílio Vaticano II uma comunidade monástica de homens e mulheres provenientes de Igrejas cristãs diversas, que procuram Deus no celibato, na comunhão fraterna e na obediência ao Evangelho, recuperando a experiência e a sabedoria dos pais do monaquismo cristão (http://www.monasterodibose.it) entre muitos outros.
Começamos hoje com uma reflexão do Senhor Dom António Francisco dos Santos, que é o Presidente da Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios, órgão responsável pela organização destes Simpósios, e terminaremos na semana do Simpósio com uma reflexão/convite do Senhor Arcebispo Primaz. A seu tempo daremos informações pormenorizadas sobre as inscrições e os seus prazos.
Por fim, gostaria de informar que todos estes textos estarão disponíveis online no blogue (http://o-bom-pastor.blogspot.com) que será criado especialmente por ocasião deste evento e que permitirá também uma certa inter-acção, com possibilidade de fazer comentários, perguntas e pedidos de esclarecimento. Fica aqui, então, o programa de artigos de preparação para o Simpósio na esperança de que possa servir de verdadeiro pontapé de saída para o grande encontro de Fátima e que todos os presbíteros da nossa Arquidiocese se sintam verdadeiramente convocados para este Symposium:

1. O Presbítero na Missão da Igreja (PO 2): Autor: Dom António Santos. Data: 4 de Junho
2. A comunhão na vida da Igreja: Autor: Doutor João Duque. Data: 11 de Junho
3. O que é o Presbitério? Autor: Arcebispo Emérito Dom Eurico Dias Nogueira. Data: 18 de Junho
4. As relações entre Bispos e Presbíteros (PO 7; DMPB nn. 106-117). Autor: Dom Antonino Dias. Data: 25 Junho
5. A distribuição dos presbíteros e o sentido estratégico do presbitério (PO 10). Autor: P. Sérgio Gouveia. Data: 2 de Julho
6. O Seminário, presbitério em gestação. Autor: Cónego Manuel Joaquim. Data: 9 de Julho
7. A Ordenação Presbiteral: acontecimento central de uma Diocese. Autor: Cón. José Paulo Abreu. Data: 16 de Julho
8. A vida do presbítero: vocação à perfeição e conselhos evangélicos (PO 12-17). Autor: P. Luís Marinho Gonzaga (Data: 23 de Julho
9. A união e a cooperação fraterna entre os presbíteros mais jovens como meio de edificação do Corpo de Cristo (cân. 275; PO 8; DMPB 79). Autor: P. Vítor Novais. Data: 30 de Julho
10. A vida do Presbítero: o IDAC, a digna sustentação do clero e a previdência social como instrumentos de comunhão Autor: P. Carlos Nuno Vaz. Data: 6 de Agosto
11. A recomendação da vida em comum nas suas multiformes manifestações (cân. 280; DMPB 79). Autor: P. Cândido Pedrosa. Data: 13 de Agosto
12. Os encontros Arciprestais favorecem a comunhão, a fraternidade e o sentido de presbitério? Autor: P. Roberto Rosmaninho. Data: 20 Agosto
13. Os vários tipo de associações ou movimentos sacerdotais como meios para realizar a comunhão, a fraternidade e a santidade sacerdotal (cân. 278). Autor: P. Avelino Cardoso. Data: 27 de Agosto
14. Padres para quê? Autor: Arcebispo Primaz de Braga Dom Jorge da Costa Ortiga. Data: 3 de Setembro


(Alberto Giacometti)


PROGRAMA DO V SIMPÓSIO DO CLERO EM FÁTIMA
«O Presbitério em Comunhão. Ao serviço da comunhão eclesial»
Centro Pastoral Paulo VI
Fátima, 5 a 8 de Setembro de 2006

5 de Setembro
11h00 — Abertura
11h30 — «O presbítero no contexto de transformações culturais» (D. Rino Fisichella, Bispo Auxiliar de Roma e Reitor da Universidade lateranense)
15h00 — «Vaticano II como horizonte da comunhão presbiteral» (D. Rino Fisichella)
17h00 — Painel: «Desafios da cultura contemporânea» (Maria da Graça Franco, Drª Manuela Silva, Cón. Nuno Brás; P. Hermínio Rico)
6 de Setembro
10h00 — «Trindade e comunhão eclesial» (Doutor João Duque, Professor da UCP)
11h30 — «Presbitério como comunhão» (Prior Enzo Bianchi, Prior do Mosteiro de Bose)
15h00 — Painel: «A participação e a corresponsabilidade» (P. Doutor Mário Rui de Oliveira; Doutor Alfredo Teixeira; Drª Maria de Lurdes Figueiral, Cón. António Janela)
7 de Setembro
10h00 — «Comunidade e individualismo contemporâneo» (Enzo Bianchi)
11h30 — «Comunhão eclesial: caminhos plurais» (Enzo Bianchi)
15h00 — Painel: «Caminhos de comunhão plural» (D. Manuel Clemente; P. António Ventura de Sousa Borges; P. Doutor António Manuel Martins)
8 de Setembro
10h00 — «Presbítero: um Homem dado ao Povo de Deus» (D. Manuel Madureira Dias (Bispo Emérito do Algarve)
12h00 — Missa de Encerramento presidida por Senhor Dom Jorge Ortiga, Presidente da Conferencia Episcopal e Arcebispo de Braga.


À SOMBRA DO BOM PASTOR: APRESENTAÇÃO DO BLOGUE

«Eu sou o Bom Pastor. O bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas. [...] Eu sou o Bom Pastor:conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-Me, do mesmo modo que o Pai Me conhece e Eu conheço o Pai; Eu dou a vida pelas minhas ovelhas que não são deste redil e preciso de as reunir; elas ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só Pastor. Por isso o Pai me ama: porque dou a minha vida, para poder retomá-la. Ninguém Ma tira, sou Eu que a dou espontaneamente» (Jo. 10, 11-18).

Um dia ouvir dizer que a melhor tradução, a tradução literal, para «o bom pastor» seria o BELO pastor! Nunca mais esqueci isso, mas também nunca mais me deixaram de perseguir as outras palavras que se seguiram a tal afirmação: «mas o que fazer com uma afirmação destas?». No ministério sacerdotal estamos tão pouco habituados a falar e a viver da beleza que facilmente relegamos, consciente ou inconscientemente, para segundo plano a dimensão da beleza da fé em Deus. Não sei se a beleza salvará o mundo, como dizia Dostoievski, mas que dará uma grande ajuda isso não tenho a mínima dúvida. Porque nós precisamos de pão mas de rosas também. Ora este blogue que agora nasce à sombra do Bom/Belo Pastor é uma tentativa de re-visitar a beleza do ministério sacerdotal e fazer dele uma nova ágora onde podemos crescer como Presbitério. É uma proposta da equipa da Formação do Clero da Arquidiocese de Braga e começa com a preparação para o V Simpósio do Clero que acontecerá em Fátima (dia 5-8 Setembro). Aqui serão recolhidos os artigos que sairão dominicalmente no Jornal diocesano Diário do Minho, na Igreja Viva, além de muitas outras propostas relacionadas com a Formação do Clero. Espero que seja um lugar de encontro, belo como uma praça ou um café da Europa, espaço de partilha e comunhão fraterna, espaço de crescimento e (re)descoberta daquele primeiro olhar que um dia nos olhou e nos fez desejar ardentemente conhecer e seguir os passos do Belo Pastor e como Ele, e com Ele, «conhecer o Pai» e «dar a vida» para que haja «um só rebanho e um só Pastor». Por isso todos podem escrever, perguntar, comentar, ajudar e contribuir para a beleza deste blogue. Basta para isso socorrer-se dos comentário ou do email e escrever para nós. Daremos sempre espaço e voz a quem nos quiser ler e acompanhar nesta viagem. E que a beleza nao seja somente terrível mas também a delícia de um convívio.