O Bom Pastor:

Formação do Clero da Arquidiocese de Braga

12.6.06

Simpósio dos Presbíteros em Fátima: o presbítero em comunhão

A realização do V Simpósio do Clero, de 5 a 8 de Setembro próximo, oferece à Igreja em Portugal uma oportunidade privilegiada para rezar e reflectir a vocação, o ministério e a vida do Presbítero no ministério, na comunhão e na missão da Igreja.
Aqui se funda e daqui emerge uma das coordenadas essenciais da vida da Igreja: Pensar, viver e construir a Igreja a partir da vocação.
Urge, por isso, que cada um dos cristãos e cada um dos sacerdotes regresse em permanência às raízes da sua vida como baptizado e às fontes da sua vocação como chamado pelo amor de Deus para “em nome de Cristo e em favor da Humanidade exercer o múnus sacerdotal” (Presbyterorum Ordinis, Nº2)
Sentir e testemunhar a alegria de ser Padre implica e exige viver com espírito diariamente renovado esta peculiar relação de cada um de nós Sacerdotes com Deus, com a Igreja e com o mundo. E o segredo deste desafio constante do equilíbrio pessoal, da harmonia de vida e da eficácia do ministério consiste nesta disponibilidade para, em cada dia que começa, acolhermos com constância e reafirmando o encanto do dom da vocação, a graça da comunhão e a bênção de uma vida dada e despojada a favor do povo.
Há um vínculo essencial entre a identidade do Sacerdote e o ministério do amor de Deus, revelado em Cristo o Bom Pastor e confirmado pelo Espírito Santo.
Pretende-se, assim, que este V Simpósio do Clero nos volte para Deus, fonte trinitária e origem constitutiva de toda a vocação.
A partir deste olhar para Deus compreenderemos melhor a missão da Igreja como mediadora da vocação, porque lhe pertence fazer ressonância à voz de Deus que chama.
Importa aproveitar este Simpósio e preencher todo o tempo do percurso e da vida da Igreja para cumprir esta missão: Implorando Deus para que envie trabalhadores para a messe; propondo aos jovens o desafio da vocação; criando ambiente com qualidade de escuta na família, na escola e na comunidade; acompanhando com solicitude de mãe os chamados nos seus múltiplos e plurais itinerários de vocação, agradecendo sem cessar os que nos precederam na vocação, na fidelidade e na radicalidade de vidas gastas para “glória de Deus Pai, em Cristo Jesus”. (P.O.2)
Sei que este Simpósio se destina aos Presbíteros e se centra no tema “a comunhão presbiteral ao serviço da comunhão eclesial”, mas gostaria que ele fosse vivido no coração de toda a Igreja chamada a anunciar sem medo nem desânimo a “boa nova da vocação”. Cumpre-nos preparar e antecipar pela oração e pela partilha fraterna o Simpósio e os seus temas para que depois se lhe dê continuidade e consistência na alegria e na gratidão pela graça e diversidade de vocações que Deus oferece à sua igreja e pelo testemunho de comunhão vivida no Presbitério.
Compreendo que numa época em que reina uma certa e desencantada filosofia do declínio e uma perversa e persistente tirania da crise, o tema escolhido para um Simpósio como este, não apaixone a opinião pública nem arraste multidões. Não é essa a missão da Igreja nem é esse o caminho a percorrer pelos Sacerdotes.
Cumpre-nos anunciar o Evangelho de Jesus Cristo, que é o Evangelho da esperança, da vocação e das bem-aventuranças, vivendo na comunhão do Presbitério e da Igreja que somos a “alegria de ser chamados e a coragem de chamar”, e conscientes de que “a primeira e mais eficaz pastoral vocacional é o testemunho” (João Paulo II).
Estou certo de que este Simpósio prestará um valioso serviço à Igreja, 40 anos depois do Decreto Conciliar Presbyterorum Ordinis sobre o ministério e vida dos Sacerdotes, se formos capazes de, com olhos limpos, puros e justos, contemplar Deus fonte de amor e de vocação, descobrir testemunhos exemplares de vidas sacerdotais que percorrem em formas tão diversificadas e belas do mesmo e único ministério, os caminhos de Portugal com passos de humildes, generosos e incansáveis “servidores da vinha do Senhor” (Bento XVI) e perceber, com perspicácia, intuição e confiança, que há germes de vocação semeados pela graça de Deus a mãos cheias nas famílias, nas escolas e nas comunidades.
Mais do que gastar tempo a descodificar leituras imaginadas de realidades virtuais, a Igreja pede aos seus Sacerdotes testemunhos vivos e felizes de quem por amor de Deus e atento aos “clamores do povo” escreve com a vida, celebrada em cada Eucaristia, o mistério da Encarnação, da Páscoa e do Pentecostes porque o Sacerdote será sempre dom de Deus, continuador da missão de Jesus vivo e ressuscitado e enviado pelo Espírito Santo para salvar o mundo.

+ António Francisco dos Santos
Bispo Auxiliar de Braga