O Bom Pastor:

Formação do Clero da Arquidiocese de Braga

5.5.07

V Domingo da Páscoa

(Duccio di Boninsegna, «A ultima ceia»)

V Domingo do Tempo Pascal
Jo 13, 31-33a.34-35

Estamos no tempo pascal e o evangelho que hoje escutamos fala-nos precisamente da glorificação de Jesus, acontecida através da sua paixão, morte e ressurreição. Para o quarto evangelho, de facto, também a paixão e a morte são glorificação de Jesus, não um falhanço ou um fim trágico, pois aí mais do que nunca Jesus mostra o seu amor e recebe glória precisamente por ter amado «até ao fim, até ao extremo» (Jo 13,1): a glória de Jesus é a glória do amar! Não o esqueçamos: se Jesus ressuscitou da morte foi porque o Pai o ressuscitou (cf. Act 2,24.32) por causa do amor por ele vivido até ao extremo por Deus e pelos irmãos. Sim, na ressurreição de Jesus podemos ver o amor total, perfeito, de Jesus, que vence a morte para sempre…

O nosso excerto recorda-nos que Jesus no cenáculo, no fim da sua última ceia, tinha indicado ao discípulo amado, inclinado sobre o seu peito, a identidade de quem estava para o trair: Judas, um dos Doze. E todavia Jesus não tinha feita nada para o impedir; pelo contrário, dando-lhe um bocado de pão convidou-o a fazer tudo o que tinha a fazer quanto antes (cf. Jo 13, 25-27). E agora que Judas saiu para concordar a prisão, agora que é de facto noite (cf. Jo 13,30), aquela noite na qual as trevas vencem a luz e o ódio prevalece sobre o amor, eis que Jesus grita com convicção: «Agora o Filho do homem foi glorificado e também Deus foi glorificado nele».

Ou, mesmo no momento em que tudo acontece contra Jesus, sem que ele se oponha, se defenda ou pague o mal com o mal, logo ali acontece uma epifania do seu amor: Jesus recebe glória e assim também Deus recebe glória graças ao amor total do seu Filho. A hora da glória não é decidida por Judas que foge para cumprir a traição, mas pelo amor de Jesus. É por isso que ele exulta e proclama a sua glorificação: porque tem a consciência de ter amado sempre, até ao extremo, de ter mostrado amor mesmo para com quem o traía, de ter amado totalmente Deus e os homens, até aceitar a cruz e a morte. No seu amor, o ódio, a traição e a violência foram vencidos para sempre!

Cheio de autoridade, que lhe deriva de ter vivido o amor em plenitude, Jesus nesse momento anuncia o mandamento novo: «Amai-vos uns aos outros como eu vos amei». Esta é a verdade do mandamento novo, ou seja, último e definitivo: para cada um de nós o amor pelos outros, para a comunidade cristã o amor recíproco que se deve viver segundo a forma e o estilo com o qual Jesus amou os seus até ao fim. Não se pense numa total novidade deste mandamento, porque o amor do próximo estava já presente no Antigo Testamento (cf. Lv 19, 18; Mc 12, 31); Jesus torna-o, porém, novo porque o apresenta como um amor sem condições, depois do qual não há nenhum outro preceito a observar: o amor verdadeiro e autentico para com o próximo é amor de Deus, e neste sentido o mandamento novo substitui todos aqueles da legislação judaica, a Lei no seu todo…

E assim, se os cristãos forem capazes de viver este amor como Jesus o viveu, vencerão também eles a morte com ele e nele: «Nós sabemos que passamos da morte à vida, porque amamos os irmãos» (1 Jo 3,14). Aqui está toda a vida cristã! Este anúncio assim simples pode escandalizar-nos porque, «religiosos» como somos, queremos que a vida cristã seja muito mais, seja sobretudo o que nós imaginamos ou desejamos. E contudo o mandamento novo do amor é no fundo o único que nos é pedido de atender e viver, é a herança e o dom deixado por Jesus aos seus, a fim de que sejam verdadeiramente a sua comunidade, para que sejam capazes de estar no mundo como autênticos evangelizadores. Jesus de facto disse com clareza: «Por isto saberão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros».

Enzo Bianchi
Prior de Bose
[trad: mro]