O Bom Pastor:

Formação do Clero da Arquidiocese de Braga

19.5.07

ASCENSÃO DO SENHOR


(Giotto, Jesus ascende aos ceus)

Ano C
Lc 24, 46-53

Nas leituras da solenidade da Ascensão escutamos duas vezes a narração do êxodo de Jesus deste mundo para o Pai feito por Lucas, nos Actos dos Apóstolos (ACT 1, 1-11) e no Evangelho.

Na verdade nos outros evangelhos não se fala deste «facto», porque ele está já contido no evento da ressurreição de Jesus, no seu êxodo da morte para a vida eterna, do túmulo para o Reino de Deus. A Ascensão de Jesus, este «separar-se dos discípulos», este «ser levado» pela potencia de Deus para o céu, este «subtrair-se ao olhar dos apóstolos» (cf. Act 1,9), é de facto uma nova narração do evento da ressurreição, como o são as diversas aparições - manifestações de Jesus às mulheres discípulas e aos doze: sim, nós estamos sempre a celebrar a Páscoa, que é vitória de Jesus sobre a morte, que é vida nova e eterna de Jesus, que é glorificação de Jesus, que é o entrar de Jesus, pela força do Espírito santo, na vida divina do Pai.

Se os vários textos evangélicos que falam da ressurreição de Jesus nos revelam o significado deste evento em diversas perspectivas, os excertos hodiernos metem em evidencia que a «assunção» de Jesus ao céu significa também «separação» dos seus, «ausência» desta terra: ele não pode mais ser visto nem na carne nem na sua forma gloriosa…Tal separação anuncia, porém, uma nova forma de presença de Jesus junto da comunidade, de tal modo que os crentes nele nunca ficarão sós, «órfãos» (Jo 14,18): por isso ao subir ao céu Jesus abençoa os discípulos. No inicio do evangelho segundo Lucas a bênção de Deus que deveria ser realizada pelo sacerdote Zacarias à saída do santuário tinha sido, por assim dizer, suspensa (cf. Lc 1,21-22); mas agora eis que Jesus a retoma e a leva a cumprimento: é a bênção prometida e dada a Abraão, reconfirmada a Israel, e agora oferecida por Jesus glorioso à Igreja para que ela a leve «até aos confins do mundo» (At 1,8) e assim sejam abençoadas todas as gentes da terra (cf. Gn 12,3; 18,18,etc).

No ascender ao Pai, Jesus promete também o Espírito Santo, que com a sua força tornará os crentes testemunhas, isto é, pessoas capazes de contar que Jesus veio ao mundo como homem e passou entre os homens fazendo o bem (cf. At 10, 38), pessoas capazes de o esperar como aquele que virá na glória. De facto, do mesmo modo como os discípulos o viram subir ao Céu, o verão quando no ultimo dia regressar na glória! Enfim, enquanto termina a forma de uma história, inicia «uma outra forma» (Mc 16,12) da mesma história: numa e noutra Jesus é a narração definitiva de Deus feito homem para nós, é o rosto do Deus vivente (Jo 1,18)…

Também a nós, aqui e agora, está reservada a pergunta dos anjos: «porque estais a olhar para o céu?» (At 1,11). Preste-se atenção: este não é um convite a olhar apenas as coisas da terra, mas um aviso a não procurar mais aquela presença física de Jesus do qual os discípulos tinham feito experiencia na história. Não, Jesus não deve ser procurado junto do tumulo vazio, nem levantando os olhos para o alto para chorar por uma aparição: ele deve agora ser procurado na comunidade cristã, na eucaristia, nos homens e mulheres que, na condição dos últimos, esperam de nós «o serviço ao irmão» no qual Jesus quis tornar-se presente (cf Mt 25, 31-46). É assim que podemos viver a nossa função de cristãos: levar a bênção, «começando por Jerusalém e até aos confins do mundo», anunciando a conversão e a remissão dos pecados, e tudo isto na potencia do Espírito Santo.

Como os doze depois da ascensão de Jesus estavam cheios de alegria, também nós hoje devemos estar em festa, por compreendermos em profundidade o que Jesus afirmou no quarto evangelho: «É do vosso interesse que eu vá, porque assim não só estarei sempre convosco, mas estarei de modo ainda mais pleno: o meu respiro, o Espírito Santo, será o vosso respiro, porque eu o enviarei a vós como dom que vos acompanhará sempre (Jo 14, 16; 16, 7)!

Enzo Bianchi
Prior de Bose
[trad: mro]