O Bom Pastor:

Formação do Clero da Arquidiocese de Braga

12.5.07

VI Domingo da Páscoa





ANO C
Jo 14, 23-29

Continuamos a escutar os «discursos do adeus» contidos no IV evangelho, aqueles pronunciados por Jesus no fim da sua última ceia com os discípulos, antes de ter sido preso no monte das oliveiras.

Depois de ter dado o mandamento novo (Jo 13,34), Jesus anunciou o seu êxodo deste mundo para o Pai, mas isso suscitou interrogações entre os discípulos: Pedro, Tomé, Filipe e Judas, «não o Iscariotes», pedem-lhe que explique melhor as suas palavras (Jo 13, 36-14.22). Em particular, a pergunta de Judas é a que habita também os nossos corações de crentes: «Senhor, porque te manifestas a nós crentes e não te manifestas publicamente ao mundo, a todos os homens?» Mesmo se temos fé em Jesus, somos incapazes de assumir as consequências do nosso acreditar, do nosso aderir a ele, e assim perguntamo-nos: porque é que ele não realizou sinais, prodígios, acções extraordinárias, de modo a convencer todos os homens? Porque escolheu a humildade, a pequenez, um estilo de vida de desejado escondimento? Porque não procurou o consenso, servindo-se de meios a ele disponíveis para obter sucesso? Esta óptica é a mesma dos discípulos de Jesus, os quais o tinham convidado a manifestar-se ao mundo, de modo a coagir os homens a acreditar nele mediante a evidencia do extraordinário (cf. Jo 7,4)…

Mas Jesus desilude quem pensa nestes termos, e reforça que o que conta não é a amplidão do consenso, não é a quantidade dos «conquistados»; não, o importante é que exista uma relação pessoal de amor com Jesus, não a admiração que se pode nutrir por um taumaturgo, para obter milagres: «Se alguém me ama, observará a minha palavra, e o meu Pai o amará e nós viremos a ele e faremos morada nele». Tudo acontece de modo invisível e no entanto real, concreto, experimentável. O que é decisivo é a relação de conhecimento e de amor entre crente tornado discípulo e Jesus, «o Senhor e Mestre» (Jo 13,14): deste modo o crente torna-se até morada de Jesus e do Pai! Sim, a vida cristã é «vida escondida com Cristo no Pai» (Col 3,3): tudo isto é extraordinário, mas não visível aos olhos do mundo; é decisivo para a vida e a salvação, mas não verificável por parte dos outros; é absolutamente verdade, é até mesmo experimentável à luz da fé, mas não verificável à luz da visão (2 Cor 5,7)…

Jesus parte e certamente um dia tornará na glória, no fim da história; então a sua Vinda se irá impor a todos os homens e a toda a criação. Mas no entretanto que vai da sua morte-ressurreição e a sua Vinda final, Jesus vem quotidianamente no coração do crente que ama, que cumpre o mandamento novo. E a fim de que isto aconteça, durante a sua ausência física devido ao seu morar junto do Pai, há da parte do próprio Pai um grande dom: o Espírito Santo, aquele que tem a função de Consolador, de defensor. O Espírito recorda tudo o que Jesus disse e fez, tornando-o presente na sua comunidade e desempenhando a função de Mestre interior capaz de iluminar e guiar a vida de todo o cristão. No decurso da vida terrena de Jesus, os discípulos tinham o seu ensinamento directo, mas muitas vezes não o percebiam porque o seu coração não era capaz de acolher as suas palavras. Mas quando o Espírito estiver presente no coração dos discípulos, então desaparecerá «o coração duro» (cf. Mt 16,14), porque o Mestre interior tornará «o coração capaz de escuta» (1 Re 3,9), tornará o cristão capaz de realizar as palavras de Jesus…

Enfim, o cristão nunca está só, mas graças ao Espírito Santo é morada, casa, templo da Presença de Deus (cf. 1Cor 3,16; 6,19). Mais, o Espírito que torna possível esta inhabitação do Pai e do Filho no coração dos crentes, é o mesmo que nos torna conscientes do dom deixado por Jesus: «a sua paz», isto é a vida plena por ele vivida, a verdadeira vida. E assim aquela que era a paz de Jesus tornou-se agora a nossa paz.

Enzo Bianchi
Prior de Bose

[trad: mro]