O Bom Pastor:

Formação do Clero da Arquidiocese de Braga

6.8.06

Simpósio do Clero em Fátima: O IDAC, a digna sustentação do clero e a previdência social como instrumentos de comunhão

No artigo «Eucaristia – Comunidade – Missão», Ratzinger, hoje Bento XVI, traça alguns princípios para que entendamos a comunhão correctamente. E é bom tê-los em conta para que não caiamos no puro moralismo do «deve ser desta forma ou daquela», que muito pouco ou nada compromete de verdade, mas assentemos os nossos princípios de acção em bases sólidas, consistentes e exigentes.
Começa Ratzinger por afirmar que «só a fé em Cristo estabelece a comunhão». Mas mais: «a comunhão em e com o corpo de Cristo significa comunhão de uns com os outros. Compreende o aceitar-se, o mútuo dar e receber, a disposição essencial de partilhar. É incompatível com a comunhão eclesial que uns desfrutem de uma grande vida e outros sofram privações. ( Destaque de nossa conta).
A comunhão é sempre comunhão de mesa, no sentido mais rigoroso do termo…Neste sentido, a questão social está cravada de forma totalmente central no núcleo teológico do conceito cristão de ‘communio’». (p. 72).
Ser cristão significa ser ‘communio’ e com isso entrar na forma essencial do Espírito Santo. «Todavia, isto só pode ocorrer também graças ao Espírito Santo, que é a força de comunicação, o seu mediador, possibilitador e, como tal, pessoa própria». Indo mais fundo ainda: «Espírito é a unidade que Deus se outorga a si mesmo, na qual Ele mesmo se dá a Si mesmo, na qual Pai e Filho se correspondem entre eles. O paradoxal e próprio do Espírito é ser ‘communio’, ter nisso precisamente a maior mesmidade, ser totalmente a dinâmica da unidade. Por isso é que ‘espiritual’ sempre terá que ver, essencialmente, com vinculante, com comunicante». (p. 43).
Há muitos níveis da ‘communio’ ( koinonia, em grego) cristã, mas que, no essencial, nos remetem para a mesma e única coisa: «a comunhão com a Palavra incarnada de Deus, que nos faz participantes da sua vida através da sua morte, e, desta maneira, também nos quer conduzir ao serviço mútuo, à comunhão viva e visível». (p.73).
Para que atentemos bem nas exigências da ‘koinonia’ ou comunhão, serve-nos esta incomparável frase de Santo Agostinho: «Sem amor, pode existir fé; mas, uma fé sem amor não pode salvar». (p.52)
Na verdadeira ‘koinonia’ ou comunhão, a dimensão horizontal ou de serviço resulta da vertical, da ligação a Deus. Só enraizados na dimensão vertical poderemos entender e viver a sério a horizontal. Ou seja, o caminho para a comunhão dos homens entre si passa pela comunhão com Deus. Dito de outra maneira: a comunhão que realmente estabeleço com os outros é o sinal mais visível e eloquente da minha comunhão com Deus. Sinal de uma fé com amor, ou sem amor.
A Instituição IDAC (Instituto Diocesano de Apoio ao Clero), mais que uma exigência do Código de Direito Canónico, é uma tentativa de canalizar e organizar a comunhão material, pastoral e espiritual dos presbíteros da nossa Diocese. Nos seus objectivos, de acordo com o Estatuto renovado, recentemente aprovado, podem encontrar-se os seguintes pontos fundamentais: a) concessão de prestações complementares de invalidez permanente; b) garantia de subsídios eventuais para complementar a remuneração mínima; c) garantir ao clero apoio no seu dia a dia, de modo especial nas suas dificuldades.
O apoio no dia a dia é interpretado pela Direcção do IDAC e pela da Casa Sacerdotal sobretudo como solicitude fraterna para com todos os sacerdotes; compromisso de comunhão espiritual e pastoral; aposta na formação contínua do presbitério; e uma atenção especial às situações de doença e de velhice.
Se é certo que as condições de vida material do sacerdote mudaram muito nos últimos anos, para melhor, ainda há desigualdades gritantes entre os membros do presbitério, sem falar já das situações de velhice e doença, que exigem dos membros do presbitério uma renovada atenção e disponibilidade especial, que urge praticar quotidianamente, para que a nossa fé não apareça vazia de verdadeiro amor e, portanto, incapaz de realmente salvar.
A nova Casa Sacerdotal pretende ser uma das respostas aos vários problemas de autêntica comunhão presbiteral: necessidade de uma residência, em certos casos; necessidade de um Lar onde os sacerdotes necessitados de especiais cuidados de acompanhamento, quer por motivo de idade, quer por deficiências de saúde, possam ser assistidos fraterna e cordialmente.
Os desafios de solidariedade material para acabar de pagar a Casa e para a sustentar, são realmente imponentes. Mas mais fortes ainda são os desafios que até nem exigem disponibilidade financeira: sentir a Casa Sacerdotal como autêntica casa de família; fazer dela um santuário de gratidão para com os sacerdotes que dedicaram a sua vida à missão que a Igreja lhes confiou e que agora necessitam dos cuidados dos outros; e uma escola de vocações, na medida em que se torne palpável que, se o sacerdote deve ter sempre a disponibilidade para o serviço fraterno, que a toalha na cintura de Cristo, em Quinta – Feira Santa, bem indica, também pode contar com o serviço dedicado e amoroso dos outros presbíteros, leigos e seminaristas, tornando-se, assim, palpável que o sacerdote nunca será abandonado à sua sorte, mas poderá contar sempre com a inestimável ajuda amiga e fraterna dos outros presbíteros e demais membros que com eles colaboram.
Carlos Nuno Vaz
carlosnunovaz@oninet.pt
(Presidente do IDAC)