O Bom Pastor:

Formação do Clero da Arquidiocese de Braga

23.4.07

Testemunho sacerdotal

(A semente de Deus)


Nesta semana de oração pelas vocações, eis o testemunho de um sacerdote da diocese de Roma. Após mais de cinquenta anos de vida sacerdotal, fala-nos com entusiasmo da sua vocação e da sua rica experiência ministerial. «Caros amigos, creio que não me bastará a eternidade para agradecer ao Senhor por ter-me feito sacerdote!» é a conclusão deste depoimento tão significativo.

«JESUS CRISTO INVADIU A MINHA VIDA!»

No outro dia, d. Pierino, Reitor do Seminário Romano, pediu-me insistentemente que me apresentasse diante de vós para dar o meu testemunho. Manifestei-lhe a minha perplexidade porque, por natureza, creio mais no testemunho dos fatos que das palavras: e palavras, hoje, até há demais. De qualquer maneira, não pude dizer não a um amigo.
Sou um sacerdote romano, nascido em 1922 e, 53 anos atrás, terminados os estudos e a formação no Seminário Romano Maior, ordenado sacerdote nesta Basílica (de São João do Latrão), no longínquo 15 de Junho de 1946, pelo então Vice-gerente de Roma Mons. Luigi Traglia.
Estando sempre «na trincheira», tive a possibilidade de entrar em contacto com um série infinita de experiências variadíssimas: das mais exaltantes e comoventes, às mais dramáticas e dilacerantes. Aproximei-me, conheci e condividi os sentimentos de milhares e milhares de irmãos e irmãs de todas as idades, condições sociais e culturais.
Portanto posso afirmar que, mesmo do ponto de vista humano, a vida do sacerdote (especialmente do sacerdote pároco) é de uma tal riqueza que permite a realização plena da personalidade de um homem que viva com paixão a sua missão e é capaz de torná-lo verdadeiramente (como afirma Paulo VI) um «especialista em humanidade».
O padre não é um homem-negado, um «homem-de-menos», mas um «homem- de- mais»: mais em amor, mais em doação, mais em condivisão com todos os seus irmãos.
Porém, caros amigos, este não é o aspecto mais importante da minha vida de sacerdote. A realidade fundamental, que sustentou e sustenta todo o meu variado apostolado, é que a minha vida foi invadida por Jesus Cristo, Filho de Deus, com a graça do seu amor envolvente e totalizante. Ele me cativou e me seduziu a ponto de fazer com que eu partilhasse não só a sua vida, mas também a Paixão pelo Reino de Deus: anunciar e doar, «in Persona Christi», o Amor infinito e comovente do Pai para a salvação eterna dos meus irmãos.
Por isto, a minha verdadeira identidade sacerdotal é ser «Ministro de Cristo, dispensador dos seus Mistérios». Nesta perspectiva, o ponto focal da minha vida, o centro do qual todo o resto se irradia é o Sacrifício Eucarístico: a Santa Missa. É onde, cada manhã se concentra todo o meu mundo, toda a minha realidade humana e espiritual, em sintonia com toda a Igreja, com toda a sociedade, com o mundo inteiro. É ali, no Coração de Jesus, vivo e presente sobre o altar, que ganham consistência, na dimensão sobrenatural, todos os problemas: meus e dos meus irmãos.
Tenho plena convicção de fé que da celebração Eucarística de cada dia nasce cada graça, cada generosidade, cada disponibilidade ao perdão, cada brilho de esperança e de alegria, cada impulso à paz, à compreensão recíproca, toda coragem e entusiasmo para enfrentar o novo dia que a bondade do Pai preparou para mim.
Descendo do altar sinto-me mais disponível e mais forte para pronunciar com fé o meu «Eis-me aqui, Senhor». Estou pronto para enfrentar este novo dia, não sozinho, mas junto a Ti. Estou pronto a repetir o meu «Eis-me aqui» como Nossa Senhora que, com o seu «Sim», permitiu que Deus realizasse a Sua vontade e o Seu desígnio de salvação.
Uma longa experiência ensinou-me que os homens não me pedem tanto que demonstre o amor de Jesus e a misericórdia de Deus com muitos discursos e citações, mas desejam, antes, ver e quase experimentar a presença de Jesus na realidade: desejam ver se na minha vida Jesus é verdadeiramente uma realidade absoluta e determinante. Por isso, frequentemente me pergunto quanto e como a minha experiência pessoal de Deus possa se tornar uma epifania, uma manifestação de Deus para os meus irmãos.
Caros amigos, creio que não me bastará a eternidade para agradecer ao Senhor por ter-me feito sacerdote. Agora, com o Salmista, desejo proclamar sem cessar a misericórdia do Senhor, pedir-lhe que não me abandone na velhice, e que eu possa continuar anunciando o seu amor e a sua fidelidade a todas as gerações, começando por estes neo-ordinandos presbíteros do próximo Domingo, aos quais a Igreja passa o «testemunho», para que a salvação do Senhor, através deles, possa continuar o seu caminho no novo milénio para a maior glória de Deus e salvação de todos os homens.

Mons. Eutizio Fanano, do clero de Roma