IV Domingo da Páscoa: o domingo do Bom Pastor
IV Domingo da Páscoa
Ano C
Jo 10, 27-30
Ano C
Jo 10, 27-30
Estamos a viver o tempo pascal com uma especial contemplação de Jesus ressuscitado da morte: ele é o Cordeiro que sobre a cruz foi degolado (cf. Ap 5,6-9.12; 13,8), mas com a ressurreição tornou-se o Pastor, e como tal conduz ainda a sua comunidade, alimenta as suas ovelhas através de novos pastores por ele queridos e oferecidos ao seu povo. Sim, Jesus é o Senhor vivente que, como «Pastor dos pastores» (1Ped 5,4) está entre o Pai, do qual é Filho, e os crentes nele, o seu «pequeno rebanho» (Lc 12, 32).
Jesus revela isto no templo de Jerusalém, nos dias em que se celebram as festas de Hanukkah ou da Dedicação, aquela na qual os judeus recordam de novo a santificação do templo que tinha sido profanado por Antíoco IV Epifanes. No templo, Jesus tinha já realizado um gesto significativo: tinha-o purificado, expulsando dele os vendilhões e os animais destinados ao sacrifício (cf. Jo 2, 13-22). Então surgira a pergunta: «Com que autoridade faz ele estas coisas?» Ora, analogamente, os chefes dos Judeus lhe perguntam: «Até quando manterás o nosso espírito em suspenso? Se tu és o Cristo, diz abertamente que o és» (Jo 10, 24). Mas Jesus responde-lhes colocando em evidência a dificuldade em revelar a sua identidade a quantos não acreditam nele, a quantos não querem ver as suas acções como acções de Deus: enfim, àqueles que não são suas ovelhas (cf. Jo 10, 25-26)…
E assim emerge a figura de Jesus como Pastor e a dos crentes como ovelhas. Qual é a relação, a ligação, entre Jesus e os crentes? Ele mesmo o diz com clareza: as ovelhas escutam a palavra até reconhecerem a sua voz, portanto, confiam nele e seguem-no com confiança e segurança, para onde quer que ele os conduza. Escuta e sequela são, assim, o que é essencial para se tornar crente em Jesus, para ser incluído na sua vida, para fazer parte da sua comunidade: só através da escuta obediente e uma sequela perseverante se pode ter com Jesus uma comunhão de vida profunda e duradoira. Mas esta ligação das ovelhas com o Pastor cruza-se como o conhecimento que Jesus tem das suas ovelhas: ele conhece-as uma a uma, chama-as pelo nome (cf. Jo 10,3) e, precedendo-as, abre-lhes o caminho para pastos abundantes (cf. Jo 10,9). Não só, mas este Pastor que é Jesus dá a sua vida pelas ovelhas (Jo 10, 11.15.17), de modo que elas tenham a vida eterna, não sejam roubadas da sua mão e não caminhem perdidas.
Este exercício pastoral —note-se bem— acontece na relação do Pastor com o inteiro rebanho e com cada uma das ovelhas. Deveriam recordá-lo os pastores da Igreja: se de facto o seu ministério não é vivido como a relação quotidiana de quem está «no meio» (Lc 22, 27) da comunidade, eles acabam por se tornar funcionários… Infelizmente isto acontece sempre cada vez mais na igreja, e assim os crentes, as ovelhas, sentem-se cada vez mais organizados em rebanho, impregnados de vários serviços, tratados como «militantes», mas sofrem na realidade de falta de relação e de comunicação com o pastor. Toda a relação autentica, pelo contrário, nutre-se antes de mais pela presença, depois pela escuta, comunicação, amor, cura e dedicação, até ao dom da vida. São estas as atitudes com as quais se deve viver a pastoral, se não se quer que essa caia em mera burocracia, num trabalho de funcionários.
Se o pastor tem com as ovelhas a relação vivida e ensinada pelo «Pastor grande das ovelhas» (Heb 13, 20), então ele será também capaz de lhes abrir a relação com Deus, aquele que o quis como pastor à imagem de Jesus. Jesus recebeu as ovelhas na sua mão, e estas podem gritar: «Quem nos separará do amor de Cristo»? (Rom 8, 35), certos de serem por ele colocados nas mãos do Pai. Eis no fundo para que servem os pastores na igreja, os bispos, os presbíteros: ajudar-nos a tomar consciência de que somos protegidos pela mão de Jesus Cristo, o qual nos quer colocar na mão de Deus, do qual nada nem ninguém nos poderá separar.
Enzo Bianchi
Prior de Bose
[Trad: mro]
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