Arte cristã como vocação
A agência Zenit conversou com Humberto Utro, curador do Museu Pio-Cristão dos Museus Vaticanos, provavelmente a parte mais desvalorizada das galerias vaticanas.
Quando lhe perguntaram como começou a dedicar-se à arte paleocristã, ele não respondeu a falar do seu passado na universidade de Florença, nem citou a sua obra no prestigiado Instituto Pontifício de Arqueologia Cristã.
Ele começou a falar da sua juventude em Palermo, Sicília, e dos anos de colégio, durante os quais o seu professor de Religião foi o Pe. Pino Puglisi, assassinado pela máfia em 1993. O Pe. Puglisi, recorda Utro, «emocionava-se com a fé» e «ensinava que cada cristão tem uma vocação específica, e que devia compreender como servir melhor a Deus e à Igreja». Enquanto fala, Utro dá a impressão de que há mais importância nos anos da sua primeira formação do que nos seus títulos universitários.
Após ter estudado Teologia como leigo, Utro interessou-se pela História da Arte, e obteve a sua primeira licenciatura com uma tese sobre as lâmpadas de barro de origem cristã. Percebeu, então, «que para entender a arte cristã das origens, era necessário compreender a comunidade que a havia produzido; a Igreja primitiva e as Sagradas Escrituras eram parte integrante dessa arte».
Procurando esse «encontro entre arte e fé», como ele o define, Utro compreendeu que tinha de «ver as origens da arte cristã, as primeiras comunidades cristãs». Assim, ao estudar a Arqueologia Cristã foi desenvolvendo um interesse pela iconografia.
O restante é descrito por ele como obra da Providência. Enquanto ele estudava e escrevia sobre o que se conserva na Biblioteca Vaticana, a colecção foi transladada para o Vaticano e chamou a atenção do director dos Museus, Francesco Buranelli. Três anos depois, Utro foi nomeado como curador da colecção dos sarcófagos das origens do cristianismo. Ele descreve essa nomeação como «o mais belo dom de Deus à minha vocação».Utro não perdeu tempo em fazer com que esse museu único suscite o interesse público. Ainda que com frequência ele seja deixado de lado pelos turistas, que se amontoam na Capela Sistina, a esplêndida colecção de sarcófagos esculpidos testifica aos visitantes o credo, as esperanças e as doutrinas das primeiras comunidades cristãs inscritas na pedra. «Tenho um tesouro nas minhas mãos», disse Utro sobre o seu trabalho.
Desde que é curador, organizou duas exposições. A primeira, intitulada «A viagem da fé» e a segunda, enviada ao Museu das Civilizações Asiáticas de Singapura, formava parte de uma série que analisou as diversas religiões da Ásia e contou a história do cristianismo como uma viagem contínua.
«A fé cristã nasceu de uma viagem – explica Utro – Deus que, através de seu Filho veio ao mundo; os Magos que viajaram para ver Jesus e logo partiram para difundir a notícia; Jesus que viaja para Jerusalém; e a viagem dos primeiros cristãos que iam evangelizar todo o mundo»
As viagens, de todos os modos, não acabam com o Evangelho. «Os peregrinos viajam para visitar os lugares pelos quais Jesus caminhou e o lugar onde morreu São Pedro», observa Utro, afirmando que a sua parte preferida da exposição é a secção final, que mostrava os missionários na Ásia. O Museu de Singapura acrescentou as suas próprias obras, mostrando que esta viagem, iniciada em Belém, chegou aos rincões mais remotos do Oriente.
A mostra mais recente, «A Palavra esculpida», foi organizada em colaboração com a Sociedade Bíblica Italiana, para festejar o 40º aniversário da constituição do Concílio Vaticano II “Dei Verbum”. Utro descreve o esforço como uma «mostra ecuménica, que celebrava a colaboração das diversas denominações cristãs para criar uma tradução comum das Sagradas Escrituras».
A exposição uniu as palavras das Escrituras às imagens dos primeiros cristãos, demonstrando que aquelas antigas incisões em pedra têm ainda hoje ressonância e significado, assim como o poder de unir os cristãos no seu credo em Cristo, na salvação e no paraíso.
Utro sublinha que a colecção Pio Cristã é o lugar ideal para a mostra: «A arte das origens cristãs é uma arte da Igreja indivisa, antes dos cismas». O curador sublinha ainda que «a arte foi também uma fonte de divisão entre os cristãos, desde a iconoclastia até os luteranos; este museu, portanto, é um lugar ideal para olhar a história comum, compartilhada pelos cristãos».
A formação, a vocação e a evangelização estão todas esplendidamente representadas por esta colecção, mas também por seu curador. A dedicação de Utro ao seu museu e a sua visão das grandes lições mostradas por imagens do cristianismo das origens são um exemplo da colocação em prática da própria vocação cristã.
Umberto Utro, 41 anos, é curador do Museu Pio-Cristão dos Museus Vaticanos desde 2003.
ROMA, quinta-feira, 26 de Abril de 2007
Quando lhe perguntaram como começou a dedicar-se à arte paleocristã, ele não respondeu a falar do seu passado na universidade de Florença, nem citou a sua obra no prestigiado Instituto Pontifício de Arqueologia Cristã.
Ele começou a falar da sua juventude em Palermo, Sicília, e dos anos de colégio, durante os quais o seu professor de Religião foi o Pe. Pino Puglisi, assassinado pela máfia em 1993. O Pe. Puglisi, recorda Utro, «emocionava-se com a fé» e «ensinava que cada cristão tem uma vocação específica, e que devia compreender como servir melhor a Deus e à Igreja». Enquanto fala, Utro dá a impressão de que há mais importância nos anos da sua primeira formação do que nos seus títulos universitários.
Após ter estudado Teologia como leigo, Utro interessou-se pela História da Arte, e obteve a sua primeira licenciatura com uma tese sobre as lâmpadas de barro de origem cristã. Percebeu, então, «que para entender a arte cristã das origens, era necessário compreender a comunidade que a havia produzido; a Igreja primitiva e as Sagradas Escrituras eram parte integrante dessa arte».
Procurando esse «encontro entre arte e fé», como ele o define, Utro compreendeu que tinha de «ver as origens da arte cristã, as primeiras comunidades cristãs». Assim, ao estudar a Arqueologia Cristã foi desenvolvendo um interesse pela iconografia.
O restante é descrito por ele como obra da Providência. Enquanto ele estudava e escrevia sobre o que se conserva na Biblioteca Vaticana, a colecção foi transladada para o Vaticano e chamou a atenção do director dos Museus, Francesco Buranelli. Três anos depois, Utro foi nomeado como curador da colecção dos sarcófagos das origens do cristianismo. Ele descreve essa nomeação como «o mais belo dom de Deus à minha vocação».Utro não perdeu tempo em fazer com que esse museu único suscite o interesse público. Ainda que com frequência ele seja deixado de lado pelos turistas, que se amontoam na Capela Sistina, a esplêndida colecção de sarcófagos esculpidos testifica aos visitantes o credo, as esperanças e as doutrinas das primeiras comunidades cristãs inscritas na pedra. «Tenho um tesouro nas minhas mãos», disse Utro sobre o seu trabalho.
Desde que é curador, organizou duas exposições. A primeira, intitulada «A viagem da fé» e a segunda, enviada ao Museu das Civilizações Asiáticas de Singapura, formava parte de uma série que analisou as diversas religiões da Ásia e contou a história do cristianismo como uma viagem contínua.
«A fé cristã nasceu de uma viagem – explica Utro – Deus que, através de seu Filho veio ao mundo; os Magos que viajaram para ver Jesus e logo partiram para difundir a notícia; Jesus que viaja para Jerusalém; e a viagem dos primeiros cristãos que iam evangelizar todo o mundo»
As viagens, de todos os modos, não acabam com o Evangelho. «Os peregrinos viajam para visitar os lugares pelos quais Jesus caminhou e o lugar onde morreu São Pedro», observa Utro, afirmando que a sua parte preferida da exposição é a secção final, que mostrava os missionários na Ásia. O Museu de Singapura acrescentou as suas próprias obras, mostrando que esta viagem, iniciada em Belém, chegou aos rincões mais remotos do Oriente.
A mostra mais recente, «A Palavra esculpida», foi organizada em colaboração com a Sociedade Bíblica Italiana, para festejar o 40º aniversário da constituição do Concílio Vaticano II “Dei Verbum”. Utro descreve o esforço como uma «mostra ecuménica, que celebrava a colaboração das diversas denominações cristãs para criar uma tradução comum das Sagradas Escrituras».
A exposição uniu as palavras das Escrituras às imagens dos primeiros cristãos, demonstrando que aquelas antigas incisões em pedra têm ainda hoje ressonância e significado, assim como o poder de unir os cristãos no seu credo em Cristo, na salvação e no paraíso.
Utro sublinha que a colecção Pio Cristã é o lugar ideal para a mostra: «A arte das origens cristãs é uma arte da Igreja indivisa, antes dos cismas». O curador sublinha ainda que «a arte foi também uma fonte de divisão entre os cristãos, desde a iconoclastia até os luteranos; este museu, portanto, é um lugar ideal para olhar a história comum, compartilhada pelos cristãos».
A formação, a vocação e a evangelização estão todas esplendidamente representadas por esta colecção, mas também por seu curador. A dedicação de Utro ao seu museu e a sua visão das grandes lições mostradas por imagens do cristianismo das origens são um exemplo da colocação em prática da própria vocação cristã.
Umberto Utro, 41 anos, é curador do Museu Pio-Cristão dos Museus Vaticanos desde 2003.
ROMA, quinta-feira, 26 de Abril de 2007
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