V Domingo do Tempo Comum
V DOMINGO TEMPO COMUM
ANO C
LC 5, 1-11
ANO C
LC 5, 1-11
Enquanto se encontra na Galileia, Jesus ensina junto ao lago de Genesaré. A multidão está admirada com este rabi, tão parecido com um profeta, dotado de uma autoridade tão extraordinária e tão diferente dos escribas (cf. Mc 1,22; Lc 4,32). E assim se forma em seu redor um grande grupo de pessoas ansiosas por ouvi-lo, a ponto de Jesus, para melhor se fazer perceber, recorrer a uma pequena estratégia prática: vendo duas barcas paradas sobre a margem do lago, pede ao proprietário de uma delas, Simão, para se afastar ligeiramente da terra; depois, sentando-se nela, recomeça a ensinar a todos aqueles que se encontravam na margem.
Terminada a pregação, Jesus dirige-se a Simão, iniciando com ele um diálogo que o marcará para sempre. Tudo começa com um repentino pedido de Jesus: «Faz-te ao largo (Duc in altum) e lança as redes para a pesca!» É um pedido que parece insensato porque Simão e os seus companheiros trabalharam toda a noite sem pescar nada e sabem muito bem que em pleno dia pesca-se muito pouco…. E, no entanto, Simão coloca de parte as suas certezas e responde sem hesitar: «Já que o dizes, lançarei as redes».
É uma afirmação extraordinária, que exprime o essencial da fé cristã: uma adesão confiante e profunda a Jesus, uma obediência à sua palavra, fundamento bem mais seguro do que qualquer outro nosso pensamento ou sentimento. «Tendo feito isto, apanharam tão grande quantidade de peixes que as redes começavam a romper-se»; Simão chama, então, em auxílio, Tiago e João, proprietários da outra barca, e as duas embarcações quase se afundam sob o abundante peso da pesca. Ao ver isto Simão «lançou-se aos pés de Jesus e grita: Senhor afasta-te de mim que sou um homem pecador!» É a mesma experiência de Isaías que, diante da santidade de Deus, não pode fazer outra coisa que exclamar: «Pobre de mim, homem impuro que viu o Senhor!» (cf. Is. 6,5). Sim, o autêntico encontro com Deus e com Jesus Cristo —aquele que nos narrou definitivamente Deus (cf. Jo 1,18)— coincide com a revelação ao homem da própria condição de pecador, ou seja, com a descoberta da abissal distância que o separa do Senhor, com a consciência de não ser santo…É a partir da tomada de consciência de tal distância, preenchida pelo amor proveniente do Senhor, que se abre a possibilidade de um novo caminho de conversão e de vida nova; não é por acaso que só agora Simão começa a ser chamado de Pedro, nome que lhe foi dado por Jesus para indicar a sua missão de ser a rocha sobre a qual fundará a comunidade (cf. Lc 6,14).
À vocação segue de imediato uma precisa missão confiada por Jesus a Simão Pedro: «Não temas, daqui em diante serás pescador de homens». Pedro vê transfigurada a própria existência: de pescador de peixes deve tornar-se pescador de pessoas, isto é capaz de conduzir homens e mulheres até ao Senhor. E esta promessa é-lhe dirigida exactamente enquanto ele confessa a própria indignidade, para provar que só graças à adesão ao Senhor ele poderá afastar todo o medo e cumprir aquilo que nunca conseguiria fazer com as suas próprias forças. É certo que Pedro faltará várias vezes à fidelidade ao Senhor, chegando até a negá-lo por três vezes; mas mesmo aí, no pranto, será capaz de se arrepender (cf. Lc 22, 54-62) e —arrependendo-se sempre por vontade do Senhor (cf. Lc 22,32) — voltará a confirmar os seus irmãos.
A narração conclui-se com uma anotação que, na sua brevidade, pode resumir o sentido de uma vida inteira: os três pescadores «conduzindo os barcos para terra, deixaram tudo e seguiram Jesus». Aqueles homens que dizem «sim» a Jesus e o seguem fazem isso a preço de uma escolha que implica claros e nítidos «nãos»: eles devem renunciar ao seu trabalho profissional, abandonar a família e a casa (cf. Lc 18,29). Estas renúncias, porém, têm o sentido de que nunca são vividas com a atitude de escravos forçados a levar um peso esmagador; não, eles podem ser assumidos em profundidade somente por quem aceita livremente nada antepor ao amor de Cristo, de «estar com ele» (cf. Mc 3,14) na certeza que «o seu amor vale mais que a vida» (cf. Sl 63,4). Foi assim com Pedro, Tiago, João e tantos outros no decurso da história; pode ser assim também hoje para cada um de nós.
Enzo Bianchi
Prior de Bose
(tradução de Mário Rui de Oliveira)
2 Comments:
Conheci o seu blog há alguns dias por indicação do padre António Manuel Alves Martins ( Dioc.do Algarve e prof. na UCP, sede).Tenho lido aqui vários escritos seu e confesso que a homilia que transcreve para o V Domingo do TC se apresenta de uma forma muito envolvente, profunda e ao mesmo tempo simples. É uma boa ajuda que dá aos seus leitores.
"Duc in altum..."
Álvaro Cruz da Silva, ofm
By Anónimo, at 4:30 da tarde
Possibilidade de link:
http://www.ecclesia.com.br/sinaxe/lucas1.htm
By Anónimo, at 11:27 da tarde
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