O Bom Pastor:

Formação do Clero da Arquidiocese de Braga

30.6.07

XIIIII Domingo do Tempo Comum


Ano C
Lc. 9, 51-62


Como seguir o Senhor Jesus, como caminhar «nas suas veredas» (cf. 1Ped 2,21)? Esta é a pergunta à qual o Evangelho de hoje responde.

O excerto abre com uma anotação importante: «Jesus endureceu o seu rosto para ir a Jerusalém». Inicia aqui a parte central do evangelho de Lucas, aquela na qual Jesus persegue o seu caminho para a cidade santa com extrema resolução, recolhendo todas as suas forças para fazer face às dificuldades que o esperam; ele sabe, com efeito, que «não é possível que um profeta morra fora de Jerusalém» (Lc 13,33). E não obstante o seu desejo de mostrar à cidade santa a via da paz, antes da paixão, não lhe ficará senão o pranto sobre ela, incapaz de reconhecer quem a visitava para lhe trazer a paz (cf. Lc 19, 41-44)…

Jesus envia antes de si alguns mensageiros encarregados de anunciar a sua passagem, mas estes, chegados a uma aldeia samaritana, são rejeitados por causa de uma antiga rivalidade religiosa entre judeus e samaritanos (cf. Jo 4,9). Nem sempre Jesus é acolhido com favor; aquilo que é certo, porém, é a sua vontade de não se vingar, de não reagir com violência ao insulto recebido. Mas esta não é a atitude espontânea dos seus discípulos que, representados por Tiago e João, os impetuosos «filhos do trovão» (Mc 3,17), queriam fazer descer um fogo do céu sobre quem os recusou. Eles podem apelar a um precedente ilustre: o profeta Elias tinha agido neste modo contra os seus adversários (cf. 2Rs 1,10.12). Não assim Jesus, que não quer opor hostilidade à hostilidade: ele vive radicalmente o amor pelo inimigo que ensina (cf. Lc 6,27-35), e assim mostra a quem o segue como não se deve nunca cair na terrível lógica da «reciprocidade»… O discípulo de Jesus Cristo é sempre e só chamado a fazer o bem, mesmo no confronto de quem o hostiliza.

Durante este caminho para Jerusalém dois «aspirantes discípulos» se propõem a Jesus, e um outro, chamado por ele, coloca-lhe condições preliminares. Atitudes inadequadas ao seguimento de Jesus, porque para assumir aquele caminho o que conta é escutar o chamamento de Jesus, acolhê-lo e obedecer-lhe, prontos a ir com ele mesmo onde não queremos, sem impedir as exigências que ele coloca: assim aconteceu, mesmo no meio de infidelidades e quedas, a quantos seguiram Jesus sobre a estrada da Galileia e da Judeia…

O primeiro individuo propõe-se dizendo, cheio de zelo: «Seguir-te-ei para onde quer que vás». Mas Jesus parece desencorajá-lo, insistindo sobre a sua condição itinerante, caracterizada pela precariedade própria de quem põe como metro último do seu agir apenas o Reino de Deus: «as raposas têm tocas e os pássaros do céu os seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça». Nenhuma presunção de si em quem quer seguir Jesus! Ao segundo é o próprio Jesus que dirige o seu chamamento, mas ouve responder: «Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar meu pai». Jesus porém não admite dilações e replica com uma palavra paradoxal: «Deixa que os mortos sepultem os mortos; tu vai e anuncia o Reino de Deus».

Ou, diante do chamamento não há sequer mais tempo para cumprir os deveres de piedade familiar (cf. Ex 20,12; Tb 4,3): é preciso dar o primado a Jesus, aqui e agora. Há, por fim, um terceiro que diz a Jesus: «Te seguirei, mas antes deixa que eu me despeça dos de casa». Elias tinha concedido isto a Eliseu (cf. 1Rs 19, 19-21), mas Jesus afirma: «Ninguém que meteu a mão ao arado e depois se vira para trás é digno para o Reino de Deus». A vida cristã é questão de resolução e de perseverança: resolução como necessária mobilização das energias para escolher e perseguir o objectivo, perseverança como fidelidade quotidiana até à morte. Devemos estar todos os dias «esquecidos do que está para trás e virados para o que está à frente» (fil 3,13), Jesus Cristo, que sempre nos precede no caminho para o Reino…

Jesus expôs com franqueza as exigências da sua sequela, válida para todos os cristãos. Como responder ao chamamento que nasce do seu amor por nós? Com o amor: amando Jesus acima de tudo, mais do que todo outro nosso amor (cf. Mt 10,37), e através dele os outros, mesmo os nossos inimigos. Mas para fazer isto é preciso considerar o Senhor Jesus como o tesouro precioso da nossa vida (cf. Mt 13,44) e considerar que vale a pena viver como ele viveu. De resto, ele disse-o claramente: «Quem quiser salvar a própria vida, há-de perdê-la; mas quem a perder por mim, salvar-se-á» (Lc 9,24).

Enzo Bianchi
Prior de Bose
[trad: mro]

1 Comments:

  • Aleluia!!!
    Parabéns, vamos em frente!
    Frei Álvaro

    By Anonymous Anónimo, at 7:50 da tarde  

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