O Bom Pastor:

Formação do Clero da Arquidiocese de Braga

5.3.07

Haverá ainda quem reze?

O tempo quaresmal olha para a oração como uma atitude a cultivar e a exercitar com maior intensidade. Mas nos dias que correm, perguntámo-nos se ainda há quem reze. Parece não haver tempo para a vida quanto mais para fazer uma paragem, mesmo que haja consciência que esta pausa seja também ela vida. Percebemos que os mais adultos têm esse belo costume de se recolher por uns instantes e, no seu coração, colocar o seu olhar sob a verdade da presença de Deus nas suas vidas. Mas quanto aos adolescentes e jovens não percebemos, de igual modo, esse recolher-se diante de Deus. Porque será que deixando a idade da infância, eles abandonam tão facilmente a prática da oração?
Se nos cristãos adultos a oração é expressão da intimidade, da relação afectiva, da elevação da alma, ou então do diálogo e conversa com Deus, porque será que o mesmo não o é nos adolescentes e jovens? Será a oração dos adultos muito exclusivista, centrada na pessoa que a faz, sem ser revelação de um amor vivido e também partilhado? Uma oração descomprometida, incapaz de vida convertida? Tudo isto leva ainda a outras questões: será que há realmente quem reze no sentido pleno da palavra? Ou seria melhor perguntar: como estamos nós a fazer oração?
O que realmente acontece é que para os adolescentes e jovens rezar é um peso. Parece não haver lugar para a relação ou para a intimidade. Rápida e tantas vezes mecânica a oração está desprovida de espírito, do sentido da relação, e sobretudo da proximidade e da presença de Deus. Pergunta-se então: o que faltará à oração da grande maioria dos homens?

Creio que não está a haver verdadeira transmissão do valor e sentido da oração, porque, se calhar e ao mesmo tempo, também não temos tido capacidade para fazer da oração comunitária o lugar educador para a confiança e familiaridade com Deus Pai. Há muito formalismo, muito ritualismo que, na maior parte das vezes, não chega ao coração. Descer ao coração e entrar no que é central à vida, há-de ser o trajecto da mente para estreitar e aprimorar a vida de amizade com Deus.
Sem descorar o que é ritual e sabendo da sua importância, não podemos deixar de introduzir no rito o dinamismo e a força de uma aventura arriscada no amor para chegarmos ao autêntico Amor; para escutarmos Aquele que nos fala ao coração; para vermos Deus a partir do nosso olhar interior; para que nos deixemos tocar e inundar da omnipresença de Deus. Falta-nos a sedução das palavras e o enlevo dos ritos. Falta-nos a beleza dos símbolos e a surpresa da música. Falta-nos a sensibilidade para fazer dos espaços de oração lugares apetitosos, lugares que dão sabor e gosto ao coração e à mente.

2 Comments:

  • E se o problema for exactamente o contrário: a perda de sentido do sagrado, o desprezo pelo hieratismo, a fuga ao transcendente?...

    By Anonymous Anónimo, at 2:29 da tarde  

  • E se a oração for mesmo uma questão de adultos, exigindo maturidade de fé e compromisso existencial?
    E se dos adolescentes e jovens não se deva esperar mais do que aprendizagem, exercitação, abertura de horizontes, familiarização com fórmulas e práticas, progressiva integração na comunidade?...

    By Anonymous Anónimo, at 2:40 da tarde  

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