No rescaldo do referendo
A propósito do comportamento do povo português – que se declara maioritariamente católico… – no referendo recentemente realizado, gostaria de colocar à consideração duas breves reflexões, orientadas para a pastoral.
1. Em primeiro lugar, a notável diferença de resultados, entre este escrutínio e o realizado anteriormente, mostra a crescente influência, sobretudo sobre as gerações mais jovens, de elementos determinantes da nossa cultura globalizadora. Tal como afirma a recente nota da Conferência Episcopal Portuguesa, “esta mutação cultural tem várias causas, nomeadamente: a mediatização globalizada das maneiras de pensar e das correntes de opinião; as lacunas na formação da inteligência, que o sistema educativo não prepara para se interrogar sobre o sentido da vida e as questões primordiais do ser humano; o individualismo no uso da liberdade e na busca da verdade, que influencia o conceito e o exercício da consciência pessoal; a relativização dos valores e princípios que afectam a vida das pessoas e da sociedade”. A participação comprometida de muitos jovens na campanha de esclarecimento revelou que estas influências não são absolutas nem irremediáveis. Mas não podemos ignorar que são determinantes. É com elas que a pastoral da Igreja – sobretudo a pastoral juvenil – tem que contar, se quer dar um contributo alternativo a um cultura que pode vir a prejudicar gravemente a humanidade dos humanos.
2. Em segundo lugar, a abstenção da maioria dos portugueses levanta questões de vária ordem, como a do desinteresse progressivo pelas coisas públicas, quando não se vê uma influência directa sobre os interesses privados. No campo da pastoral, tal realidade deveria fazer pensar a todos os agentes comprometidos. Será que temos trabalho suficientemente a dimensão política da fé cristã? Não reduziremos, demasiado, a transmissão da fé, em todas as modalidades, à sua pertinência individual e interior, quando muito eclesial ou «de sacristia»? Que grande número de católicos, chamados a pronunciar-se sobre assunto público tão significativo, prefira ficar comodamente em casa, porque nisso não vê qualquer proveito individual, é uma realidade que deveria impulsionar a um recentramento da actividade pastoral. A perda da dimensão da alteridade, que descentra cada crente em favor dos outros, sobretudo dos mais desprotegidos e dos que não têm voz, é algo grave, do ponto de vista cristão. Se o cristianismo não tiver suficiente pertinência sócio-política, perderá qualquer pertinência, pura e simplesmente.
João Duque
1. Em primeiro lugar, a notável diferença de resultados, entre este escrutínio e o realizado anteriormente, mostra a crescente influência, sobretudo sobre as gerações mais jovens, de elementos determinantes da nossa cultura globalizadora. Tal como afirma a recente nota da Conferência Episcopal Portuguesa, “esta mutação cultural tem várias causas, nomeadamente: a mediatização globalizada das maneiras de pensar e das correntes de opinião; as lacunas na formação da inteligência, que o sistema educativo não prepara para se interrogar sobre o sentido da vida e as questões primordiais do ser humano; o individualismo no uso da liberdade e na busca da verdade, que influencia o conceito e o exercício da consciência pessoal; a relativização dos valores e princípios que afectam a vida das pessoas e da sociedade”. A participação comprometida de muitos jovens na campanha de esclarecimento revelou que estas influências não são absolutas nem irremediáveis. Mas não podemos ignorar que são determinantes. É com elas que a pastoral da Igreja – sobretudo a pastoral juvenil – tem que contar, se quer dar um contributo alternativo a um cultura que pode vir a prejudicar gravemente a humanidade dos humanos.
2. Em segundo lugar, a abstenção da maioria dos portugueses levanta questões de vária ordem, como a do desinteresse progressivo pelas coisas públicas, quando não se vê uma influência directa sobre os interesses privados. No campo da pastoral, tal realidade deveria fazer pensar a todos os agentes comprometidos. Será que temos trabalho suficientemente a dimensão política da fé cristã? Não reduziremos, demasiado, a transmissão da fé, em todas as modalidades, à sua pertinência individual e interior, quando muito eclesial ou «de sacristia»? Que grande número de católicos, chamados a pronunciar-se sobre assunto público tão significativo, prefira ficar comodamente em casa, porque nisso não vê qualquer proveito individual, é uma realidade que deveria impulsionar a um recentramento da actividade pastoral. A perda da dimensão da alteridade, que descentra cada crente em favor dos outros, sobretudo dos mais desprotegidos e dos que não têm voz, é algo grave, do ponto de vista cristão. Se o cristianismo não tiver suficiente pertinência sócio-política, perderá qualquer pertinência, pura e simplesmente.
João Duque
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home