O Bom Pastor:

Formação do Clero da Arquidiocese de Braga

22.1.07

«A Palavra para viver»: Bruno Forte (3-4)


3. A Palavra faz-se carne

«E o Verbo se fez carne e habitou no meio de nós» (Jo 1, 14). O cumprimento da revelação, dom supremo do amor divino, é Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem por nós, a Palavra única, perfeita e definitiva do Pai, o qual n’Ele nos diz tudo e nos dá tudo. «Deus, que tinha já falado nos tempos antigos muitas vezes e de diversos modos aos pais por meio dos profetas, ultimamente, nestes dias, falou a nós por meio do Filho, que foi constituído herdeiro de todas as coisas e por meio do qual fez também o mundo» (Heb 1,1). Em Jesus os testemunhos do Primeiro Testamento adquirem e manifestam o seu pleno significado: «Toda a Escritura é um livro só e este livro é Cristo» (Hugo de São Vítor, A arca de Noé, II, 8). Nutrir-se da Escritura é alimentar-se de Cristo: «A ignorância das Escrituras —afirma S. Jerónimo— é ignorância de Cristo» (Comentário ao Profeta Isaías, PL 24, 17). Quem deseja viver de Cristo deve escutar incessantemente as divinas Escrituras, não excluindo nenhuma. É nelas que se revela a face do Amado, neste hoje que passa e no dia do amor sem fim: «O teu rosto, Senhor, eu procuro: procurar a face de Jesus deve ser o desejo ardente de todos nós cristãos… Se perseveramos no procurar o rosto do Senhor, no fim da nossa peregrinação terrena será Ele, Jesus, o nosso eterno gáudio, a nossa recompensa e gloria para sempre» (Bento XVI, Discurso de 1 de Setembro 2006 no Santuário da Santa Face de Manoppello).

4. O Espírito intérprete da Palavra

Como encontrar o Vivente no jardim das Escrituras, semelhante ao jardim do sepulcro? Para que nos aconteça o que aconteceu à mulher, cujos olhos foram abertos para reconhecer o Senhor Ressuscitado naquele que antes tinha sido confundido com o jardineiro (cf. Jo 20, 15), é necessário ser chamados pelo Amado, tocados pelo fogo do Seu Espírito: «O Consolador, o Espírito Santo que o Pai mandará em meu nome, ele vos ensinará todas as coisas e vos recordará tudo o que eu vos disse» (Jo 14, 26). O Espírito Santo, que guiou o povo eleito inspirando os autores das Sagradas Escrituras, abre o coração dos crentes à inteligência tudo o que nelas está contido. Assim a Escritura «cresce com aquele que a lê» (S. Gregório Magno, Homilias sobre Ezequiel, I, 7, 8). Nenhum encontro com a Palavra de Deus serás vivido, então, sem ter sido invocado, primeiramente, o Espírito, que abre o livro selado, movendo o coração e dirigindo-o para Deus, abrindo os olhos da mente e dando doçura no consentir e no acreditar na verdade (cf. Concilio Vaticano II, Constituição sobre a Divina Revelação, Dei Verbum, 5). É o Espírito que nos faz entrar em toda a Verdade através da porta da palavra de Deus, tornando-nos construtores e testemunhas da força libertadora que essa possui e que é assim necessária a um mundo no qual tantas vezes se perdeu o gosto e a paixão pela Verdade. Antes de ler as Escrituras, invoca sempre aquele que dá os dons, a luz dos corações: o Espírito Santo!